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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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A 7 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1920, segun<strong>do</strong> esclarecimento <strong>do</strong>s editores, apresentavam-se a<br />

concurso aberto pela Direcção Geral <strong>do</strong> Ensino Normal e Primário as Viagens Aventurosas<br />

<strong>de</strong> Felício e Felizarda, que viriam a ser aprovadas para leitores correntes da 5ª classe <strong>em</strong> 30<br />

<strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1922 1<br />

. Razões <strong>de</strong> natureza económica para os educan<strong>do</strong>s ditariam, segun<strong>do</strong><br />

a mesma fonte, ainda, a partição da obra <strong>em</strong> <strong>do</strong>is volumes: Viagens Aventurosas <strong>de</strong> Felício<br />

e Felizarda ao Pólo Norte (1922) e Viagens Aventurosas <strong>de</strong> Felício e Felizarda ao Brasil<br />

(1923).<br />

Das motivações das narrativas nos informa a primeira <strong>de</strong>las. Reti<strong>do</strong> <strong>em</strong> casa, numa<br />

vila da Beira, não i<strong>de</strong>ntificada, <strong>de</strong> perna partida, Pedrinho não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>slocar-se à romaria,<br />

por que tanto ansiava. Da mãe, que permanecera com ele e a qu<strong>em</strong> requer o exclusivo da<br />

atenção, surge o ensinamento colhi<strong>do</strong> na sua própria meninice: na solidão da noite, s<strong>em</strong><br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>rmir, convertia-se ela mesma <strong>em</strong> personag<strong>em</strong> <strong>de</strong> histórias que inventava:<br />

“Compunha histórias, imaginava viagens, fazia-me protagonista <strong>de</strong> aventuras<br />

extraordinárias, e assim ia fixan<strong>do</strong> a Geografia e a História que aprendia nos livros. 2<br />

”<br />

História e Geografia, aventuras, viagens e histórias serão igualmente os el<strong>em</strong>entos<br />

integrantes das duas narrativas que eleg<strong>em</strong> como protagonistas Felício e Felizarda, os<br />

bonifrates <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a venda na romaria, que a mãe <strong>de</strong> Pedrinho se aplicava <strong>em</strong> vestir, no<br />

seu propósito <strong>de</strong> ajudar a viúva Teresa, uma vizinha necessitada.<br />

Baptiza<strong>do</strong>s e anima<strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, moralmente feitos à imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Hom<strong>em</strong>,<br />

ei-los prontos a principiar uma viag<strong>em</strong> <strong>de</strong> aventuras, um percurso <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>, cuja<br />

veridicção se reclama <strong>de</strong> fantasia, quer a <strong>de</strong> Pedro, <strong>de</strong>stinatário imediato <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ficcional<br />

<strong>de</strong> cada uma das narrativas, quer a <strong>do</strong>s leitores <strong>do</strong> universo escolar da 5ª classe da escola<br />

primária. Este duplo aspecto confere, certamente, a estas obras uma dimensão que,<br />

assentan<strong>do</strong> na utilida<strong>de</strong> e no <strong>de</strong>leite, convoca saberes <strong>de</strong> cariz programático e códigos <strong>de</strong><br />

natureza retórica próprios da literatura <strong>de</strong> viag<strong>em</strong>, que não apenas se entrecruzam, mas<br />

também se encontram legitima<strong>do</strong>s pelas orientações meto<strong>do</strong>lógicas <strong>em</strong>anadas da Direcção<br />

<strong>do</strong> Ensino Primário e Normal.<br />

Em 1911, o estu<strong>do</strong> da Geografia pressupunha a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incorporar «contos<br />

<strong>de</strong> viag<strong>em</strong>» e, <strong>em</strong> 1921, preconiza-se, para a 5ª classe, dirigida ao “Estu<strong>do</strong> geral sumário<br />

<strong>do</strong>s continentes”, que “o professor esboçará planos <strong>de</strong> excursões às várias regiões <strong>do</strong><br />

Continente, às ilhas adjacentes e possessões ultramarinas e os alunos <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> tu<strong>do</strong> o<br />

1 Durante a República vigorou a política da a<strong>do</strong>pção <strong>de</strong> vários manuais escolares. Uma Comissão examina<strong>do</strong>ra e<br />

o Conselho Superior da Instrução Pública seriam ouvi<strong>do</strong>s sobre esta matéria. Cf. Maria Cândida Proença et alii,<br />

(2000). Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950). Lisboa: Comissão Nacional para as<br />

Com<strong>em</strong>orações <strong>do</strong>s Descobrimentos Portugueses, p. 49.<br />

2 Ana <strong>de</strong> Castro Osório, (1998). Viagens Aventurosas <strong>de</strong> Felício e Felizarda ao Pólo Norte Organiza<strong>do</strong> e<br />

prefacia<strong>do</strong> por Fernan<strong>do</strong> Vale. Lisboa: Instituto Piaget, p. 24.<br />

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