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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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Tensing e Dil Bahadur dirigiram-se para a sua ermida na montanha. (…) Antes <strong>de</strong><br />

mergulhar<strong>em</strong> na meditação, salmodiaram Om mani padme hum durante uns quinze minutos<br />

e <strong>de</strong>pois rezaram pedin<strong>do</strong> clareza mental para enten<strong>de</strong>r o estranho sinal que tinham visto no<br />

céu. Entraram <strong>em</strong> transe e os seus espíritos aban<strong>do</strong>naram os corpos para <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r a<br />

viag<strong>em</strong>. (…) Permaneceram imóveis por alguns instantes, dan<strong>do</strong> t<strong>em</strong>po à alma, que tinha<br />

esta<strong>do</strong> longe, <strong>de</strong> se instalar novamente na realida<strong>de</strong> da ermida on<strong>de</strong> viviam. No seu transe<br />

tiveram ambos visões s<strong>em</strong>elhantes e nenhuma explicação se tornou necessária.<br />

– Suponho, mestre que ir<strong>em</strong>os <strong>em</strong> auxílio da pessoa que nos enviou a águia branca –<br />

disse o príncipe (…)<br />

– Como a encontrar<strong>em</strong>os?<br />

– Possivelmente a águia guiar-nos-á” (Allen<strong>de</strong>, 2003:165-166).<br />

Em O Bosque <strong>do</strong>s Pigmeus (2004), mais ainda <strong>do</strong> que no segun<strong>do</strong> livro, Nadia e<br />

Alexandre <strong>de</strong>stacam-se como <strong>do</strong>is jovens cujas capacida<strong>de</strong>s se revelam merece<strong>do</strong>ras <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> mérito. Ambos mostram, na selva africana, uma gran<strong>de</strong> predisposição e tenacida<strong>de</strong><br />

na aplicação das suas aprendizagens, <strong>de</strong>correntes das suas anteriores vivências, quer na<br />

selva Amazónica, quer nos Himalaias.<br />

Já na capital <strong>do</strong> Quénia, on<strong>de</strong> o merca<strong>do</strong> se traduz pelo espaço festivo da diversida<strong>de</strong>,<br />

da cor e <strong>do</strong>s aromas, até ao coração da selva, o narra<strong>do</strong>r não se cansa <strong>de</strong> aludir aos<br />

encantos <strong>de</strong> África, rica pelo seu misticismo cultural e ancestral. Des<strong>de</strong> logo, o leitor mais<br />

jov<strong>em</strong>, atento e reflexivo, <strong>de</strong>para-se com uma realida<strong>de</strong> oposta aos princípios inerentes ao<br />

mun<strong>do</strong> histórico e <strong>em</strong>pírico-factual, mas que aqui se ajusta perfeitamente ao circundante.<br />

Qu<strong>em</strong> falaria <strong>de</strong> África s<strong>em</strong> aludir aos seus encantos ritualistas e pr<strong>em</strong>onitórios? É fácil<br />

compreen<strong>de</strong>r que não se trata, apenas, <strong>de</strong> mais um pormenor para enriquecer a<br />

complexida<strong>de</strong> ficcional <strong>do</strong> texto. Na verda<strong>de</strong>, a autora revela uma preocupação, que lhe é já<br />

peculiar, e que se caracteriza pelo gosto da <strong>de</strong>scrição pormenorizada <strong>de</strong> outras realida<strong>de</strong>s e<br />

culturas.<br />

Parec<strong>em</strong>-nos igualmente fortes e merece<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> uma reflexão, <strong>em</strong>bora breve, as<br />

metáforas <strong>do</strong> jaguar e da águia, presentes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro livro, pois estas, muito mais <strong>do</strong><br />

que retratar uma i<strong>de</strong>ntificação puramente simbólica <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is jovens aos seus animais<br />

totémicos (como acontecia nos <strong>do</strong>is tomos anteriores) mostram, agora, a sua força vital,<br />

numa <strong>de</strong>terminação e maturação que ultrapassa, inclusive, a consciência <strong>do</strong> ser. S<strong>em</strong>pre<br />

que os <strong>do</strong>is jovens (porta<strong>do</strong>res da heroicida<strong>de</strong> à qual ascen<strong>de</strong>ram por mérito próprio) se<br />

sent<strong>em</strong> <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> corag<strong>em</strong> ou <strong>de</strong>rruba<strong>do</strong>s pela impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vencer mais uma<br />

etapa para a reposição da or<strong>de</strong>m, estes recorr<strong>em</strong>, pela crença, pela experiência adquirida e<br />

pela confiança, ao seu animal totémico, que mais não é <strong>do</strong> que a imag<strong>em</strong> visível da sua<br />

força, entrega e vonta<strong>de</strong> <strong>em</strong> repor a or<strong>de</strong>m.<br />

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