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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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Na primeira história, um ser estranho e <strong>de</strong> proporções consi<strong>de</strong>ráveis é captura<strong>do</strong><br />

no Tejo. Inicialmente, to<strong>do</strong>s assum<strong>em</strong> uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> estranheza perante uma criatura<br />

diferente <strong>de</strong> qualquer outra, até na alimentação. A sua diferença é ressaltada através<br />

<strong>do</strong> uso intencional da palavra “estranho” (Soares, 2003:25), presente no discurso <strong>de</strong><br />

todas as personagens. 6<br />

Descobre-se, entretanto, que o monstro gosta <strong>de</strong> gasolina: “olh<strong>em</strong> como o<br />

malandro me gasta a gasolina!” (I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m:26)<br />

Neste momento da estória, acontece uma peripécia, <strong>de</strong>cisiva na alteração <strong>do</strong><br />

rumo <strong>do</strong>s acontecimentos: um petroleiro afunda-se na baía <strong>de</strong> Cascais e começa a<br />

<strong>de</strong>rramar cru<strong>de</strong>. O bicho, anteriormente <strong>de</strong>spreza<strong>do</strong> pela sua diferença <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais, é<br />

agora queri<strong>do</strong> e elogia<strong>do</strong>, tratan<strong>do</strong>-se da única hipótese <strong>de</strong> <strong>de</strong>spoluição <strong>do</strong> oceano. A<br />

partir <strong>de</strong>ste momento, passam a ser-lhe confiadas as relevantes tarefas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spoluição <strong>do</strong>s rios, mares e praias: “Por on<strong>de</strong> passava, a areia ficava branca, a<br />

água <strong>de</strong> novo ficava azul.” (I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m: 26)<br />

O monstro, inicialmente apelida<strong>do</strong> <strong>de</strong> “estranho”, passa a ser trata<strong>do</strong> por<br />

“fantástico”, “mágico” e “sensacional” (I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m: 28 e 29), passan<strong>do</strong> a sua<br />

diferença a ser b<strong>em</strong> aceite e, mesmo, indispensável à socieda<strong>de</strong>. 7<br />

Novamente, o senso <strong>de</strong> humor da autora sobressai no final <strong>do</strong> texto: “To<strong>do</strong> o<br />

governo bebeu vinho <strong>do</strong> Porto à saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> monstro, mas para ele abriu-se,<br />

naturalmente, uma garrafa <strong>de</strong> gasolina super” (I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m:29)<br />

Também “A Sereia”, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à sua diferença, enfrenta uma gran<strong>de</strong> perseguição<br />

da socieda<strong>de</strong>, mas, ao contrário da maior parte <strong>do</strong>s contos <strong>de</strong> Luísa Ducla Soares,<br />

neste o final não é harmoniza<strong>do</strong>r e integra<strong>do</strong>r da diferença. Cansada <strong>de</strong> ser exibida e<br />

criticada, não resta à sereia outra hipótese senão a fuga a Rogério, o seu captor e<br />

carcereiro: “A sereia arrasou-se até à porta, abriu-a, passou ao jardim, à rua e<br />

conseguiu partir para o seu ama<strong>do</strong> mar.” (Soares, 2003:75)<br />

A criatura maravilhosa <strong>do</strong>s oceanos acaba por regressar ao seu el<strong>em</strong>ento<br />

natural, afastan<strong>do</strong>-se da socieda<strong>de</strong> humana e da sua mesquinhez e malda<strong>de</strong>.<br />

Em “O Vampiro que bebia Groselha” é contada a estória <strong>de</strong> um pequeno vampiro<br />

que, <strong>em</strong>bora her<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> uma tradição vampiresca, é cria<strong>do</strong> por uma cabra e, por isso,<br />

muito diferente <strong>do</strong>s vampiros convencionais.<br />

6<br />

- Mas que estranho monstro - gritavam os pesca<strong>do</strong>res<br />

- Mas que estranho - exclamou o director <strong>do</strong> jardim zoológico, ao metê-lo numa jaula.<br />

- Mas que estranho monstro - concluiu o veterinário, ao verificar que não bebia água, n<strong>em</strong> leite, n<strong>em</strong><br />

vinho, não comia peixe, n<strong>em</strong> carne, n<strong>em</strong> ovos n<strong>em</strong> pão, n<strong>em</strong> fruta, n<strong>em</strong> nada!” (Soares,2003:25)<br />

7<br />

-Que monstro fantástico!<br />

- Mágico!<br />

-Mas que animal sensacional! (Soares, 2003:29)<br />

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