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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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que o sentimento da unida<strong>de</strong> nacional não fosse <strong>de</strong>scura<strong>do</strong>, sugeria uma visualização<br />

simbólica <strong>do</strong> cânone da portugalida<strong>de</strong> (recria<strong>do</strong> durante gran<strong>de</strong> parte da sua produção<br />

escrita), naquilo que po<strong>de</strong>mos ler como uma <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>atologia da poética <strong>de</strong> Lopes Vieira4. Para ficar<strong>em</strong> <strong>de</strong>vidamente enquadradas, as teses e as propostas <strong>de</strong> Lopes Vieira, b<strong>em</strong><br />

como as <strong>do</strong>s seus companheiros <strong>de</strong> geração5,<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong> relacionar-se não apenas com as<br />

referidas e mordazes críticas <strong>de</strong> Eça <strong>de</strong> Queirós, mas com to<strong>do</strong> um programa <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le<br />

educativa e reformista, protagoniza<strong>do</strong> pela anterior geração literária, <strong>de</strong> que são mo<strong>de</strong>los<br />

ex<strong>em</strong>plares Garrett, Herculano, Antero <strong>de</strong> Quental e Castilho, cada um à sua maneira<br />

conscientes da importância básica da educação na consolidação <strong>de</strong> um regime progressista<br />

e verda<strong>de</strong>iramente <strong>de</strong>mocrático. Simplifican<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>mos dizer que os habitava uma<br />

fervorosa crença na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> regeneração operada pela educação, e to<strong>do</strong>s eles<br />

dissertam sobre t<strong>em</strong>as educativos e acabam por subordinar toda a sua produção literária a<br />

uma elevada missão cívica <strong>de</strong> pedagogia literária e social, reconhecida e louvada pelos<br />

seus cont<strong>em</strong>porâneos, que os consi<strong>de</strong>ram como mestres que lhes inculcam lições<br />

ex<strong>em</strong>plares. (Ferro, 1984: 639).<br />

A partir <strong>de</strong> 1907, as inova<strong>do</strong>ras i<strong>de</strong>ias pedagógicas <strong>de</strong> João <strong>de</strong> Deus tinham-se<br />

consubstancia<strong>do</strong> nos planos <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> escolas para impl<strong>em</strong>entação da Cartilha<br />

Maternal. Várias entida<strong>de</strong>s colaboraram com entusiasmo na angariação <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s para a<br />

construção <strong>do</strong> primeiro Jardim-Escola João <strong>de</strong> Deus, merecen<strong>do</strong> <strong>de</strong>staque o Orfeão<br />

Académico, dirigi<strong>do</strong> por António Joyce. Também Lopes Vieira encontra nesta causa um<br />

i<strong>de</strong>ário com o qual se i<strong>de</strong>ntifica e no qual participa activamente. O produto da venda da sua<br />

conferência <strong>de</strong> 1910, “O povo e os poetas portugueses” [PPP], <strong>de</strong>stina-o à Escola-<br />

pensamento <strong>do</strong> poeta, vai realisar-se <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> pouco <strong>em</strong> Lisboa uma exposição <strong>de</strong> algumas aulas,<br />

ornamentadas segun<strong>do</strong> o modêlo que elle concebeu e alvitrou. § E muito bom seria que esta iniciativa<br />

fructificasse amplamente por to<strong>do</strong> o paiz, não só para <strong>em</strong>belezar as aulas e educar as creanças, mas para nos<br />

aproximar <strong>de</strong> um objectivo <strong>de</strong> maior alcance nacional, como era <strong>de</strong>certo o ressurgimento e o aperfeiçoamento <strong>de</strong><br />

tantas manifestações <strong>de</strong> arte popular expontanea, que se t<strong>em</strong> <strong>de</strong>spreza<strong>do</strong> ou perdi<strong>do</strong>, e até a creação <strong>de</strong> novas<br />

fórmas, da activida<strong>de</strong> esthetica <strong>do</strong> povo, <strong>de</strong> accôr<strong>do</strong> com os recursos da natureza regional. […] § […] o nosso<br />

ensino primario ou technico, burocratisa<strong>do</strong> e centralisa<strong>do</strong> pelo absolutismo sufocante <strong>em</strong> que t<strong>em</strong>os vivi<strong>do</strong>, e<br />

continuamos a viver, é incapaz <strong>de</strong> reanimar a vida local que elle proprio abafou, e assim vai adian<strong>do</strong> para nunca<br />

mais a organisação da verda<strong>de</strong>ira escola <strong>do</strong> povo: a que chega a Realida<strong>de</strong> partin<strong>do</strong> da Região, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong><br />

attingir apenas o Orçamento pela via <strong>do</strong> Terreiro <strong>do</strong> Paço. (Campos, 1916: R, I: f. 117v.).<br />

4 Eis as propostas: Em todas as aulas se afixará um painel <strong>de</strong> azulejo com a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Camões, encimada<br />

pelas Armas <strong>de</strong> Portugal. § Emmolduradas segun<strong>do</strong> um modêlo estabeleci<strong>do</strong>, serão <strong>de</strong>penduradas na pare<strong>de</strong> as<br />

gravuras <strong>do</strong>s Painéis <strong>de</strong> São Vicente. Sôbre a mesa <strong>do</strong> professor, colocar-se-hão uma ou duas reduções <strong>de</strong><br />

esculturas <strong>de</strong> Soares <strong>do</strong>s Reis. Na realização dêste projecto ouvir-se-hão os directores <strong>do</strong>s museus provinciais.<br />

A Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Pedagógicos <strong>de</strong>verá organizar <strong>em</strong> Lisboa uma exposição <strong>de</strong> três modêlos da<br />

<strong>de</strong>coração projectada: — tipo <strong>de</strong> campo ou planície, <strong>de</strong> serra e marítimo. [DG: 288].<br />

5 Veja-se, a título <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo, as Cartas sobre a Educação Profissional, <strong>de</strong> António Sérgio, <strong>de</strong> 1916, na<br />

Renascença Portuguesa. Aí encontramos i<strong>de</strong>ias muito s<strong>em</strong>elhantes às <strong>de</strong> ALV, <strong>em</strong>bora a proposta <strong>de</strong> A. Sérgio<br />

contenha to<strong>do</strong> um plano curricular com objectivos, conteú<strong>do</strong>s, estratégias e activida<strong>de</strong>s, organização <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>pos<br />

lectivos, para aquilo que hoje <strong>de</strong>signamos por educação pré-escolar e 1.º ciclo <strong>do</strong> ensino básico — proposta que<br />

continua a fornecer respostas interessantes às mo<strong>de</strong>rnas investigações sobre o <strong>de</strong>senvolvimento infantil.<br />

Também João <strong>de</strong> Barros, <strong>em</strong> 1911, dava à estampa A nacionalização <strong>do</strong> Ensino, on<strong>de</strong> reunia gran<strong>de</strong> parte das<br />

suas intervenções na fulcral questão pedagógica, tal como foi entendida pelos i<strong>de</strong>alistas da República.<br />

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