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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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apenas para divulgar suas pesquisas, mas para fazer política e discutir política. Suas formas de<br />

comunicação são abaixo-assinados, manifestações públicas, e-communication. Os mais jovens<br />

usam blogs 255 e wikies 256 para expressar sua voz. Existem blogs dedicados às políticas de<br />

C&T 257 , outros de militantes em favor da teoria da evolução 258 . Alguns pretendem<br />

desmascarar as “estratégias negacionistas” que tentam “confundir a compreensão pública da<br />

ciência” 259 , outros, ainda, “defendem o progresso” 260 .<br />

No Brasil, não faltam cientistas prestigiados que decidem se tornar figuras públicas,<br />

seja em favor de causas específicas – como é o caso da bióloga Mayana Zatz com as células-<br />

tronco – seja como divulgadores da ciência que não desprezam posicionar-se sobre temas<br />

importantes na agenda pública, como fazem o físico Marcelo Gleiser, o médico Drauzio<br />

Varella ou o biólogo Fernando Reinach.<br />

Em alguns casos, os cientistas colocam seu jaleco branco, símbolo do conhecimento<br />

puro, neutral e universal, a serviço de disputas políticas. Usam a objetividade dos artefatos<br />

científicos como arma resolutiva em um conflito de valores, negando (ou fingindo esquecer)<br />

que, por exemplo, a questão do direito ao aborto versus o direito do embrião à vida não se<br />

resolve estabelecendo cientificamente se o sistema nervoso de um embrião permite sentir a<br />

dor, ou ouvir sons. A decisão sobre o que significa direito à vida, e quem é o sujeito de direito,<br />

é somente parcialmente sobreposta à questão científica. Se o embrião ouvir sons, não é por<br />

isso que deixa de ser considerado, por alguns, um agrupamento de células, e não uma pessoa.<br />

Caso o embrião não ouça, não é por isso que alguns vão parar de considerar seu sacrifício<br />

igual a um homicídio.<br />

Na trama discursiva da <strong>tecnociência</strong> contemporânea emerge então um topos<br />

interessante: de que podem aparecer perigosos curtos-circuitos entre a science and technology<br />

policy (isto é, aquela que em língua portuguesa se chama de política de C&T, que regula a<br />

255<br />

Os blogs (ou blogues, ou weblogs) são páginas na Internet cujas atualizações (chamadas posts) são organizadas<br />

cronologicamente de forma inversa (como um diário). Foram inventados no final da década de 1990.<br />

256<br />

Um wiki é uma coleção de documentos hipertextuais criada usando um software colaborativo, que permite a edição<br />

coletiva dos documentos.<br />

257<br />

http://sciencepolicy.colorado.edu/prometheus/<br />

258<br />

http://scienceblogs.com/dispatches/about.php<br />

259<br />

http://scienceblogs.com/denialism/about.php<br />

260<br />

Nick Antis (“de dia”, especialista em estruturas protéicas e, de noite, “ativista científico”) dedica seu blog a<br />

“defender o progresso científico e social”. http://scienceblogs.com/scientificactivist/about.php. Impressionada por tanta<br />

produção, a revista Seed decidiu hospedar cerca de sessenta bloggers em seu “Science Blogs”, a “maior comunidade<br />

mundial on-line de discussão sobre ciência”, pois, declara a revista, “a ciência está conduzindo nossa conversação mais<br />

do que nunca [...] e começa a fazer parte de nossas discussões de política, religião, filosofia, negócios e artes”. Em:<br />

http://scienceblogs.com/channel/about.php (acesso em março de 2008, trad. minha).<br />

246

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