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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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Natal <strong>de</strong> 1912 —, e que teve também uma 2.ª ed., póstuma, <strong>em</strong> 1955, para "as Bibliotecas<br />

das Escolas Primárias".<br />

A pedagogia oficial rendia-se aos encantos da obra <strong>de</strong> Lopes Vieira e procurava<br />

encontrar nesta naturalização e humanização <strong>do</strong>s animais e na epopeia <strong>do</strong>s<br />

Descobrimentos l<strong>em</strong>as facilmente m<strong>em</strong>orizáveis para a transmissão <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ologia, que<br />

acabou por limitar gran<strong>de</strong>mente o projecto <strong>de</strong>seja<strong>do</strong> humanista pelo poeta-pedagogo. Estas<br />

duas obras tornam-se instrumentos educativos ao serviço <strong>de</strong> uma causa i<strong>de</strong>ológica.<br />

Tornam-se o catecismo que enuncia os valores <strong>de</strong> um regime político e <strong>do</strong> respectivo modus<br />

vivendi. Des<strong>de</strong> o início, Lopes Vieira teve consciência <strong>do</strong> papel <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente educativo a<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar por estes livros, mas recusou-se s<strong>em</strong>pre a <strong>de</strong>ixar que eles per<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> a<br />

qualida<strong>de</strong> estética essencial <strong>em</strong> toda a sua poética. Num apontamento manuscrito <strong>de</strong>ixa<br />

esta importante reflexão, b<strong>em</strong> <strong>de</strong>monstrativa das preocupações que sentia com a literatura<br />

para a infância: É forçôso fazer renascêr a poesia didactica — <strong>em</strong> bases puras <strong>de</strong> estetica. 8.<br />

O sucesso, alcança<strong>do</strong> pelas poesias para criança, <strong>de</strong>ixava-o verda<strong>de</strong>iramente<br />

orgulhoso9,<br />

a ponto <strong>de</strong> se julgar o cumpri<strong>do</strong>r <strong>do</strong> programa <strong>de</strong>linea<strong>do</strong> por Eça: […] a minha<br />

abstenção <strong>do</strong>s cargos e <strong>do</strong>s negócios, e também o caso <strong>de</strong> não ter filhos, o que me fêz<br />

talvez escrever para os filhos <strong>do</strong>s outros os primeiros livros que alegraram as crianças<br />

portuguesas, e me conferiram aquela glória que Eça <strong>de</strong> Queiroz ambicionava por supr<strong>em</strong>a<br />

— o sorriso <strong>do</strong>s pequenos. […]" (apud Campos, 1925: XIII). Ainda <strong>em</strong> 1942, numa das suas<br />

"Breves notas dum estudante da Língua", mostrava-se, com ironia, pasma<strong>do</strong> com a<br />

abundância que o género da literatura infantil ia adquirin<strong>do</strong>, <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da qualida<strong>de</strong>:<br />

41. Eis-me pasma<strong>do</strong> com a abundância da nossa literatura infantil! Don<strong>de</strong> v<strong>em</strong> tal<br />

pasmo? Mas <strong>de</strong> me l<strong>em</strong>brar das crises <strong>de</strong> consciência que me assaltam quan<strong>do</strong> escrevo<br />

para êsse público, a começar no escrúpulo da linguag<strong>em</strong> que se <strong>de</strong>ve propor a tais olhos<br />

que a lê<strong>em</strong> ou a tais ouvi<strong>do</strong>s que a escutam.<br />

Ora! Afinal é mais fácil <strong>do</strong> que eu cria. [NDG: 305]<br />

Uma prova mais <strong>de</strong>ssa auto-consciência são as ofertas que fazia <strong>do</strong>s livros às escolas<br />

que visitava10, o que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma hábil maneira <strong>de</strong> se ir introduzin<strong>do</strong> no cânone<br />

escolar, procuran<strong>do</strong> modificá-lo com as inovações que introduzira no género. Assim, o texto<br />

8 Este apontamento fragmenta<strong>do</strong> encontra-se no espólio, integra<strong>do</strong> num conjunto maior <strong>de</strong> outros fragmentos<br />

(vd. Nobre, 2005, II: 305).<br />

9 Num apontamento ms. regista o contentamento senti<strong>do</strong> com o sucesso <strong>de</strong> ANA: As crianças amam os meus<br />

versos <strong>do</strong>s Animaes. É a glória.! Dez. 1911 (vd. Nobre, 2005, II: 361).<br />

10 O Diário da Ma<strong>de</strong>ira, durante uma visita <strong>de</strong> ALV ao Funchal, no ano <strong>de</strong> 1913, refere-se a uma "Gentileza <strong>do</strong><br />

Poeta": […] Consta a l<strong>em</strong>brança <strong>de</strong> seis volumes <strong>do</strong> mimoso livro, <strong>em</strong> verso, — Bartolomeu Marinheiro — com<br />

que o <strong>em</strong>inente lyrico <strong>de</strong>seja pr<strong>em</strong>iar, á nossa escolha, as seis melhores escolas <strong>de</strong> instrução publica primaria,<br />

d'esta ilha. […] (AN, [1913i]: R, I: f. 98v.).<br />

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