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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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Com<strong>em</strong>orámos há três anos o bicentenário <strong>do</strong> nascimento <strong>de</strong> An<strong>de</strong>rsen.<br />

Efectivamente, o escritor dinamarquês nasceu a 2 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1805. Os 70 anos da sua<br />

vida <strong>de</strong>corr<strong>em</strong>, pois, durante o século XIX – o qual representa o apogeu da era romântica,<br />

com a consolidação da socieda<strong>de</strong> liberal e burguesa.<br />

Não é fácil – ainda hoje – <strong>de</strong>finir <strong>em</strong> breves palavras o que foi o Romantismo. E,<br />

como não quero ser <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> cansativo, não vou entrar por esse campo. Até porque<br />

to<strong>do</strong>s conhec<strong>em</strong>os as características fundamentais <strong>de</strong>ste perío<strong>do</strong> da história e da cultura<br />

da humanida<strong>de</strong>. O que me parece interessante é, <strong>em</strong> primeiro lugar, perceber a relação<br />

entre o Romantismo (entendi<strong>do</strong> como um largo movimento cultural) e a literatura infantil;<br />

<strong>em</strong> segun<strong>do</strong> lugar, e <strong>em</strong> estreita ligação com o que acabei <strong>de</strong> referir, enten<strong>de</strong>r o “novo”<br />

estatuto concedi<strong>do</strong> à criança por força das transformações ocorridas neste perío<strong>do</strong>; e por<br />

último, equacionar tu<strong>do</strong> isto ten<strong>do</strong> como ponto <strong>de</strong> perspectiva a obra <strong>de</strong> Hans Christian<br />

An<strong>de</strong>rsen, nomeadamente os seus contos, que hoje incluímos no cânone da literatura para<br />

crianças. Por isso, o título <strong>de</strong>sta comunicação é “Os contos <strong>de</strong> H. C. An<strong>de</strong>rsen: uma visão<br />

romântica da infância”.<br />

Com o Romantismo, a literatura para crianças ganhou um novo estatuto no<br />

polissist<strong>em</strong>a literário, passan<strong>do</strong> a ser reconhecida pela metalinguag<strong>em</strong> da chamada<br />

“literatura canónica” 1 . Há, na verda<strong>de</strong>, uma boa série <strong>de</strong> razões explicativas para que,<br />

neste perío<strong>do</strong>, a literatura infantil tenha adquiri<strong>do</strong> o reconhecimento que, implícita ou<br />

explicitamente, lhe tinha si<strong>do</strong> recusa<strong>do</strong> pelas poéticas aristotélicas e horacianas e por<br />

todas as outras <strong>de</strong>las <strong>de</strong>rivadas 2<br />

. Sucintamente, po<strong>de</strong>mos reunir essas razões <strong>em</strong> <strong>do</strong>is<br />

grupos. O primeiro <strong>de</strong>les diz respeito às transformações en<strong>do</strong>ssistémicas, ocorridas no<br />

estrito <strong>do</strong>mínio literário, e o segun<strong>do</strong> às transformações exossistémicas, isto é, a to<strong>do</strong> o<br />

tipo <strong>de</strong> alterações ocorridas quer no advento, quer durante o século XIX, fora <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a literário, mas que com ele estabelec<strong>em</strong> relações mais ou menos<br />

directas e evi<strong>de</strong>ntes.<br />

Explicitan<strong>do</strong> melhor estas i<strong>de</strong>ias, convém clarificar, antes <strong>de</strong> mais, que a teoria<br />

clássica, <strong>de</strong> carácter <strong>do</strong>gmático, assentava sobre a concepção, genuinamente<br />

3<br />

aristotélica, <strong>do</strong>s géneros literários como características "naturais" e, por isso, int<strong>em</strong>porais.<br />

Eis como García Berrio, servin<strong>do</strong>-se das palavras <strong>de</strong> E. Cassirer, se refere a esta questão:<br />

“La cuestión <strong>de</strong> la estética clásica se dirigía en primer lugar a la obra <strong>de</strong> arte, que se<br />

trataba como una obra <strong>de</strong> la naturaleza y se procuraba conocer con recursos análogos.<br />

1<br />

Cf. SILVA, Vítor Manuel Aguiar e, “Nótula sobre o conceito <strong>de</strong> Literatura Infantil”, in: SÁ, Domingos<br />

Guimarães <strong>de</strong>, A Literatura Infantil <strong>em</strong> Portugal, Braga, Edições da Editorial Franciscana, 1981, p.13.<br />

2<br />

Cf. Id., Ibi<strong>de</strong>m.<br />

3<br />

“Duas causas, e ambas naturais, geraram a poesia” (ARISTÓTELES, Poética, 1448b – Sublinha<strong>do</strong> nosso). É,<br />

efectivamente, o pressuposto que os géneros são naturais que conduz à afirmação da sua int<strong>em</strong>poralida<strong>de</strong>.<br />

227

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