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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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“Há livros pelos quais <strong>de</strong>slizamos ao <strong>de</strong> leve, esquecen<strong>do</strong>-nos<br />

das páginas, à medida que as vamos passan<strong>do</strong>; há outros<br />

que l<strong>em</strong>os com reverência, s<strong>em</strong> nos atrevermos a concordar<br />

com eles ou a discordar <strong>de</strong>les; outros que se limitam a darnos<br />

informações, impedin<strong>do</strong> o comentário; e outros, ainda,<br />

que, porque os amámos tanto e durante tanto t<strong>em</strong>po, somos<br />

capazes <strong>de</strong> recitar palavra a palavra, da<strong>do</strong> que os sab<strong>em</strong>os<br />

<strong>de</strong> cor – sab<strong>em</strong>o-los com o coração.”<br />

(Mangel, 2007: 8)<br />

É no universo <strong>do</strong>s livros que nos faz<strong>em</strong> <strong>de</strong>slizar ao ritmo <strong>do</strong> gosto que vamos<br />

<strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> ao longo da vida que nos situar<strong>em</strong>os nas linhas e entrelinhas <strong>de</strong>ste<br />

texto. A entrada no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s livros e da <strong>leitura</strong> configura um passaporte para<br />

encetar viagens que levam a outros pensamentos, outros mun<strong>do</strong>s, outros mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

ver, <strong>de</strong> viver, <strong>de</strong> dizer. Ler constitui um caminho a <strong>de</strong>sbravar para <strong>de</strong>scobrir nas<br />

palavras a musicalida<strong>de</strong>, a harmonia, a ambiguida<strong>de</strong>, a estranheza, as variações e<br />

múltiplas significações, o sussurro, o grito, a alegria, a tristeza, a <strong>do</strong>r, a felicida<strong>de</strong>, o<br />

que é dito e o que fica por dizer.<br />

A <strong>leitura</strong>, autónoma ou com mediação, permite o acesso à voz que habita as<br />

páginas <strong>do</strong> livro. Será essa voz que o leitor vai <strong>de</strong>scobrin<strong>do</strong> se tiver oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

conviver com textos significativos e diversifica<strong>do</strong>s que lhe permitam ir encontran<strong>do</strong><br />

marcas, características que faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> universo <strong>de</strong> escrita. Será<br />

também por este contacto sist<strong>em</strong>ático e consistente que o leitor po<strong>de</strong>rá ir construin<strong>do</strong><br />

o seu caminho, ir fazen<strong>do</strong> as suas opções.<br />

Na verda<strong>de</strong>, construir e formar leitores significa expor os sujeitos a universos<br />

textuais plurais com marcas próprias e diversificadas, significa abrir a porta a<br />

universos <strong>de</strong> escrita com i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, com voz própria. Ou seja, aqui se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a<br />

importância <strong>do</strong> texto integral na escola para conhecer o que <strong>de</strong> mais importante existe<br />

num livro: a voz <strong>do</strong> autor, já que ler é ace<strong>de</strong>r à voz que dá vida ao texto, essa voz que<br />

o torna único e distinto <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os outros, a voz <strong>do</strong> seu cria<strong>do</strong>r. Para ouvir e conhecer<br />

a voz <strong>de</strong> alguém, é necessário contactar com ela, ouvi-la, e com ela interagir, <strong>em</strong><br />

diferentes situações, com diferentes intenções, o que equivale a dizer que é<br />

necessário conhecê-la s<strong>em</strong> cortes, s<strong>em</strong> interrupções que a <strong>de</strong>scaracterizam e lhe<br />

retiram sabor. Gostar <strong>de</strong> ler, e sabe ler, é também fazer opções, <strong>de</strong>senvolver atitu<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> apreciação critica, <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são ou <strong>de</strong> rejeição, é ser capaz <strong>de</strong> reconhecer a voz que<br />

chega <strong>de</strong> algures. Esse conhecimento ficará comprometi<strong>do</strong> se o objecto <strong>de</strong> <strong>leitura</strong><br />

privilegia<strong>do</strong> for o excerto, inúmeras vezes <strong>de</strong>scontextualiza<strong>do</strong>, manipula<strong>do</strong>,<br />

instrumentaliza<strong>do</strong>, ao serviço <strong>de</strong> um ou outro propósito.<br />

Quan<strong>do</strong> se diz que ler é compreen<strong>de</strong>r, talvez seja oportuno perguntar:<br />

compreen<strong>de</strong>r o quê? Na verda<strong>de</strong>, à força <strong>de</strong> tanto ser dita, esta afirmação parece uma<br />

evidência mais <strong>do</strong> que consensual, facto que to<strong>do</strong>s corroboram, princípio que não se<br />

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