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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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<strong>de</strong> 1914-16. Pelo menos a versão aí apresentada <strong>de</strong> "A Cigarra e a Formiga" é muito<br />

s<strong>em</strong>elhante à que aparece no CAP (1938). E <strong>em</strong> 1935, ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> Aquilino Ribeiro, Virgínia<br />

Lopes <strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça, Olavo <strong>de</strong> Eça Leal, Acácio <strong>de</strong> Paiva, Maria Lamas, Lopes Vieira<br />

colaborou com o s<strong>em</strong>anário infantil O Gaiato, dirigi<strong>do</strong> com dinamismo e inteligência por Alice<br />

Ogan<strong>do</strong>. No n.º 4 <strong>de</strong>ste s<strong>em</strong>anário aparec<strong>em</strong> duas reescritas da fábula clássica "A Cigarra e<br />

a Formiga" — "Fábula mentirosa" e "Fábula verda<strong>de</strong>ira". Leitor <strong>de</strong> Fabre, naturista que pela<br />

primeira vez se <strong>de</strong>dicou ao estu<strong>do</strong> da vida, hábitos e instintos <strong>do</strong>s insectos, o escritor<br />

<strong>de</strong>smonta as i<strong>de</strong>ias feitas sobre a preguiça da cigarra, confrontan<strong>do</strong>-as com as <strong>de</strong>scobertas<br />

recentes da ciência e repon<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong> e a utilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s hábitos e <strong>do</strong> canto da cigarra,<br />

simbolicamente aparentada com a <strong>do</strong> poeta.<br />

Resta saber se o que encontramos, ainda hoje, na obra <strong>de</strong> Lopes Vieira para a<br />

infância e para a juventu<strong>de</strong>, correspon<strong>de</strong> ao sentimento <strong>de</strong> gratidão sau<strong>do</strong>sista por um<br />

t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>finitivamente ultrapassa<strong>do</strong>, sentimento frequente entre os mestresescola<br />

que se serviram <strong>de</strong>stes livros para as várias práticas pedagógicas25. O mesmo<br />

sentimento que Teixeira Gomes tinha <strong>de</strong>scrito na elogiosa crítica que fez aos ANA, <strong>em</strong> "A<br />

Educação pela Arte", <strong>em</strong> 1911:<br />

[…] mais tar<strong>de</strong>, os homens feitos verificarão que a fonte <strong>do</strong> seu mais puro goso<br />

espiritual se alimentou <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte das imagens e nos po<strong>em</strong>as d'esse prodigioso<br />

companheiro <strong>de</strong> infancia. E não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> recordar exactamente n<strong>em</strong> as gravuras n<strong>em</strong> as<br />

canções <strong>do</strong> velho livro esqueci<strong>do</strong>, elles experimentarão, ao tentar reconstituil-as, um prazer<br />

infinitamente subtil, só comparavel áquelle que produz<strong>em</strong> essas figuras que a imaginação,<br />

ainda melhor <strong>do</strong> que os olhos, <strong>de</strong>scobre, completa e anima, nas velhas tapeçarias puidas —<br />

que representarão n'este caso os fastos da sua infancia. (Gomes, 1911: R, I: f. 62r.)<br />

Não muito longe <strong>de</strong>sta perspectiva, Italo Calvino consi<strong>de</strong>ra as repercussões formativas<br />

das obras lidas na fase da infância e da juventu<strong>de</strong> e encontra nessas <strong>leitura</strong>s, perdidas na<br />

nebulosa da infância, s<strong>em</strong>entes que explicam o to<strong>do</strong> <strong>do</strong> adulto, numa evi<strong>de</strong>nte afirmação da<br />

literatura como vertente principal <strong>de</strong> uma estética da i<strong>de</strong>ntificação:<br />

De facto as <strong>leitura</strong>s da juventu<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser pouco profícuas por impaciência,<br />

distracção, e inexperiência das instruções para o uso e inexperiência da vida. Po<strong>de</strong>m ser (se<br />

calhar ao mesmo t<strong>em</strong>po) formativas no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> dar<strong>em</strong> uma forma às experiências<br />

futuras, fornecen<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>los, conteú<strong>do</strong>s, termos <strong>de</strong> comparação, esqu<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />

25 É perfeitamente ex<strong>em</strong>plificativa <strong>de</strong>sta perspectiva a carta <strong>de</strong> A<strong>do</strong>lfo Lima, datada <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1943: […]<br />

Na minha vida <strong>de</strong> humil<strong>de</strong> mestre-escola, na preocupação <strong>de</strong> uma educação estética da Infância, o poeta ALV foi<br />

o meu melhor auxílio pelas magníficas poesias que lhe <strong>de</strong>dicaste e que sentia e interpretava com entusiasmo,<br />

quer <strong>em</strong> recitativos <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> Dizer, quer <strong>em</strong> canções. § S<strong>em</strong> a menor sombra <strong>de</strong> lisonja, foste o Poeta <strong>do</strong>s<br />

pequeninos que tamb<strong>em</strong> soubeste falar-lhes à sua sensibilida<strong>de</strong> e mentalida<strong>de</strong>. Não houve <strong>em</strong> Portugal outro<br />

poeta que melhor conhecesse a criancinha. § Se eu tivesse categoria e consi<strong>de</strong>ração social, a homenag<strong>em</strong>, que<br />

te promoveria, seria tôda por crianças, que, <strong>em</strong> romaria, te levariam flores <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento pela obra que lhes<br />

consagraste. […][BML, Cartas […], vol. XI].<br />

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