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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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“Nadia sabia que nesse momento a única coisa que po<strong>de</strong>ria salvá-la era aquela arte<br />

que apren<strong>de</strong>ra com o povo da neblina. Murmurou instruções a Borabá para que este<br />

esperasse alguns minutos (…) e voltou-se para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si própria, para esse espaço<br />

misterioso que to<strong>do</strong>s t<strong>em</strong>os quan<strong>do</strong> fechamos os olhos e <strong>de</strong>ixamos a mente livre <strong>de</strong><br />

pensamentos. Em pouco segun<strong>do</strong>s entrou num esta<strong>do</strong> s<strong>em</strong>elhante ao transe. Sentiu que se<br />

libertava <strong>do</strong> corpo e que podia ver-se <strong>de</strong> cima, como se a sua consciência se tivesse<br />

eleva<strong>do</strong> alguns metros acima da sua cabeça. (…) Ela não per<strong>de</strong>u, n<strong>em</strong> por um segun<strong>do</strong>, a<br />

sua concentração, não permitiu que o me<strong>do</strong> ou a hesitação <strong>de</strong>volvess<strong>em</strong> a sua alma à<br />

prisão <strong>do</strong> corpo” (Allen<strong>de</strong>, 2003:139-140).<br />

Nesse outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, à mistura com uma aventura árdua e perigosa, a força<br />

espiritual impõe-se numa mensag<strong>em</strong> claramente edifica<strong>do</strong>ra, on<strong>de</strong> é possível enten<strong>de</strong>r-se o<br />

verda<strong>de</strong>iro significa<strong>do</strong> da importância da preservação da paz, da concentração e <strong>do</strong> amor<br />

pelo Outro, numa <strong>de</strong>manda individual <strong>de</strong> um altruísmo absoluto e sincero. Relativamente ao<br />

primeiro livro da trilogia, Nadia é, <strong>em</strong> O Reino <strong>do</strong> Dragão <strong>de</strong> Ouro, a personag<strong>em</strong> cujas<br />

manifestações no espaço e no t<strong>em</strong>po mais apelam à <strong>leitura</strong> <strong>do</strong> Imaginário. Aqui, ela é, <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s momentos, a única que <strong>de</strong>tém o po<strong>de</strong>r salvífico para a humanida<strong>de</strong>.<br />

Por um la<strong>do</strong>, só ela, como ilustra o excerto selecciona<strong>do</strong>, t<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r da<br />

invisibilida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>, assim, escapar <strong>do</strong>s bandi<strong>do</strong>s da “t<strong>em</strong>ível Seita <strong>do</strong> Escorpião” (Allen<strong>de</strong>,<br />

2003:123-134), permitin<strong>do</strong>, posteriormente, o resgate das raparigas raptadas. Por outro,<br />

muito mais <strong>do</strong> que apenas orientar a sua iniciação e motivar Alex na sua aprendizag<strong>em</strong>,<br />

como acontecia <strong>em</strong> A Cida<strong>de</strong> das Bestas, Nadia a<strong>do</strong>pta as atitu<strong>de</strong>s <strong>do</strong> verda<strong>de</strong>iro “herói<br />

re<strong>de</strong>ntor <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>” (Campbell, 2004:310-314), pois consegue, s<strong>em</strong> qualquer custo,<br />

encarnar o seu animal totémico. Isto é. encarnar a figura nirvánica <strong>do</strong> seu Eu no senti<strong>do</strong><br />

mais completo da comunhão, absorven<strong>do</strong> todas as energias cósmicas para que o “trabalho<br />

da encarnação”, como o refere Campbell, seja uma “manifestação directa da lei”<br />

cosmogónica que, aqui, representa a vida <strong>do</strong> herói matan<strong>do</strong> o monstro (Campbell,<br />

2004:334)). Acrescentaríamos que, ao po<strong>de</strong>r contactar com o mestre e o seu discípulo<br />

(ambos indivíduos profundamente treina<strong>do</strong>s na sabe<strong>do</strong>ria da meditação e <strong>do</strong> transe) e,<br />

assim, solicitar a ajuda necessária para se salvar e repor a or<strong>de</strong>m, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nadia<br />

concretiza, mais uma vez, a imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> herói re<strong>de</strong>ntor e consolida o mito <strong>do</strong> “Uno múltiplo”:<br />

“Chamou <strong>em</strong> sua ajuda o seu animal totémico e, através <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> esforço<br />

psíquico, conseguiu transforma-se na po<strong>de</strong>rosa águia e voar para fora <strong>do</strong> <strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iro on<strong>de</strong><br />

estava presa e por cima das montanhas. O ar suportava as suas gran<strong>de</strong>s asas e ele<br />

<strong>de</strong>slocava-se <strong>em</strong> silêncio pelas alturas (…).<br />

Nas horas seguintes, Nadia evocou a águia quan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>sespero a vencia. E, <strong>de</strong> cada<br />

uma <strong>de</strong>ssas vezes, o gran<strong>de</strong> pássaro trouxe alívio ao seu espírito.<br />

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