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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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contornos fictícios, que <strong>de</strong>spertam a curiosida<strong>de</strong> <strong>do</strong> leitor menos experiente e o envolv<strong>em</strong> no<br />

processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>s. Como po<strong>de</strong>mos inferir, os verbos performativos reforçam<br />

o entrosamento dinâmico <strong>do</strong>s <strong>de</strong>ícticos, ou “<strong>de</strong>íctic-reference chaining”, nas palavras <strong>de</strong><br />

Paul Werth (1999: 207), garantes <strong>do</strong>s princípios <strong>de</strong> cooperação e <strong>de</strong> coerência a nível<br />

textual.<br />

A ênfase centra-se no pensamento simbólico e envolve estádios pré-cognitivos pelo<br />

apelo à imag<strong>em</strong> mental e envolvimento <strong>em</strong>ocional, a ex<strong>em</strong>plificar com “Digo-vos pois meus<br />

amigos” (Collodi 2004: 19), que constitui a frase introdutório <strong>do</strong> Capítulo IV e que retoma,<br />

parcialmente, o reconto <strong>de</strong> histórias prometi<strong>do</strong> pelo narra<strong>do</strong>r, no final <strong>do</strong> capítulo anterior:<br />

“Aquilo que aconteceu <strong>de</strong>pois é uma história incrível, que vos contarei nos próximos<br />

capítulos” (Ibi<strong>de</strong>m, p. 18). O alocutário é envolvi<strong>do</strong> num processo dialógico enfatiza<strong>do</strong>,<br />

igualmente, quer pela forma <strong>de</strong> tratamento, “meus amigos”, quer pela referência pronominal<br />

“vos”, para além da própria estrutura da narrativa.<br />

Com efeito, esta forma <strong>de</strong> enca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> sequências narrativas ocorre várias vezes<br />

na obra. Adiam-se, por um la<strong>do</strong>, episódios e acontecimentos, crian<strong>do</strong>-se expectativa e/ou<br />

curiosida<strong>de</strong> no narratário; por outro, esta estrutura narrativa surge como resposta à forma<br />

como os textos eram publica<strong>do</strong>s no séc. XIX. Cada episódio <strong>do</strong> conto foi publica<strong>do</strong> <strong>em</strong> forma<br />

<strong>de</strong> folhetim, <strong>em</strong> s<strong>em</strong>anários ou revistas da época, e só mais tar<strong>de</strong> Collodi publicou a versão<br />

integral.<br />

Noutras passagens é o próprio narra<strong>do</strong>r que estabelece uma relação lógica no<br />

enca<strong>de</strong>amento das sequências narrativas e envolve o leitor no seu discurso, como se fosse<br />

da sua responsabilida<strong>de</strong> verbalizar pensamentos comuns a ambos “Como se po<strong>de</strong><br />

imaginar, Pinóquio agra<strong>de</strong>ceu-lhe muito (…)” (Ibi<strong>de</strong>m, p. 49; negrito nosso.). Neste senti<strong>do</strong><br />

explica Michael Halliday (1994: 75):<br />

Thus the basic form of information is turning shared experience into meaning: that is,<br />

telling someone something that they already know… Thus the construction is again dialogic:<br />

meaning is created by the impact between a material phenomenon and the shared<br />

processes of consciousness of those who participated in it.<br />

É nesta relação dinâmica entre o real e o fictício, a nível textual, na dramatização <strong>de</strong><br />

situações familiares ao leitor, que o narra<strong>do</strong>r habilmente constrói a personag<strong>em</strong> Pinóquio.<br />

“Não era nenhuma ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> luxo mas um simples boca<strong>do</strong> <strong>de</strong> lenha, daqueles que<br />

no Inverno se põ<strong>em</strong> nos fogões e nas lareiras para acen<strong>de</strong>r o lume e aquecer as casas.”<br />

“(…) mas o que é certo é que um belo dia esse pedaço <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira apareceu na<br />

oficina <strong>de</strong> um velho carpinteiro (…)”<br />

“(…) viu aquele pedaço <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira” (Ibi<strong>de</strong>m, p. 5; Negrito nosso.)<br />

“(…) Perguntou Pinóquio, voltan<strong>do</strong>-se para um rapazinho que era ali da al<strong>de</strong>ia.<br />

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