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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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leitoral po<strong>de</strong>rá levantar. Entre muitos ex<strong>em</strong>plos possíveis, realço a passag<strong>em</strong> inicial da<br />

narrativa intitulada “O que toda a família disse”, <strong>em</strong> que se lê:<br />

“Queres ouvir o que toda a família disse? Sim, ouve agora primeiro, o que disse a<br />

Mariazinha.” 28<br />

Po<strong>de</strong>mos encontrar um outro ex<strong>em</strong>plo no conto A Margarida, que abre com a<br />

29<br />

expressão exclamativa “Agora ouve!” . Se o advérbio “agora” reenvia para o t<strong>em</strong>po<br />

partilha<strong>do</strong> pelos intervenientes na comunicação literária, o seguimento <strong>do</strong> texto insiste na<br />

partilha <strong>do</strong> mesmo espaço.<br />

“Lá fora no campo, junto ao caminho está uma casa <strong>de</strong> campo. Certamente já a viste<br />

30<br />

alguma vez!”<br />

O narra<strong>do</strong>r é uma voz presente e não aquela voz impessoal que caracteriza gran<strong>de</strong><br />

parte da literatura tradicional. Este narra<strong>do</strong>r é uma voz íntima, que fala <strong>de</strong> afectos, <strong>de</strong><br />

sentimentos e <strong>de</strong> esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> alma, crian<strong>do</strong> proximida<strong>de</strong> e, consequent<strong>em</strong>ente,<br />

cumplicida<strong>de</strong> com o leitor / ouvinte. O tom coloquial presente nas narrativas <strong>de</strong> An<strong>de</strong>rsen<br />

manifesta uma real atenção à criança leitora e mantém actuante a força da palavra dita, a<br />

riqueza da oralida<strong>de</strong>.<br />

A obra <strong>de</strong> An<strong>de</strong>rsen patenteia o inegável prazer <strong>de</strong> escrever como qu<strong>em</strong> conta!<br />

Ele próprio afirmou que escreveu os seus contos e as suas histórias como se as estivesse<br />

a contar às crianças. Na verda<strong>de</strong>, sab<strong>em</strong>os pelos seus biógrafos que ele foi um<br />

apaixona<strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> histórias. Esta recriação <strong>do</strong> prazer <strong>de</strong> contar é b<strong>em</strong> visível, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> “O Hom<strong>em</strong> <strong>do</strong>s Fantoches”, que termina <strong>do</strong> seguinte mo<strong>do</strong>:<br />

“E eu, como compatriota, voltei naturalmente a contar logo a história, simplesmente<br />

pelo prazer <strong>de</strong> contar.” 31<br />

A atenção concedida ao leitor / ouvinte (a que acima nos referimos) é corroborada<br />

pela integração e valorização da realida<strong>de</strong> com a qual esse leitor / ouvinte lida no seu<br />

quotidiano. Entramos num ponto frequent<strong>em</strong>ente referi<strong>do</strong> pelos estudiosos <strong>de</strong> An<strong>de</strong>rsen –<br />

referimo-nos à poetização <strong>do</strong> real. Um real que é <strong>de</strong>scoberto como o mais fantástico <strong>do</strong>s<br />

mun<strong>do</strong>s. Po<strong>de</strong>mos recordar aqui as palavras <strong>de</strong> uma das personagens <strong>de</strong> An<strong>de</strong>rsen<br />

quan<strong>do</strong> afirma:<br />

“To<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> é uma série <strong>de</strong> milagres – […], mas estamos tão acostuma<strong>do</strong>s a<br />

eles, que lhe chamamos coisas <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os dias.” 32<br />

28<br />

Id., Ibi<strong>de</strong>m, p.713.<br />

29<br />

Id., Ibi<strong>de</strong>m, p.94.<br />

30<br />

Id., Ibi<strong>de</strong>m.<br />

31<br />

Id., Ibi<strong>de</strong>m, p.505.<br />

234

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