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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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intervenção da professora para a <strong>leitura</strong> da imag<strong>em</strong>/charge <strong>em</strong> que Pinóquio estava<br />

estampa<strong>do</strong>. Lançaram-se os seguintes questionamentos como: O que queria dizer “Que<br />

s<strong>em</strong>ana...”? Porque tinha as inscrições CPI no chapéu? Qual a relação <strong>do</strong> Pinóquio com<br />

aquele texto visual e escrito?<br />

Aos poucos os alunos, provoca<strong>do</strong>s pelos questionamentos da professora e os<br />

discursos na mídia que estavam, naqueles dias, foca<strong>do</strong>s nos acontecimentos políticos,<br />

foram se envolven<strong>do</strong> na <strong>leitura</strong> da imag<strong>em</strong>/texto. Alguns foram falan<strong>do</strong> sobre os noticiários<br />

da televisão que traziam informações sobre a tal CPI até que, numa espécie <strong>de</strong> coro, foram<br />

afirman<strong>do</strong> também que já tinham ouvi<strong>do</strong> falar sobre ela.<br />

A partir <strong>de</strong> uma <strong>leitura</strong> coletiva da imag<strong>em</strong>/charge e <strong>do</strong>s acontecimentos políticos, os<br />

alunos passaram a assistir os noticiários e trazer recortes <strong>de</strong> jornais com as charges<br />

encontradas. As reportagens estavam s<strong>em</strong>pre recheadas <strong>de</strong> algum escândalo envolven<strong>do</strong><br />

representantes políticos. Foi apreendi<strong>do</strong> dinheiro <strong>em</strong> aeroportos, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> malas e inclusive<br />

<strong>em</strong> cuecas. A professora também estava atenta aos jornais <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> informações,<br />

levava jornais para a sala <strong>de</strong> aula para que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> acompanhar as reportagens e ler<br />

principalmente as charges.<br />

Ao falar <strong>de</strong>sta <strong>leitura</strong> como um fato social que se <strong>de</strong>u num contexto histórico <strong>do</strong> qual a<br />

professora e os alunos faziam parte, t<strong>em</strong>-se a impressão <strong>de</strong> que a <strong>leitura</strong> <strong>do</strong> texto literário <strong>de</strong><br />

Pinóquio foi sufocada pelo discurso político <strong>em</strong>ergente. A professora chegou a questionar-se<br />

sobre a dura realida<strong>de</strong> que estava fazen<strong>do</strong> aqueles alunos perceber<strong>em</strong>/ler<strong>em</strong>; afinal, tinham<br />

apenas sete anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Porém, passadas estas inquietações primeiras, retomou o<br />

entendimento <strong>de</strong> que as práticas sociais não estão <strong>de</strong>scoladas <strong>do</strong> cotidiano e que seria um<br />

equívoco <strong>de</strong>sviar a atenção das crianças apenas para as coisas boas da vida.<br />

De volta ao <strong>de</strong>leite <strong>do</strong>s capítulos da história, a professora e os alunos eram unicida<strong>de</strong><br />

cúmplice, naqueles minutos <strong>em</strong> que a imaginação fluía e os fatos cotidianos se tornavam<br />

leves. Às vezes as crianças convenciam-na a ler mais <strong>de</strong> um capítulo por dia, quão gran<strong>de</strong><br />

era a expectativa para <strong>de</strong>scobrir o que o capítulo seguinte reservava.<br />

Após o registro escrito coletivamente sobre as relações estabelecidas entre a charge e<br />

a literatura, ou seja, a <strong>leitura</strong> da realida<strong>de</strong>/vida e a <strong>leitura</strong> da literatura/arte, os alunos e a<br />

professora evi<strong>de</strong>nciaram o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> socializar com outras pessoas suas produções.<br />

Decidi<strong>do</strong>s a entrar <strong>em</strong> contato com CAO – chargista <strong>do</strong> Jornal <strong>de</strong> Santa Catarina, periódico<br />

on<strong>de</strong> a charge foi publicada –, começaram a escrever a ele anexan<strong>do</strong> as relações que<br />

estabeleceram entre a charge e a literatura. Ressalta-se aqui que a produção textual<br />

coletiva é importante ferramenta no processo <strong>de</strong> apropriação da norma padrão da língua<br />

escrita.<br />

O reconhecimento <strong>do</strong> caráter social da escrita pelos alunos provocou a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> experienciar a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> textos que circulam na socieda<strong>de</strong> e seus mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

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