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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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Padrões e constrangimentos culturalmente valoriza<strong>do</strong>s<br />

A espontaneida<strong>de</strong> natural da expressão artística que todas crianças revelam no<br />

estádio pré-operatório é, no entanto, travada pela família e pela escola (Piaget, 1954),<br />

nomeadamente pelo sist<strong>em</strong>a tradicional <strong>de</strong> educação e <strong>de</strong> ensino que impõe a repetição<br />

com vista à obtenção <strong>do</strong> sucesso sufocan<strong>do</strong> a procura, a <strong>de</strong>scoberta, a espontaneida<strong>de</strong> e a<br />

curiosida<strong>de</strong>. A pressão adulta torna-se ameaça<strong>do</strong>ra, contrarian<strong>do</strong> as tendências artísticas<br />

naturais da criança e traduz-se frequent<strong>em</strong>ente num clima <strong>do</strong>gmático que se rege por<br />

padrões artísticos exigentes, avaliações constantes e um currículo que, muitas vezes,<br />

compromete o lugar das artes (e.g. Anning, 2003).<br />

No caso <strong>do</strong>s artistas com <strong>de</strong>ficiência mental, o défice cognitivo associa<strong>do</strong> a<br />

limitações na comunicação, competências académicas e autonomia pessoal (Mulick & Hale,<br />

1996) po<strong>de</strong>rão ter restringi<strong>do</strong> a interiorização <strong>do</strong>s constrangimentos à expressão simbólica<br />

natural, o que favorece a natural liberda<strong>de</strong> expressiva característica <strong>do</strong> estádio préoperatório<br />

<strong>em</strong> que muitos <strong>de</strong>stes artistas se encontram. Deste mo<strong>do</strong>, a pressão para a<br />

reprodução fiel e perfeita <strong>do</strong>s objectos da ilustração parece não ter si<strong>do</strong> interiorizada por<br />

estes artistas e por isso não surtiu o efeito adverso que a escolarida<strong>de</strong> geralmente impõe às<br />

crianças, jovens e adultos com um funcionamento cognitivo médio ou superior.<br />

A ilustração é uma forma <strong>de</strong> herança cultural, ou seja, um m<strong>em</strong>e na acepção <strong>de</strong><br />

Dawkins (1976), que traduz por imagens e/ou palavras uma i<strong>de</strong>ia ou acontecimento com<br />

valor estético e ético e que é passa<strong>do</strong> <strong>de</strong> geração <strong>em</strong> geração. No caso <strong>do</strong>s artistas com<br />

<strong>de</strong>ficiência mental, os m<strong>em</strong>es a que foram expostos pelos contextos <strong>de</strong> educação formal e<br />

não-formal também parec<strong>em</strong> ter si<strong>do</strong> diferentes. Ten<strong>do</strong> os currículos académicos si<strong>do</strong> mais<br />

fragmenta<strong>do</strong>s, limita<strong>do</strong>s, e consequent<strong>em</strong>ente, limitativos, e as fontes <strong>de</strong> acesso à<br />

informação inusitadas, a construção <strong>do</strong> conhecimento <strong>de</strong>stes artistas a partir <strong>do</strong>s m<strong>em</strong>es da<br />

sua geração foi peculiar e necessariamente original.<br />

A originalida<strong>de</strong>, um <strong>do</strong>s critérios mais relevantes na <strong>de</strong>finição da criativida<strong>de</strong>, refere-se<br />

à infrequência estatística (e.g. Torrance, 1962) e, por isso, qu<strong>em</strong> produz algo raro é<br />

necessariamente inédito. Nesta acepção, a interiorização <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> conhecimento<br />

diferentes por parte das pessoas com <strong>de</strong>ficiência mental é responsável por produtos<br />

originais e invulgares. Um outro critério implícito na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> pren<strong>de</strong>-se com<br />

a flexibilida<strong>de</strong> que se reporta ao número <strong>de</strong> categorias <strong>do</strong> conhecimento evocadas<br />

(Torrance, 1962). Na medida <strong>em</strong> que a organização <strong>do</strong> conhecimento nestes artistas se<br />

rege por padrões diferentes, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evocar<strong>em</strong> na ilustração objectos ou i<strong>de</strong>ias<br />

menos previsíveis também é maior. Presumivelmente, as suas ilustrações po<strong>de</strong>m<br />

proporcionar um senti<strong>do</strong> pouco frequente, inespera<strong>do</strong>, imprevisível e acrescentar algo <strong>de</strong><br />

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