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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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Po<strong>de</strong> acontecer também que a explicação brote <strong>de</strong> forma espontânea. Em diálogo,<br />

Felício e Felizarda são por vezes escuta<strong>do</strong>s por outros, que enten<strong>de</strong>m esclarecê-los sobre<br />

dúvidas manifestadas, ou que simplesmente contribu<strong>em</strong> para enriquecer os conhecimentos<br />

que eles já <strong>de</strong>têm.<br />

“- O cafezal será s<strong>em</strong>ea<strong>do</strong>? – perguntou Felizarda.<br />

- É, mas não no campo on<strong>de</strong> se cultiva – informou um companheiro <strong>de</strong> viag<strong>em</strong> que<br />

seguia com amável sombra [sic] a conversa <strong>do</strong>s entusiásticos viajantes – quan<strong>do</strong> já está<br />

crescidinho é que se planta nos campos <strong>em</strong> que há-<strong>de</strong> ficar 16<br />

.”<br />

Aquilo que <strong>de</strong> início quase parecia uma pergunta <strong>em</strong> voz alta acaba por receber a<br />

resposta <strong>de</strong> um companheiro <strong>de</strong> viag<strong>em</strong>, que assim abrirá o caminho para múltiplas<br />

questões <strong>do</strong>s pequenos viajantes, que vão acompanhan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>scoberta da nova realida<strong>de</strong>.<br />

A <strong>de</strong>scrição, mo<strong>do</strong> privilegia<strong>do</strong> <strong>de</strong> transmissão da realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> muitas narrativas <strong>de</strong><br />

viagens, ocorre muitas vezes, <strong>em</strong> Viagens Aventurosas <strong>de</strong> Felício e Felizarda ao Brasil, no<br />

espaço <strong>do</strong> diálogo, basea<strong>do</strong> frequent<strong>em</strong>ente numa estrutura <strong>de</strong> pergunta-resposta. O<br />

diálogo, não o esqueçamos, convertera-se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antiguida<strong>de</strong> Greco-latina, num<br />

po<strong>de</strong>roso instrumento ao serviço da aprendizag<strong>em</strong>, e Ana <strong>de</strong> Castro Osório, s<strong>em</strong> fazer <strong>de</strong>le<br />

uso exclusivo, parece consciente <strong>do</strong>s benefícios <strong>de</strong> tal mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> expressão, a que acresc<strong>em</strong><br />

os que resultam da dissimulação <strong>do</strong> contexto escolar sob o jogo literário. Talvez, também<br />

por isso, e aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> à faixa etária <strong>do</strong>s leitores, a <strong>de</strong>scrição, seja ela da responsabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma das personagens, ou da mãe, a qu<strong>em</strong> cabe o papel <strong>de</strong> narra<strong>do</strong>ra, jamais abranja<br />

uma extensão relevante <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> espaço discursivo.<br />

Em Viagens Aventurosas <strong>de</strong> Felício e Felizarda ao Pólo Norte, a situação não fora<br />

diferente a este nível. O diálogo é igualmente relevante, mas a <strong>de</strong>scrição po<strong>de</strong> fazer-se<br />

muitas vezes <strong>em</strong> discurso indirecto – veja-se, por ex<strong>em</strong>plo, o esclarecimento <strong>do</strong> capitão<br />

respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> às dúvidas <strong>de</strong> Felizarda sobre a diferente cor tomada pelas montanhas<br />

geladas 17<br />

. Também a subordinação da <strong>de</strong>scrição ao olhar <strong>do</strong>s pequenos viajantes, s<strong>em</strong> que<br />

a enunciação discursiva lhes cumpra, po<strong>de</strong> ocorrer algumas vezes, como acontece com a<br />

captura da baleia e a posterior tarefa <strong>de</strong> a <strong>de</strong>smanchar.<br />

O propósito didáctico da notação <strong>de</strong> novas realida<strong>de</strong>s é, na verda<strong>de</strong>, uma constante<br />

<strong>em</strong> qualquer uma das obras, mas nenhum <strong>do</strong>s livros põe <strong>de</strong> parte a hipótese <strong>de</strong> servir como<br />

veículo <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> um pensamento i<strong>de</strong>ológico que continua a encontrar à distância<br />

<strong>de</strong> séculos, na História passada <strong>do</strong>s Descobrimentos portugueses e <strong>em</strong> alguns <strong>do</strong>s seus<br />

protagonistas, uma lição estimulante para o presente – a ida <strong>de</strong> Felício e Felizarda ao Brasil<br />

16 Viagens Aventurosas <strong>de</strong> Felício e Felizarda ao Brasil, op. cit., p. 72.<br />

17 Viagens Aventurosas <strong>de</strong> Felício e Felizarda ao Pólo Norte , op. cit., pp.55-57.<br />

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