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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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originan<strong>do</strong> no leitor a imediata rejeição da i<strong>de</strong>ia preconceituosa <strong>de</strong> que só o que pertence<br />

aos <strong>do</strong>gmas da nossa socieda<strong>de</strong> é correcto e inquestionável.<br />

Num continente como África, on<strong>de</strong> as riquezas étnica, cultural e religiosa não po<strong>de</strong>m<br />

dissociar-se s<strong>em</strong> que haja um <strong>de</strong>sfavorecimento global da relação hom<strong>em</strong>/natureza, Isabel<br />

Allen<strong>de</strong> privilegia sobretu<strong>do</strong>, no seu texto, as alusões à aproximação da ciência e da crença,<br />

o que, no seu enten<strong>de</strong>r, possibilita uma melhor compreensão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e <strong>do</strong>s outros.<br />

Marco relevante <strong>de</strong>stas narrativas, essencialmente das primeira e terceira, é, ainda, o<br />

processo <strong>de</strong> consciencialização ecológico-ambiental e sócio-cultural que se <strong>de</strong>staca da<br />

aventura <strong>do</strong>s heróis. A ilegal extracção <strong>de</strong> recursos naturais, o uso <strong>de</strong>sapropria<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

mesmos, b<strong>em</strong> como a promiscuida<strong>de</strong> exercida sobre os índios e os pigmeus é<br />

a<strong>de</strong>quadamente retratada. Na verda<strong>de</strong>, ciente <strong>do</strong>s graves probl<strong>em</strong>as ambientais e culturais<br />

que a ambição <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> causa nas diversas regiões <strong>de</strong> África e da Amazónia, Isabel<br />

Allen<strong>de</strong> faz uso da sua voz e reporta, assim, uma outra responsabilida<strong>de</strong> à literatura juvenil.<br />

Provocan<strong>do</strong> o <strong>do</strong>m da partilha, no propósito <strong>de</strong> criar os necessários laços <strong>de</strong><br />

afectivida<strong>de</strong> entre o leitor e o seu texto, a escritora a<strong>do</strong>pta um diálogo franco e simbólico,<br />

forte <strong>em</strong> estímulos e competências cognoscitivas, capaz <strong>de</strong> exigir <strong>do</strong> seu leitor uma reflexão<br />

inteligente e assertiva, apoiada <strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos mítico-simbólicos e da realida<strong>de</strong> pragmática.<br />

Tal mestria enriquece a sua escrita e, a nosso ver, é b<strong>em</strong> <strong>do</strong> gosto daqueles que não se<br />

pren<strong>de</strong>m exclusivamente às <strong>leitura</strong>s que recusam retratar, na coerência <strong>do</strong> pragmáticofactual,<br />

uma realida<strong>de</strong> que não a nossa.<br />

Fica-nos pois a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> também nós subirmos para o carrossel das histórias e<br />

(numa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> recreação) compreen<strong>de</strong>rmos as palavras, os senti<strong>do</strong>s e as i<strong>de</strong>ias que<br />

consolidam os <strong>em</strong>ocionantes momentos que viv<strong>em</strong>os junto <strong>do</strong>s protagonistas, apostan<strong>do</strong><br />

fort<strong>em</strong>ente no sucesso <strong>do</strong>s seus <strong>em</strong>preendimentos, meras metáforas <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s mitos da<br />

Humanida<strong>de</strong>. Assim, preten<strong>de</strong>mos, <strong>em</strong> jeito <strong>de</strong> uma breve reflexão, mostrar como este<br />

género <strong>de</strong> <strong>leitura</strong>s po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser objecto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> nas nossas escolas.<br />

Afastan<strong>do</strong>-nos <strong>do</strong> conceito das “escolas-fábrica”, obstinadamente alicerçadas no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento cognitivo da “criança real”, que a faz<strong>em</strong> “cumprir e superar etapas ou fases<br />

<strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com mo<strong>de</strong>los pré-estabeleci<strong>do</strong>s que se baseiam [exclusivamente]<br />

<strong>em</strong> saberes científicos” (Araújo; Araújo:2008), propomos uma reflexão sobre as várias<br />

t<strong>em</strong>áticas vigentes nesta trilogia ou <strong>em</strong> obras s<strong>em</strong>elhantes. Saben<strong>do</strong> <strong>de</strong> ant<strong>em</strong>ão que o<br />

esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> fruição, partilha, maturação e <strong>de</strong>terminação por parte <strong>do</strong> leitor investi<strong>do</strong>r estão<br />

assegura<strong>do</strong>s se o media<strong>do</strong>r da <strong>leitura</strong> <strong>de</strong>ixar brotar a mensag<strong>em</strong> <strong>do</strong>s mitos e procurar<br />

enten<strong>de</strong>r a “Criança arquetípica” que ele próprio alberga, sugerimos que o trabalho seja <strong>de</strong><br />

to<strong>do</strong>s e que se ouse fazer.<br />

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