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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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crescimento intelectual e psicológico <strong>do</strong> sujeito-leitor. Durante a <strong>leitura</strong>, produz-se “um<br />

trabalho <strong>de</strong> transformação <strong>do</strong> texto que se efectua <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao trabalho <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas<br />

faculda<strong>de</strong>s humanas”. Assim, o texto literário a<strong>do</strong>pta um estatuto <strong>de</strong> diferenciação<br />

relativamente a outros produtos aos quais crianças e jovens têm cada vez mais acesso, o<br />

que nos permite, por um la<strong>do</strong>, compreendê-lo como um “potencial <strong>de</strong> acções que o processo<br />

da <strong>leitura</strong> actualiza” (Iser, 1997:13); por outro, consi<strong>de</strong>rar que existe, <strong>de</strong> facto, um<br />

interaccionismo permutável entre o valor s<strong>em</strong>iótico <strong>do</strong> texto e o seu leitor.<br />

2.1 - No reencontro <strong>do</strong> Eu-leitor imaginal<br />

Estimamos pois que se o hábito da <strong>leitura</strong> (entendi<strong>do</strong> numa acepção ampla) é <strong>de</strong>cisivo<br />

para a criança <strong>em</strong> crescimento, este é-o ainda mais para o jov<strong>em</strong> a<strong>do</strong>lescente <strong>em</strong> ida<strong>de</strong><br />

escolar na medida <strong>em</strong> que os momentos <strong>de</strong> alfabetização e posterior aprendizag<strong>em</strong> (para a<br />

aquisição e consolidação da capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> uso escrito da língua) só serão <strong>de</strong>vidamente<br />

cimenta<strong>do</strong>s, na estrada <strong>do</strong> seu sucesso académico (<strong>em</strong> primeira estância), se este<br />

conseguir concretizar conhecimentos a partir <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong> simbólica rica.<br />

Compreen<strong>de</strong>-se, <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, que o verda<strong>de</strong>iro acto <strong>de</strong> ler apenas se consolida no<br />

acto <strong>de</strong> colher, <strong>de</strong> adaptar e/ou <strong>de</strong> readaptar outras realida<strong>de</strong>s, e que a complexa dualida<strong>de</strong><br />

e transversalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste corpus, no <strong>do</strong>mínio da sua significação, se realiza por um<br />

procedimento somatório que veicula, <strong>em</strong> cada (re)<strong>leitura</strong>, o reconhecimento <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s traços e realida<strong>de</strong>s a adaptar e/ou a<strong>do</strong>ptar. Não restam pois dúvidas <strong>de</strong> que se<br />

a cooperação <strong>do</strong> sujeito-leitor com o texto não se pu<strong>de</strong>r manifestar, o próprio enuncia<strong>do</strong>, na<br />

sua globalida<strong>de</strong>, terá perdi<strong>do</strong> o seu significa<strong>do</strong> e a noção <strong>de</strong> vacuida<strong>de</strong>, na perspectiva <strong>do</strong><br />

“preenchimento” <strong>do</strong> texto (pelo seu valor literário polifónico), não se terá cumpri<strong>do</strong>. Isto é,<br />

durante a <strong>leitura</strong>, não se terá produzi<strong>do</strong> “um trabalho <strong>de</strong> transformação <strong>do</strong> texto” (Iser,<br />

1997:13), que acontece quer pela vonta<strong>de</strong> <strong>do</strong> leitor <strong>de</strong>scodifica<strong>do</strong>r, quer pela dinâmica <strong>do</strong><br />

texto que se quer dar a ler <strong>em</strong> toda a sua alterida<strong>de</strong> pluri-isotópica, o que nos obriga a<br />

<strong>de</strong>stacar a importância, atribuída por Umberto Eco, à probl<strong>em</strong>ática da “intentio lectoris” (Eco,<br />

1990).<br />

A propósito <strong>do</strong>s “<strong>do</strong>is mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> interpretação” propostos no capítulo<br />

“Apontamentos sobre a s<strong>em</strong>iótica da recepção” (1990:19-112), Umberto Eco <strong>de</strong>bruça-se<br />

sobre a probl<strong>em</strong>ática da “intentio lectoris” e afirma, entre muitas acepções, que o verda<strong>de</strong>iro<br />

leitor é aquele que assume o texto como um “universo aberto que compreen<strong>de</strong> que o<br />

verda<strong>de</strong>iro significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> um texto é o seu vácuo” (1990:56-62). Usan<strong>do</strong> a noção <strong>do</strong><br />

<strong>em</strong>issor/<strong>de</strong>scodifica<strong>do</strong>r na apreensão <strong>do</strong> “intertexto” 2<br />

, <strong>de</strong> Riffaterre (1979), b<strong>em</strong> como da<br />

2 Segun<strong>do</strong> Michael Riffaterre se o intertexto não for <strong>de</strong>vidamente apreendi<strong>do</strong> pelo sujeito-leitor <strong>em</strong> crescimento,<br />

que vai enriquecen<strong>do</strong> a sua competência enciclopédica, o próprio enuncia<strong>do</strong>, na sua globalida<strong>de</strong>, terá perdi<strong>do</strong> o<br />

seu significa<strong>do</strong>. A noção <strong>de</strong> “intertexto” surge a partir <strong>do</strong>s trabalhos <strong>de</strong> Riffaterre, entre outros, e conceptualiza a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que um texto não existe apenas por si só, mas pela relação que mantém com outros textos.<br />

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