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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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O vampirinho t<strong>em</strong> algumas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> adaptação à sua nova vida herbívora<br />

e procura melhor sorte junto aos homens. Aí <strong>de</strong>scobre a groselha, uma bebida<br />

vermelha como o sangue e <strong>do</strong>ce como o mel. Conclui-se a estória com as palavras da<br />

personag<strong>em</strong> principal, que finalmente assume, com prazer e humor, a sua diferença:<br />

“Meus pais só bebiam bebida vermelha/Como um bom vampiro/eu bebo groselha”<br />

(Soares, 2003: 17).<br />

Concluímos esta reflexão sobre a questão da diferença como valor na obra<br />

narrativa <strong>de</strong> Luísa Ducla Soares com o ex<strong>em</strong>plo da obra “O Solda<strong>do</strong> João”. Data<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

1973, este texto pacifista (cont<strong>em</strong>porâneo da Guerra Colonial) traduz um gesto<br />

sintomático <strong>de</strong> ousadia, apresentan<strong>do</strong> um solda<strong>do</strong> que foge completamente àquilo que<br />

se espera <strong>de</strong> um militar, durante um conflito arma<strong>do</strong>. Nas palavras da autora:<br />

“O solda<strong>do</strong> João é <strong>de</strong> tal forma avesso a lutas que inviabiliza o conflito arma<strong>do</strong>,<br />

transportan<strong>do</strong> para ele as regras da boa educação e da solidarieda<strong>de</strong> inabalável. De<br />

tal forma <strong>em</strong>pata a guerra com a sua ineficácia bélica que os generais inimigos, por<br />

ele trata<strong>do</strong>s como amigos, acabam por achar que passou o t<strong>em</strong>po da guerra,<br />

reconciliam-se e part<strong>em</strong> <strong>em</strong> paz.” (Soares, 2004:9)<br />

João é o solda<strong>do</strong> mais atípico que po<strong>de</strong> existir e a sua construção reflecte o<br />

próprio pensamento <strong>de</strong> Luísa Ducla Soares sobre a guerra 8<br />

e a acerca da importância<br />

<strong>de</strong> fazer a paz.<br />

Atente-se, a título <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo, nas seguintes passagens:<br />

“To<strong>do</strong>s os solda<strong>do</strong>s carregaram as espingardas e fizeram pontaria. Mas o<br />

solda<strong>do</strong> João achou in<strong>de</strong>lica<strong>do</strong> não ir cumprimentar os companheiros da outra banda.<br />

Pousou a arma, saltou a trincheira, avançou esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a mão. Então os outros<br />

solda<strong>do</strong>s, espanta<strong>do</strong>s, esten<strong>de</strong>ram a mão também” (Soares, 2001: 6)<br />

“Notou que os <strong>do</strong>is generais inimigos coxeavam ligeiramente, <strong>de</strong>scalçou-lhes as<br />

botas e pôs-se a tirar-lhes os calos.” (Soares, 2001: 6)<br />

Das atitu<strong>de</strong>s pacifistas <strong>do</strong> solda<strong>do</strong> só po<strong>de</strong>m resultar coisas positivas. Mais uma<br />

vez é transmitida pela autora a mensag<strong>em</strong> que é da diferença que nasce o equilíbrio e<br />

se dá a harmonização das situações. Deste mo<strong>do</strong>:<br />

“Então o incrível aconteceu. Os <strong>do</strong>is generais levantaram-se ao mesmo t<strong>em</strong>po e<br />

con<strong>de</strong>coraram-no com duas luzentes medalhas <strong>de</strong> ouro.<br />

8 “Os conflitos arma<strong>do</strong>s basea<strong>do</strong>s <strong>em</strong> raças, religiões, i<strong>de</strong>ologias não têm para mim qualquer senti<strong>do</strong>. (…)<br />

Pertenço ao planeta Terra. E esse planeta é <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s nós, principalmente das crianças que nasceram na<br />

época da globalização. Escrever para elas sobre a guerra é vaciná-las para a paz.” (Soares, 2004:9)<br />

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