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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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acor<strong>do</strong> com Vázquez (1999, p. 130) “se o objeto estético só existe efetivamente na relação<br />

concreta, vivida, singular, que chamamos situação estética, não é um ser <strong>em</strong> si e por si, mas<br />

um ser cujo <strong>de</strong>stino se cumpre ao ser percebi<strong>do</strong> <strong>em</strong> sua relação com um sujeito individual”.<br />

Como Bakhtin (2006), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos que toda <strong>leitura</strong> é um processo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> novos<br />

senti<strong>do</strong>s e, à medida que se recria para o outro, po<strong>de</strong> ser recriada novamente. Toda <strong>leitura</strong> é<br />

co-autoria, é recriação. A palavra <strong>do</strong> leitor se fun<strong>de</strong> na palavra <strong>do</strong> outro/autor se fazen<strong>do</strong><br />

uma contra-palavra, processo que se evi<strong>de</strong>nciou na <strong>leitura</strong> <strong>do</strong> texto <strong>de</strong> Pinóquio.<br />

O contexto político foi, dali a alguns dias, assumin<strong>do</strong> um rumo <strong>de</strong> certa forma já<br />

previsto pela população brasileira. Uma cópia <strong>do</strong> cheque que Severino Cavalcanti havia<br />

recebi<strong>do</strong> para conce<strong>de</strong>r o direito <strong>de</strong> administrar o restaurante <strong>do</strong> Palácio <strong>do</strong> Planalto <strong>em</strong><br />

Brasília <strong>de</strong>scortinou as afirmações que ele havia feito, colocan<strong>do</strong>-se como vítima <strong>de</strong> intrigas<br />

políticas. Em conseqüência, nada mais óbvio para as crianças e professora <strong>do</strong> que<br />

relacionar sua inconsistente <strong>de</strong>fesa ao nariz <strong>de</strong> Pinóquio.<br />

Após este <strong>de</strong>sfecho na mídia, crianças e educa<strong>do</strong>ra <strong>de</strong>cidiram criar uma charge cujo<br />

nome <strong>do</strong> personag<strong>em</strong> seria Severinóquio. Partiram <strong>do</strong>s fatos que acompanharam nos<br />

noticiários, material rico para a criação. Afinal, como <strong>de</strong>staca Vygotski (1990, p. 11): “[...] en<br />

la vida que nos ro<strong>de</strong>a cada día existen todas las pr<strong>em</strong>isas necesarias para crear y to<strong>do</strong> lo<br />

que exce<strong>de</strong> <strong>de</strong>l marco <strong>de</strong> la rutina, encerran<strong>do</strong> siquiera una mínima partícula <strong>de</strong> novedad,<br />

tiene su origen en el proceso crea<strong>do</strong>r <strong>de</strong>l ser humano”.<br />

A criação imagética <strong>do</strong> personag<strong>em</strong> Severinóquio iniciou logo após a escolha <strong>do</strong> seu<br />

nome. Desenharam individualmente o seu personag<strong>em</strong>, atribuin<strong>do</strong>-lhe características<br />

pessoais estabelecidas pelo processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>s. Notou-se que as crianças<br />

fizeram uma sobreposição <strong>do</strong> personag<strong>em</strong> Pinóquio <strong>de</strong> Collodi para o personag<strong>em</strong><br />

Severinóquio, criação <strong>de</strong>les próprios. A literatura <strong>de</strong> Pinóquio absorvida no contexto político<br />

<strong>do</strong> Brasil <strong>em</strong> que o <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> Severino Cavalcanti torna-se a figura representativa <strong>de</strong> um<br />

político mentiroso. Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>ste evento, constatou-se a (re)criação mediada pelo<br />

mun<strong>do</strong> da arte para com o mun<strong>do</strong> da vida. Por sua vez, reforçamos a afirmação <strong>de</strong> Vygotski<br />

(1990) <strong>de</strong> que to<strong>do</strong> ser humano é capaz <strong>de</strong> criar. Portanto, foi contun<strong>de</strong>nte a <strong>leitura</strong> das<br />

crianças e da professora, atribuída aos fatos que se mostraram revela<strong>do</strong>res da conjuntura<br />

política daquele perío<strong>do</strong>, no ano <strong>de</strong> 2005 e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, completamente entrelaça<strong>do</strong>s<br />

à <strong>leitura</strong> da história <strong>de</strong> Pinóquio. Severino Cavalcanti <strong>de</strong>ixou que lhe <strong>de</strong>rrubass<strong>em</strong> a<br />

máscara, e nesse momento professora e alunos assistiram o <strong>de</strong>svelar da verda<strong>de</strong>ira trama,<br />

<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> que <strong>em</strong>ergisse um personag<strong>em</strong> que, tal como Pinóquio, primeiro ganha um nome<br />

e <strong>de</strong>pois as características <strong>de</strong> um corpo que vai sen<strong>do</strong> traça<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a experiência<br />

e a dimensão axiológica <strong>de</strong> cada autor/cria<strong>do</strong>r da criatura. Enfim, cai a máscara, revela-se a<br />

trama, <strong>em</strong>erge o personag<strong>em</strong> que tinha nome e então <strong>de</strong>veria ser cria<strong>do</strong>, assim como<br />

Pinóquio <strong>de</strong> Collodi. Eis as crianças e a educa<strong>do</strong>ra alçadas à condição <strong>de</strong> Gepetos.<br />

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