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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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Estamos, na verda<strong>de</strong>, <strong>em</strong> presença <strong>de</strong> um povo no qual se não vê já o Outro, mas um<br />

Mesmo <strong>de</strong> nós próprios.<br />

Pelo contrário, nas Viagens Aventurosas <strong>de</strong> Felício e Felizarda ao Pólo Norte, são as<br />

diferenças, <strong>de</strong> natureza física, <strong>em</strong> primeiro lugar, e só <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong> carácter civilizacional que<br />

condicionam a observação <strong>do</strong> Outro. As primeiras apenas espelham cânones distintos <strong>de</strong><br />

beleza, como se percebe no excerto que se segue:<br />

“As suas caras largas e chatas, os olhos pequenos, a boca rasgada e um nariz que<br />

não é muito gran<strong>de</strong> não os faz apresentar ao nosso artístico como criaturas <strong>de</strong> graça e <strong>de</strong><br />

beleza 10<br />

”<br />

As segundas <strong>de</strong>nunciam o gesto <strong>de</strong>preciativo <strong>de</strong> um povo que também pelos hábitos<br />

<strong>de</strong> higiene afirma a sua superiorida<strong>de</strong>:<br />

“S<strong>em</strong>pre besunta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> óleo e <strong>de</strong> gordura, o seu cheiro é particularmente repugnante,<br />

porque este pobre povo inferior não t<strong>em</strong> a noção <strong>do</strong> mais el<strong>em</strong>entar asseio 11<br />

”.<br />

A viag<strong>em</strong> <strong>de</strong> regresso marca, por isso, a entrada “na gran<strong>de</strong> civilização ”. A<br />

especificida<strong>de</strong> das terras percorridas confere a estas duas narrativas características b<strong>em</strong><br />

diversas, com repercussões no próprio esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> espírito <strong>de</strong> Felício e Felizarda. À<br />

exuberância e profusão das terras brasileiras faz-se correspon<strong>de</strong>r um ritmo narrativo mais<br />

acelera<strong>do</strong>, a contrastar com a quase suspensão t<strong>em</strong>poral ou o estatismo <strong>em</strong> que parece<br />

<strong>de</strong>correr a acção na imensidão gelada da Antárctida:<br />

“E assim ia <strong>de</strong>corren<strong>do</strong> o t<strong>em</strong>po, com poucas alterações e novida<strong>de</strong>s, além da caça ou<br />

da pesca, o que, no fim <strong>de</strong> contas, à força <strong>de</strong> repeti<strong>do</strong>, também se tornava monótono.<br />

A vida na colónia era esperar, <strong>de</strong>ixar correr o t<strong>em</strong>po até chegar o sol, e com ele a<br />

estação própria para continuar<strong>em</strong> os trabalhos <strong>de</strong> exploração. 13<br />

”<br />

E, no entanto, é nesta obra que, <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista textual, a passag<strong>em</strong> <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po se<br />

faz com maior precisão, com referência a alguns <strong>do</strong>s seus meses mais marcantes. Maio<br />

assinala a chegada à Terra Nova; Set<strong>em</strong>bro obriga à interrupção na viag<strong>em</strong> <strong>de</strong> exploração<br />

científica e, <strong>em</strong> Nov<strong>em</strong>bro, dia e noite convert<strong>em</strong>-se num só. Janeiro é o prenúncio <strong>do</strong>s bons<br />

dias <strong>de</strong> Fevereiro, o regresso <strong>do</strong> sol, após o qual se presume também o regresso à Pátria.<br />

9<br />

N’ A Minha Pátria vai-se ainda mais longe nesta ligação visceral com o Brasil quan<strong>do</strong> a Mãe afirma a Jorge que<br />

“Se por uma tr<strong>em</strong>enda fatalida<strong>de</strong>, o nosso país, a nossa língua, a nossa história, pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> <strong>de</strong>saparecer<br />

completamente da m<strong>em</strong>ória humana, bastava que ficasse o Brasil, esse gran<strong>de</strong> e magnífico país para que o<br />

nome, a língua e a história <strong>de</strong> Portugal, foss<strong>em</strong> recorda<strong>do</strong>s e, frequent<strong>em</strong>ente, com respeito.”pp. 275-276. A<br />

Minha Pátria, que data <strong>de</strong> 1906, é também uma obra <strong>de</strong> Ana <strong>de</strong> Castro Osório, <strong>de</strong>dicada ao estu<strong>do</strong> da História<br />

<strong>de</strong> Portugal para uso nas escolas. Foi aprovada <strong>em</strong> concurso pela Comissão Especial <strong>do</strong>s Livros e pelo<br />

Conselho Superior <strong>de</strong> Instrução Pública para Prémios Escolares.<br />

10<br />

Viagens Aventurosas <strong>de</strong> Felício e Felizarda ao Pólo Norte, op. cit., p. 65.<br />

11<br />

i<strong>de</strong>m.<br />

12<br />

i<strong>de</strong>m, p. 92.<br />

13<br />

i<strong>de</strong>m, p.71.<br />

12<br />

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