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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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Na contemporaneidade – mesmo levando em conta os questionamentos embaraçosos<br />

vindo dos estudos sociais da ciência, da epistemologia feminista ou do pensamento<br />

ambientalista – a pureza e a dureza dos fatos empíricos frente à subjetividade e politização<br />

ligadas à esfera da “crença”, dos valores e da “ideologia” continuam mantendo uma<br />

extraordinária força discursiva e um grande appeal para o ethos e o discurso dos<br />

tecnocientistas. A afirmação de que o conhecimento científico é fidedigno justamente por não<br />

ser político é extremamente comum. E os desvios de conduta (dados forjados, conflitos de<br />

interesse, comportamento não ético com pacientes ou animais etc.), cada vez mais<br />

freqüentemente divulgados na mídia, assustam os pesquisadores: se a ciência não consegue<br />

mostrar-se pura e estanque, a população pode deixar de confiar não somente nos cientistas,<br />

mas no próprio saber científico.<br />

3.7 A pureza como desinteresse<br />

No nebuloso campo semântico que abrange a “pureza” do conhecimento, há também uma<br />

conotação da pureza como desinteresse. <strong>As</strong> estratégias discursivas com que a ciência demarca<br />

seus confins e defende sua autoridade sempre oscilaram entre os extremos de uma<br />

dipolaridade: a ciência como conhecimento “por si mesmo” versus a ciência como instrumento<br />

para dominar a natureza e produzir técnicas para auxiliar a saúde, a riqueza, o trabalho do<br />

homem. No entanto, a imagem do cientista “puro” ou do filósofo natural como de uma figura<br />

afastada das coisas práticas, desinteressada das questões da vida cotidiana e somente<br />

interessada na busca apaixonada das “leis de natureza” sempre foi presente na representação<br />

popular.<br />

A idéia de estudar a natureza sem outros fins senão o conhecimento também esteve<br />

bastante enraizada no ethos e na auto-imagem dos cientistas, especialmente no período que<br />

segue a profissionalização da ciência e precede a afirmação da racionalidade neoliberal<br />

(grosso modo entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX).<br />

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