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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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estu<strong>do</strong>s literários, constituí<strong>do</strong>s pela história e pela crítica literárias, mais estreitamente<br />

ligadas às obras concretas e a partir <strong>do</strong>s quais se elabora a teoria literária 1<br />

.<br />

O trabalho específico daqueles que escolheram esta área <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> situar-se-á<br />

necessariamente no âmbito da história, da crítica ou da investigação literárias, toman<strong>do</strong><br />

como objecto as obras reais. Só através <strong>de</strong> uma produtiva intervenção naquilo que constitui<br />

os estu<strong>do</strong>s literários po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os <strong>de</strong> alguma forma intervir na ‘formatação’ da teoria literária,<br />

que sobre os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>stes estu<strong>do</strong>s se constrói. Se tu<strong>do</strong> é, como afirmava há já<br />

bastante t<strong>em</strong>po Cecília Meireles, ‘uma literatura só’, se os instrumentos que utilizamos no<br />

conhecimento <strong>do</strong>s textos são os mesmos <strong>de</strong> toda a literatura, forçosamente a teoria literária<br />

será, também ela, a mesma. É certo que Juan Cervera escreveu, <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos, uma valiosa<br />

obra intitulada Teoria <strong>de</strong> la literatura Infantil. Todavia, o que aí é feito é uma compilação <strong>do</strong>s<br />

traços específicos da literatura infantil, organiza<strong>do</strong>s <strong>em</strong> função <strong>de</strong> uma teoria constituída<br />

para todas as formas da literatura.<br />

Creio ser, portanto, no âmbito <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s literários que a investigação <strong>em</strong> literatura<br />

infantil e juvenil po<strong>de</strong> ser produtiva, ultrapassan<strong>do</strong> os seus próprios limites e alargan<strong>do</strong> as<br />

fronteiras <strong>de</strong> um saber que, institucionaliza<strong>do</strong>, ten<strong>de</strong> a cristalizar os seus conceitos e as<br />

suas perspectivas. De acor<strong>do</strong> com esta linha <strong>de</strong> pensamento, a partir <strong>do</strong> momento <strong>em</strong> que<br />

conseguirmos afirmar a existência <strong>de</strong> um consi<strong>de</strong>rável e rigoroso trabalho neste nível,<br />

abrir<strong>em</strong>os caminho à consi<strong>de</strong>ração das nossas conclusões na elaboração da teoria literária.<br />

E a verda<strong>de</strong> é que as obras da literatura para crianças e jovens oferec<strong>em</strong> vasto campo<br />

para probl<strong>em</strong>atização <strong>de</strong> varia<strong>do</strong>s aspectos da escrita literária, <strong>do</strong>s seus paradigmas e <strong>do</strong>s<br />

seus preconceitos, até mesmo da aplicabilida<strong>de</strong> efectiva das suas teorias.<br />

Uma das primeiras questões levantadas pelos mesmos factores que tornaram difícil a<br />

reconhecimento da literatura para crianças e jovens e a afirmação da sua área <strong>de</strong> estu<strong>do</strong><br />

pren<strong>de</strong>-se, como sab<strong>em</strong>os, com o para<strong>do</strong>xo <strong>de</strong> uma cultura que, caracterizada pela<br />

‘obsessão cultural e conceptual com a criança’, para usar palavras <strong>de</strong> Zohar Shavit<br />

(SHAVIT, 1991: 134), a exclui das elites culturais e minimiza não propriamente a importância<br />

mas o valor estético das formas <strong>de</strong> arte dirigidas a este público. Assim, a escrita para<br />

crianças e jovens mantém-se numa posição periférica <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a literário da<strong>do</strong> que este se<br />

t<strong>em</strong> orienta<strong>do</strong>, particularmente na cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>, pela complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s processos<br />

expressivos que, na chamada gran<strong>de</strong> literatura, substituíram ou alteraram significativamente<br />

os parâmetros <strong>de</strong> valorização <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>, circunscreven<strong>do</strong> a <strong>leitura</strong> compreensiva apenas<br />

aos inicia<strong>do</strong>s. Embora seja possível e frequente encontrar nos textos dirigi<strong>do</strong>s aos mais<br />

1 Tomo aqui como ponto <strong>de</strong> partida o raciocínio <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> por Antoine Compagnon, <strong>em</strong> Le démon<br />

<strong>de</strong> la théorie, on<strong>de</strong> o autor procura esclarecer o objecto característico da teoria e <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s<br />

literários. Todavia, <strong>em</strong>bora a imag<strong>em</strong> da pirâmi<strong>de</strong> procure incluir a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> abstracção crescente a<br />

que o autor se refere, ela surge aqui como uma sugestão minha, da<strong>do</strong> que a essa crescente<br />

abstracção se adiciona, naturalmente, um crescente nível <strong>de</strong> síntese.<br />

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