20.04.2013 Views

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Estes textos, <strong>de</strong> que a poesia concreta é um ex<strong>em</strong>plo significativo, inverteriam o<br />

processo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> da <strong>leitura</strong>, da<strong>do</strong> que apren<strong>de</strong>r a ler implica <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

enten<strong>de</strong>r as letras como imagens e que, para compreen<strong>de</strong>r estes textos, <strong>em</strong> alguns<br />

momentos <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> <strong>leitura</strong>, é preciso impedirmo-nos <strong>de</strong> ver o graf<strong>em</strong>a para<br />

ver a representação icónica que o seu conjunto produz. E, por isso mesmo, é esta<br />

<strong>leitura</strong> um <strong>de</strong>safio, uma aposta, um campo s<strong>em</strong>pre infindável que a investigação <strong>do</strong><br />

processamento verbal e visual terá <strong>de</strong> abordar.<br />

Nesta concepção tripartida não há qualquer intuito gradativo no que diz<br />

respeito à complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s textos, ou seja, os textos mistos não são, n<strong>em</strong><br />

po<strong>de</strong>riam ser, por ex<strong>em</strong>plo, menos conotativos <strong>do</strong> que os textos híbri<strong>do</strong>s, n<strong>em</strong> os<br />

híbri<strong>do</strong>s menos elabora<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que os fusionais. De facto, cada um <strong>de</strong>les actualiza<br />

estratégias <strong>de</strong> atracção diferentes e socorre-se, <strong>em</strong> graus diferentes, da redundância<br />

inter-sist<strong>em</strong>as. To<strong>do</strong>s exig<strong>em</strong> atenção perceptiva e esforço interpretativo e seria<br />

erra<strong>do</strong> pensar, por ex<strong>em</strong>plo, que os textos mistos usam mais o <strong>de</strong>senho realista e os<br />

fusionais mais a dimensão abstracta das mensagens visuais.<br />

Textos e imagens po<strong>de</strong>m distinguir-se através <strong>de</strong> múltiplas e variadas<br />

características. Uma <strong>de</strong>ssas características, que nos parece mais operativa para o<br />

que quer<strong>em</strong>os <strong>de</strong>monstrar, é o facto <strong>de</strong> as palavras se referir<strong>em</strong> ao mun<strong>do</strong><br />

estabelecen<strong>do</strong> com ele uma relação on<strong>de</strong> a arbitrarieda<strong>de</strong> é uma dimensão<br />

operativa e produtiva <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>s e as imagens se referir<strong>em</strong> ao mun<strong>do</strong><br />

estabelecen<strong>do</strong> com ele uma relação motivada, eventualmente isomórfica.<br />

Não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os, todavia esquecer que a representação pictural <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> —<br />

mesmo a que se socorre <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> mimetismo — exibe s<strong>em</strong>pre um <strong>de</strong>svio<br />

face à realida<strong>de</strong>, e que as palavras, apesar <strong>de</strong> na sua gran<strong>de</strong> maioria ser<strong>em</strong><br />

imotivadas, são capazes <strong>de</strong> se a<strong>de</strong>quar ao mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> tal forma que, quan<strong>do</strong> as<br />

ouvimos, as tomamos frequent<strong>em</strong>ente pelo próprio mun<strong>do</strong>. T<strong>em</strong>os, pois, que ter<br />

presente que não é nunca possível dizer que a representação é igual à realida<strong>de</strong>.<br />

Toda a representação é um <strong>de</strong>svio e é exactamente o grau e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse<br />

<strong>de</strong>svio que confer<strong>em</strong> à representação a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nos surpreen<strong>de</strong>r. Por<br />

isso mesmo, ter<strong>em</strong>os s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a interpretar imagens, ou seja,<br />

precisamos <strong>de</strong> interpretar como elas se <strong>de</strong>sviam <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> para o mostrar.<br />

Para além disso, to<strong>do</strong>s sab<strong>em</strong>os que não é o facto <strong>de</strong> as imagens exibir<strong>em</strong><br />

relações <strong>de</strong> s<strong>em</strong>elhança com os objectos representa<strong>do</strong>s que faz aumentar a nossa<br />

capacida<strong>de</strong> para confiar nelas ou tão-só para as compreen<strong>de</strong>r. I<strong>de</strong>ntificar os<br />

objectos representa<strong>do</strong>s na imag<strong>em</strong> não é suficiente para percebermos a razão por<br />

que aparec<strong>em</strong> representa<strong>do</strong>s naquele <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> contexto. Nenhuma<br />

representação, como vimos, representa o real, mas s<strong>em</strong>pre um ponto <strong>de</strong> vista sobre<br />

33

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!