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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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Na perspectiva enunciada, e no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> dar a conhecer algumas linhas <strong>de</strong> um<br />

universo singular <strong>de</strong> escrita, <strong>de</strong>ixar<strong>em</strong>os ecos <strong>de</strong> algumas obras <strong>de</strong> um autor cuja voz<br />

mostra a força e a leveza da palavra. Falamos <strong>de</strong> Álvaro Magalhães.<br />

Álvaro Magalhães, nasci<strong>do</strong> no Porto, <strong>em</strong> 1951, constitui hoje uma referência no<br />

panorama literário português, com um significativo número <strong>de</strong> obras no universo<br />

comummente <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> por Literatura para a Infância e Juventu<strong>de</strong>. A sua obra<br />

reparte-se pela narrativa <strong>de</strong> ficção, pela poesia e pelo texto dramático. Viu já<br />

pr<strong>em</strong>iadas algumas das suas obras, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da sua carreira, nomeadamente<br />

Uma história com muitas letras, O menino chama<strong>do</strong> menino, Isto é que foi ser!,<br />

Histórias pequenas <strong>de</strong> bichos pequenos, O hom<strong>em</strong> que não queria sonhar e outras<br />

histórias. Em 2002, obteve o Gran<strong>de</strong> Prémio Calouste Gulbenkian <strong>de</strong> Literatura para<br />

Crianças e Jovens, na modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> texto literário, com o livro Hipopótimos – uma<br />

história <strong>de</strong> amor.<br />

Álvaro Magalhães é um artífice da palavra, um ama<strong>do</strong>r, no senti<strong>do</strong> daquele que<br />

cuida s<strong>em</strong> limite, e com toda a ternura, da coisa amada: a palavra. Palavra essa que<br />

acaricia e limpa da corrosão quotidiana, até lhe <strong>de</strong>volver essa capacida<strong>de</strong> única e<br />

prodigiosa <strong>de</strong> criar mun<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar senti<strong>do</strong>s, num hábil e peculiar jogo <strong>de</strong> luz e<br />

sombra, marca<strong>do</strong> pelo humor e pela força <strong>do</strong> imaginário. É este ofício, <strong>de</strong> carícia feito<br />

e <strong>de</strong> sonho teci<strong>do</strong>, que está na voz <strong>de</strong>ste sujeito poético que se assume como um<br />

limpa-palavras:<br />

“O limpa-palavras<br />

Limpo palavras./ Recolho-as à noite, por to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>:/ a palavra bosque, a palavra<br />

casa, a palavra flor./ Trato <strong>de</strong>las durante o dia/ enquanto sonho acorda<strong>do</strong>./ A palavra<br />

solidão faz-me companhia.<br />

Quase todas as palavras/ precisam <strong>de</strong> ser limpas e acariciadas:/ a palavra céu, a<br />

palavra nuv<strong>em</strong>, a palavra mar./ Algumas têm mesmo <strong>de</strong> ser lavadas,/ é preciso rasparlhes<br />

a sujida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s dias/ e <strong>do</strong> mau uso./ Muitas chegam <strong>do</strong>entes,/ outras simplesmente<br />

gastas, estafadas, <strong>do</strong>bradas pelo peso das coisas/ que traz<strong>em</strong> às costas.<br />

A palavra pedra pesa como uma pedra./ A palavra rosa espalha perfume no ar./ A<br />

palavra árvore t<strong>em</strong> folhas, ramos altos./ Po<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scansar à sombra <strong>de</strong>la./ A palavra<br />

gato espeta as unhas no tapete./ A palavra pássaro abre as asas para voar./ A palavra<br />

coração não pára <strong>de</strong> bater./ Ouve-se a palavra canção./ A palavra vento levanta os<br />

papéis no ar/ e é preciso fechá-la na arrecadação.<br />

No fim <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> voltam os olhos para a luz/ e vão para longe,/ leves palavras<br />

voa<strong>do</strong>ras/ s<strong>em</strong> nada que as prenda à terra,/ outra vez nascidas pela minha mão:/ a<br />

palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.<br />

A palavra obriga<strong>do</strong> agra<strong>de</strong>ce-me./ As outras, não./ A palavra a<strong>de</strong>us <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>-se. /<br />

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