20.04.2013 Views

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

“E Pinóquio, apesar <strong>de</strong> ser um miú<strong>do</strong> muito alegre, também fez um ar triste: porque<br />

quan<strong>do</strong> a miséria é mesmo miséria, até os miú<strong>do</strong>s a compreen<strong>de</strong>m.” (Ibi<strong>de</strong>m, p. 35)<br />

Neste último enuncia<strong>do</strong> <strong>de</strong>nota-se a preocupação <strong>de</strong> Collodi <strong>em</strong> tornar<br />

perceptível/compreensível mesmo o mais abstracto <strong>do</strong>s conceitos, ao reportar-se à panóplia<br />

<strong>de</strong> vivências <strong>do</strong>s leitores, <strong>em</strong>bora inexperientes, a qual po<strong>de</strong>mos, igualmente, inferir da<br />

passag<strong>em</strong> que se segue (Ibi<strong>de</strong>m, p. 73; negrito nosso.):<br />

“- A febre leva-te <strong>em</strong> poucas horas para o outro mun<strong>do</strong>.<br />

- Não tens me<strong>do</strong> da morte?”<br />

A visualização/percepção <strong>de</strong> situações que se afigur<strong>em</strong> familiares, tais como “a febre”,<br />

mais imediatas ao universo <strong>do</strong>s leitores, ocorre inesperadamente <strong>de</strong>marcada pelas<br />

coor<strong>de</strong>nadas textuais com valor distal, “o outro mun<strong>do</strong>”, antecipan<strong>do</strong> “a morte” e, <strong>de</strong> novo,<br />

dinamicamente repostas no <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> concreto, <strong>do</strong> “real”, explicita<strong>do</strong> na mesma página<br />

(Ibi<strong>de</strong>m, p. 73; Negrito nosso.):<br />

“...pois é bom que se saiba que os bonecos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira têm o privilégio <strong>de</strong><br />

a<strong>do</strong>eceram raramente e <strong>de</strong> se curar<strong>em</strong> num instante.”<br />

Efectivamente, a contraposição entre “este mun<strong>do</strong>” no espaço enunciativo, referência<br />

en<strong>do</strong>fórica, às extrapolações <strong>do</strong> narratário acerca <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> extratextual, exofórico, mais<br />

próximos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> circundante <strong>do</strong>s leitores, necessita <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>ícticos (Paul Werth<br />

1999: 184) para <strong>de</strong>finir os seus limites, ligan<strong>do</strong> o acto comunicativo a um el<strong>em</strong>ento da<br />

situação envolvente, evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> <strong>em</strong>:<br />

“Os verda<strong>de</strong>iros pobres <strong>de</strong>ste mun<strong>do</strong>, merece<strong>do</strong>res <strong>de</strong> auxílio e <strong>de</strong> compaixão, são<br />

só aqueles que, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à ida<strong>de</strong> ou à <strong>do</strong>ença, estão con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s a não po<strong>de</strong>r ganhar o pão<br />

com o trabalho das suas mãos.” (Ibi<strong>de</strong>m, p. 110; negrito nosso.)<br />

“Pois fica saben<strong>do</strong> que o hom<strong>em</strong>, quer nasça rico quer nasça pobre, t<strong>em</strong> obrigação <strong>de</strong><br />

fazer alguma coisa neste mun<strong>do</strong>, <strong>de</strong> ter uma ocupação, <strong>de</strong> trabalhar.” (Ibi<strong>de</strong>m, p. 118;<br />

negrito nosso.)<br />

“Mas eu sou um teimoso, um cabeçu<strong>do</strong>: <strong>de</strong>ixo-os falar e faço aquilo que me dá na<br />

gana. É claro que <strong>de</strong>pois pago as favas… Por isso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que estou neste mun<strong>do</strong> nunca<br />

tive um quarto <strong>de</strong> hora <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-estar.” (Ibi<strong>de</strong>m, p. 127; negrito nosso.)<br />

“Aquele pobre hom<strong>em</strong> há mais <strong>de</strong> quatro meses que anda pelo mun<strong>do</strong> à tua procura,<br />

e como não te conseguiu encontrar, agora meteu-se-lhe na cabeça ir procurar-te nos países<br />

distantes <strong>do</strong> Novo Mun<strong>do</strong>.” (Ibi<strong>de</strong>m, pp. 103-104; negrito nosso.)<br />

Por outro la<strong>do</strong>, o enuncia<strong>do</strong> que se segue enfatiza o espaço on<strong>de</strong> as personagens<br />

interag<strong>em</strong>, sen<strong>do</strong> intencionalmente baliza<strong>do</strong> pela combinação da preposição “<strong>em</strong>” com o<br />

<strong>de</strong>monstrativo “este”, aparent<strong>em</strong>ente distinto <strong>do</strong> espaço <strong>do</strong>s leitores, mas compreensível,<br />

121

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!