20.04.2013 Views

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O texto <strong>de</strong> Autozinho […], como ficou conheci<strong>do</strong> para se distinguir da adaptação para<br />

adultos, foi publica<strong>do</strong> no supl<strong>em</strong>ento literário <strong>do</strong> Diario <strong>de</strong> Noticias Illustra<strong>do</strong>, n.º 26, <strong>do</strong> Natal<br />

<strong>de</strong> 1917, e também <strong>em</strong> O Comércio <strong>do</strong> Porto <strong>de</strong> Natal, n.º 33, da mesma data, e foi<br />

<strong>de</strong>dica<strong>do</strong> às filhas <strong>de</strong> Raul Lino, Maria Christina e Isolda. Pela nota que acompanha esse<br />

texto, ficamos a saber que a peça tinha si<strong>do</strong> representada alguns anos antes (mais<br />

precisamente <strong>em</strong> 1913) e que o autor a teria cria<strong>do</strong> com intuitos claramente didácticos e<br />

moralistas18. O educa<strong>do</strong>r, que já tinha assinala<strong>do</strong> a poesia infantil com os seus po<strong>em</strong>ascantigas,<br />

a narrativa para a infância com a epopeia <strong>em</strong> prosa poética <strong>de</strong> BM, procurava com<br />

esta iniciativa cobrir o género dramático infantil, seguin<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> já anteriormente<br />

a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> — in<strong>do</strong> às origens e ressuscitan<strong>do</strong> o maior dramaturgo da história literária<br />

portuguesa: Gil Vicente. Lopes Vieira consegue os intentos <strong>de</strong> uma "Moralida<strong>de</strong><br />

proporcionada a seus [das crianças] entendimentos" através <strong>de</strong> uma arte aconselhada pela<br />

mo<strong>de</strong>rna pedagogia, <strong>de</strong> dar às crianças aquilo que estas po<strong>de</strong>m reconhecer no seu mun<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> experiências — o individual conheci<strong>do</strong> ou reconhecível a partir <strong>do</strong> qual se chega ao<br />

colectivo <strong>de</strong>sejável. Dessa estratégia faz<strong>em</strong> parte as personagens, alegorias <strong>de</strong> alguns<br />

"peca<strong>do</strong>s" que atormentam os mais novos e os mais velhos: o Guloso, o Soberbo, o<br />

Mentiroso, o Fingi<strong>do</strong>, a Mexeriqueira, o Hom<strong>em</strong> que cortou as árvores, o Hom<strong>em</strong> que fez<br />

mal aos animais. Só <strong>do</strong>is professores <strong>de</strong> instrução primária <strong>em</strong>ergentes no fim <strong>do</strong> auto,<br />

quais paladinos <strong>do</strong> saber e <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> estar correcta, são conduzi<strong>do</strong>s ao Paraíso,<br />

pela mão <strong>do</strong> anjo. Obviamente, trata-se <strong>de</strong> uma moralida<strong>de</strong> maniqueísta <strong>em</strong> que não há<br />

opção entre o b<strong>em</strong> e o mal, mas o que nos importa é realçar a presença <strong>do</strong>s mesmos<br />

princípios ecologistas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da natureza e <strong>do</strong>s animais, que vêm na continuida<strong>de</strong> da<br />

obra anterior, manten<strong>do</strong> toda a actualida<strong>de</strong>.<br />

Depois <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 10 anos <strong>de</strong> ausência, <strong>em</strong> que a obra poética <strong>de</strong> Lopes Vieira para<br />

adultos vai ganhan<strong>do</strong> um espaço peculiar e <strong>de</strong> reconhecimento, sobretu<strong>do</strong> através <strong>de</strong> CVS<br />

(1911), IB (1917), CSA (1918) e <strong>de</strong> PLDA (1922), aparece uma nova obra para jovens, <strong>de</strong>sta<br />

vez numa nova arte, o cin<strong>em</strong>a, a <strong>de</strong>monstrar a avi<strong>de</strong>z <strong>do</strong> escritor por todas as formas <strong>de</strong><br />

arte, mas também a alma <strong>de</strong> pedagogo, que preten<strong>de</strong> pôr ao serviço <strong>do</strong> público os últimos<br />

inventos da técnica. Referimo-nos a O Afilha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Santo António (ASA) — filme infantil —<br />

adaptação <strong>de</strong> um conto popular português e realização para cin<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Lopes Vieira (cujo<br />

texto/guião não conseguimos encontrar até ao momento no espólio da BML), mas <strong>do</strong> qual<br />

há uma larga notícia e resumo <strong>do</strong> argumento na revista Cinéfilo, 1.º Ano, n.º 1, <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong><br />

18 NOTA — Relen<strong>do</strong>, a alguns annos <strong>de</strong> distancia da tar<strong>de</strong> encanta<strong>do</strong>ra <strong>em</strong> que foi estreada, esta peçasinha,<br />

encontro-lhe o mérito <strong>de</strong> ser a primeira tentativa <strong>de</strong> theatro portuguez tradicional que se busca suggerir ás<br />

creanças, numa Moralida<strong>de</strong> proporcionada a seus entendimentos e seus gostos. Sen<strong>do</strong> propriamente uma<br />

brinca<strong>de</strong>ira, escrita para divertir pequenos amigos, não <strong>de</strong>ve este Auto ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como uma paródia, mas<br />

como um reflexo <strong>em</strong> que as creanças po<strong>de</strong>rão adivinhar uma velha obra-prima da sua Patria. — A.L.V. [op. cit.]<br />

279

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!