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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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Portanto, (re)afirmamos que “os signos <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> e significam no interior <strong>de</strong> relações<br />

sociais, entre seres socialmente organiza<strong>do</strong>s; para estudá-los é indispensável situá-los nos<br />

processos sociais globais que lhe dão significação” (Faraco, 2006, p. 48).<br />

Para o pensamento <strong>do</strong> Círculo <strong>de</strong> Bakhtin, assim como o <strong>de</strong> Vygotski, os seres<br />

humanos não têm relações diretas, não mediadas, com a realida<strong>de</strong>, porque todas as<br />

relações com as condições <strong>de</strong> existência só acontec<strong>em</strong> quan<strong>do</strong> há mediação s<strong>em</strong>iótica. De<br />

acor<strong>do</strong> com Faraco (2006, p. 48), “viv<strong>em</strong>os, <strong>de</strong> fato, num mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> linguagens, signos e<br />

significações”.<br />

A linguag<strong>em</strong> apresenta-se como um real enforma<strong>do</strong> numa matéria significante, isto é,<br />

a realida<strong>de</strong> da vida só t<strong>em</strong> senti<strong>do</strong> para o ser humano quan<strong>do</strong> s<strong>em</strong>ioticiza<strong>do</strong>. Acrescenta-se<br />

a esta afirmação a dimensão axiológica, pois a nossa existência no mun<strong>do</strong> é norteada por<br />

valores. O enuncia<strong>do</strong> se fazen<strong>do</strong> no contexto da dinâmica histórica da comunicação, num<br />

duplo movimento: “como réplica ao já dito e também sob o condicionamento da réplica ainda<br />

não dita, mas já solicitada e prevista, já que ele enten<strong>de</strong> o universo da cultura como um<br />

gran<strong>de</strong> e infinito diálogo” (Faraco, 2006, p. 42).<br />

Para além <strong>de</strong> uma concepção inova<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> alfabetizar e letrar, convém ressaltar que a<br />

escrita é mediação s<strong>em</strong>iótica e, portanto, social por excelência. De acor<strong>do</strong> com Smolka<br />

(1993, p. 61), a construção <strong>do</strong> conhecimento sobre a escrita: [...] se processa no jogo das<br />

representações sociais, das trocas simbólicas, <strong>do</strong>s interesses circunstanciais e políticos; é<br />

permeada pelos usos, pelas funções e pelas experiências sociais <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> e <strong>de</strong><br />

interação verbal. Nesse processo, o papel <strong>do</strong> “outro”como constitutivo <strong>do</strong> conhecimento é da<br />

maior relevância e significa<strong>do</strong> (o que o outro me diz ou <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> me dizer é constitutivo <strong>do</strong><br />

meu conhecimento).<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> essas reflexões, imediatamente a charge (ver Figura 1) foi levada pela<br />

professora para a sala <strong>de</strong> aula e exposta na pare<strong>de</strong>. Os alunos passaram por ela e apenas<br />

exclamaram: “Olha o nosso Pinóquio!”. A relação estética estabelecida com o personag<strong>em</strong><br />

Pinóquio pelas crianças revelou que o reconhecimento <strong>do</strong> mesmo vinha acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

entusiasmo e <strong>em</strong>oção, pois, ao passar<strong>em</strong> pela charge exposta <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula, não se<br />

<strong>de</strong>tiveram ao <strong>de</strong>talhe das iniciais inseridas no chapéu da marionete, b<strong>em</strong> como com a<br />

expressão “Que s<strong>em</strong>ana...”. Ao afetar-se com a não <strong>leitura</strong> da charge – a não <strong>leitura</strong> da<br />

imag<strong>em</strong>; a imag<strong>em</strong> como não signo – pelos alunos, a professora mobilizou estratégias que<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aram num trabalho inusita<strong>do</strong> e rico, capaz <strong>de</strong> fazer refletir sobre os processos <strong>de</strong><br />

criação, <strong>de</strong> ensinar e <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r na instituição chamada escola. Cuja or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s fatos<br />

partiu da <strong>leitura</strong> <strong>do</strong> livro, para a <strong>leitura</strong> da imag<strong>em</strong> num contexto que expunha a <strong>leitura</strong> da<br />

realida<strong>de</strong> política brasileira.<br />

Após a constatação <strong>de</strong> que os alunos necessitavam ser alfabetiza<strong>do</strong>s para ler não<br />

somente a palavra escrita, mas também a linguag<strong>em</strong> imagética, <strong>de</strong>u-se a retomada e a<br />

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