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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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isco” e na exposição pública da incerteza científica a possibilidade de “abrir os confins da<br />

política”, para liberar o governo e a esfera pública do “paternalismo da tecnocracia”. Na<br />

“modernização reflexiva” seria possível reduzir o elitismo e a concentração tecnocrática de<br />

poder graças às “sub-políticas híbridas” das novas redes e dos movimentos sociais.<br />

No entanto, para Irwin (2006), embora a “política da fala” tinha se tornado “moda<br />

internacionalmente, especialmente na Europa”, ela não representa a emergência de um novo<br />

paradigma de governança científica. Para Myanna Lahsen (2005), é verdade que o debate<br />

sobre <strong>tecnociência</strong> parece hoje mais alargado e dialógico. E, de fato, governos e empresas<br />

devem levar em conta grupos de pressão, ONGs, movimentos sociais. No entanto, diz a<br />

pesquisadora, estar expostos a opiniões contrastantes não necessariamente resulta numa<br />

cidadania mais informada, participativa e crítica. Além disso, a tomada de decisões políticas<br />

importantes continua sendo prerrogativa de grupos e instituições capazes de controlar a<br />

produção e circulação de informação: as “elites políticas e financeiras [...] gozam de uma<br />

possibilidade desproporcionada de influenciar a opinião pública e a tomada de decisão<br />

política” (Lahsen, 2005: p. 137-141), o que impede um empowerment autêntico, uma<br />

verdadeira democracia de baixo para cima.<br />

Para Gregory (2005), o fato de que o diálogo seja “o paradigma atual para recolher<br />

inteligência social” não implica que as companhias que interagem com consumidores, ONGs,<br />

moradores sejam aquelas que querem co-projetar, co-produzir ou co-gerir tecnologias e<br />

conhecimentos. De fato, dialoga mais quem mais teme boicotes, enquanto as empresas que<br />

consideram seus problemas resolúveis por meio das tradicionais public relations podem ser<br />

indiferentes a qualquer forma de engajamento público. Não é surpreendente, diz a autora, que<br />

“o lucro pareceu ser o mais importante fator determinante para as atitudes das empresas”.<br />

Analogamente, num survey efetuado com duzentos e sessenta e uma companhias químicas no<br />

Reino Unido (Carr, 2005), a vontade de engajamento resultou ser maior nas empresas que, de<br />

fato, já tinham relações com o público e que acreditavam que a opinião do público pudesse ter<br />

influência nos negócios. No entanto, as empresas que mais queriam “engajar” o público não<br />

eram necessariamente aquelas que tinham uma visão positiva deste: a necessidade<br />

mercadológica, contingente, de construir espaços de diálogo não está automaticamente<br />

relacionada à constituição de arenas concretas “upstream” (de baixo para cima), de<br />

participação social.<br />

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