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As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo e ... - CTeMe

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comunidade científica, para que possa ser testada, criticada, eventualmente falsificada,<br />

incorporada ao corpus de conhecimento.<br />

• Universalismo: tanto a forma, quanto a verdade ou falsidade, da Lei de Gravitação<br />

Universal não depende da cultura, religião, gênero, etnia de quem a formulou, nem de<br />

quem a testou: seu conteúdo e validade são universais.<br />

• Desinteresse: os cientistas buscam o conhecimento por si mesmo. Em troca obtêm o<br />

reconhecimento de seus pares, a fama, o prestígio acadêmico. A ciência busca<br />

conhecimento, não necessariamente ou diretamente ligado a um uso instrumental<br />

imediato.<br />

• Originalidade 90 : a proposta de um pesquisador passa a fazer parte do corpus de<br />

conhecimento que chamamos de científico caso ela seja, entre outras características,<br />

original.<br />

• Ceticismo: teorias, hipóteses, resultados experimentais são considerados como parte<br />

da ciência somente quando, ao menos em princípio, os representantes da comunidade<br />

científica os tenham estudado, entendido, testado. Cada nova proposta deve ser<br />

acolhida com ceticismo.<br />

Juntando as normas mertonianas num acrônimo, explica Ziman, se obtém a palavra CUDOS<br />

(Communism, Universalism, Desinterestedness, Originality, Skepticism), que têm pronúncia<br />

idêntica à palavra inglesa “kudos” (“prestígio”, “reconhecimento”). O cientista acadêmico,<br />

segundo Ziman (e Merton) trabalhava num contexto em que, caso ele seguisse bem tais<br />

normas do CUDOS, em troca ganharia o almejado “kudos”, o respeito de seus pares. Por<br />

contraste, o cientista industrial não buscava prestígio acadêmico e não tinha que obedecer<br />

necessariamente às normas de Merton. Em certo sentido, diz Ziman, a ciência industrial é<br />

quase a antítese da ciência acadêmica, porque tem contexto e objetivos diferentes. A ciência<br />

industrial, “muito esquematicamente, é proprietária, local, autoritária, comissionada, e expert”.<br />

Ela<br />

produz conhecimento proprietário, que não necessariamente é tornado público. Ela é<br />

focalizada em problemas técnicos locais, mais que em compreensão geral [da<br />

90 Vale a pena notar que, no artigo original onde formula as normas, Merton (1973) identifica as normas como sendo:<br />

Communism, Universalism, Disinterestedness, Organized Skepticism. A versão aqui proposta, contendo a busca da<br />

“Originalidade” como elemento do ethos científico, aparece em comentadores sucessivos, por exemplo o próprio<br />

Ziman (2000).<br />

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