20.04.2013 Views

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> das primeiras letras, e marcou <strong>de</strong> novo como que um retorno à poesia das<br />

origens e <strong>do</strong> natural. Assim acontece nos po<strong>em</strong>as-cantigas como "A Borboleta", "A Árvore",<br />

"A Rôla", "Repiu-piu-piu", "os Búzios", "A Oliveira", "O Sino", "Os Ninhos", "Rio Tejo", "Os<br />

Morangos", "As Estrelas", "O Lavra<strong>do</strong>r", "A Lareira", "O Linho", "O Pastor", "O Pucarinho". O<br />

que se canta é a vida simples <strong>do</strong> quotidiano, com toda a sua singeleza e beleza, da qual se<br />

extra<strong>em</strong> regras <strong>de</strong> vida e um moralismo saudável e inquestionável. Este ambiente<br />

simultaneamente educativo e instrutivo muito agradava a alguns pais preocupa<strong>do</strong>s com a<br />

educação <strong>do</strong>s filhos. As críticas da época não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar as qualida<strong>de</strong>s formativas<br />

<strong>de</strong> CI, ao serviço <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ologia específica, assim como o papel <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha<strong>do</strong> a favor<br />

<strong>do</strong> canto coral nas escolas, <strong>em</strong>bora algumas chegu<strong>em</strong> mesmo a consi<strong>de</strong>rar a simplicida<strong>de</strong><br />

das composições como excessiva, ou seja, nos limites entre uma escrita para crianças e<br />

uma escrita infantilista13 . Alguns po<strong>em</strong>as aproximam-se <strong>de</strong> um certo Franciscanismo, que<br />

tentou o próprio ALV como filosofia <strong>de</strong> vida: é o caso <strong>do</strong> "Sermão às Aves" ou <strong>do</strong> "Hino ao<br />

Sol" [CI: 71-2 e 95-7]. A Natureza, só por si, <strong>de</strong>veria ser suficiente e bastar-se a si própria,<br />

dan<strong>do</strong>-nos uma lição <strong>de</strong> equilíbrio e medida que merecia ser aproveitada como regra <strong>de</strong><br />

conduta para a vida. Encarnan<strong>do</strong> tais regras <strong>de</strong> conduta, aparec<strong>em</strong> as figuras ex<strong>em</strong>plares<br />

<strong>de</strong> Nuno Álvares Pereira, o herói que representa a in<strong>de</strong>pendência e o amor à essência <strong>de</strong><br />

Portugal [CI: 15-6], e <strong>de</strong> Camões, a voz através da qual uma nacionalida<strong>de</strong> se tornou mito<br />

[CI: 31-3]. Convém referir que este mesmo po<strong>em</strong>a foi publica<strong>do</strong>, pela primeira vez, <strong>em</strong> folha<br />

avulsa, s<strong>em</strong> data, com o título <strong>de</strong> “Hino a Camões” [HC], mas com indicação <strong>de</strong> haver si<strong>do</strong><br />

musica<strong>do</strong> por Tomás Borba, ten<strong>do</strong> a impressão si<strong>do</strong> feita <strong>em</strong> 1911. É fácil <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />

como esta pedagogia <strong>de</strong> valores essenciais <strong>de</strong> uma nacionalida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> aproveitada<br />

por um regime político ditatorial que acabou por a<strong>do</strong>ptar "Portugal é lin<strong>do</strong>" [CI: 11-3] como<br />

hino i<strong>de</strong>ológico. Os periódicos da época dão-nos b<strong>em</strong> a imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> aproveitamento social e<br />

político <strong>de</strong> HC: […] Canção patriotica por excellencia, é para <strong>de</strong>sejar que os paes, os<br />

professores e educa<strong>do</strong>res comprehendam o seu alcance, agora que o dia <strong>de</strong> Camões se<br />

approxima, como o gran<strong>de</strong> dia <strong>de</strong> festa portugueza. Não haverá mais bella consagração<br />

para o poeta que immortalisou Portugal <strong>do</strong> que fazer cantar o seu nome pelas crianças da<br />

sua patria. […](AN, [1911ff: R, I: f. 60v.).<br />

13 Eis alguns ex<strong>em</strong>plos: Canto Infantil é um mimo <strong>de</strong> graça e <strong>de</strong> belleza, tão leve e tão cheio <strong>de</strong> ternura como o<br />

coração <strong>do</strong>s pequenitos a qu<strong>em</strong> é <strong>de</strong>dica<strong>do</strong>. Depois <strong>do</strong> <strong>de</strong>licioso trabalho ANA, Affonso LV, na missão<br />

evangelisa<strong>do</strong>ra que se propoz agora, v<strong>em</strong> dar-nos, com a collaboração <strong>de</strong>licada <strong>de</strong> Thomaz Borba e Raul Lino,<br />

mais uma prova da extraordinária cultura <strong>do</strong> seu espírito, <strong>de</strong> hom<strong>em</strong> mo<strong>de</strong>rno, que t<strong>em</strong> a rara habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

construir s<strong>em</strong> <strong>de</strong>molir. (AN, [1912z]: R, I: f. 77r.); […] Bastaria o seu intuito nacionaliza<strong>do</strong>r — não se fala <strong>em</strong> to<strong>do</strong><br />

ele senão da nossa terra, <strong>do</strong>s seus encantos e da sua graça — para merecer o meu louvor. Mas n<strong>em</strong> só essa<br />

gran<strong>de</strong> e forte qualida<strong>de</strong> elle t<strong>em</strong>: — mais que todas as prègações, <strong>do</strong> que todas as campanhas a favor <strong>do</strong> canto<br />

coral, <strong>de</strong>ve este livro promover <strong>de</strong> maneira efectiva o aparecimento ou o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse indispensavel<br />

instrumento educativo, cujo papel é tão gran<strong>de</strong> <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os paises on<strong>de</strong> existe verda<strong>de</strong>ira vida escolar e,<br />

também, autentico espirito <strong>de</strong>mocratico, e que tão necessario se torna <strong>em</strong> Portugal para a criação <strong>de</strong> uma patria<br />

homogenea e forte. (AN, [1912]: R, I: f. 77v.); […] Com o Canto Infantil é toda uma nova era que principia. À<br />

força <strong>de</strong> <strong>de</strong>corar livros como este quan<strong>do</strong> saberá o povo celebrar, com coraes opulentos, os gran<strong>de</strong>s feitos que<br />

lhe dê<strong>em</strong> lustre e brilho? (AN, [1912aa]: R, I: f. 77r.).<br />

276

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!