de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

A história termina em esvaziamento da situação de Medo através de uma cena
de Alegria: “Depois desataram todos a rir.”
- Não sejas tola, Lebre - disse o Sapo. – Não tens nada de que ter medo. Nós
estamos sempre aqui.” (s/p).
“Mouschi, o Gato de Anne Frank”, de José Jorge Letria, é um livro invulgar,
não pelo conteúdo, uma vez que conta o cativeiro de Anne Frank, mas quanto à forma.
O narrador é um gato de Anne que, dotado de extraordinária sensibilidade, relata, de
uma forma única, os sobressaltos e as angústias da vida no Anexo:
“Ali, apesar do medo que todos os dias os atormentava, podiam ter alguma paz
e, sobretudo, a garantia de que não seriam levados, pelo menos tão cedo, para um
campo de concentração (p.5). Eram todos judeus como ela e tinham esperança de que
os tempos maus passassem e pudessem ver finalmente o sol e falar normalmente,
sem medo de serem descobertos e presos.” (p.8).
E as situações de medo multiplicam-se ao longo da narrativa:
“Uma noite ouvimos pancadas fortes na porta e todos ficámos gelados de medo,
receando que o esconderijo tivesse sido descoberto.” (p.16). Mas Mouschi, que revela
uma ternura muito grande por Anne, bem queria salvá-la; dizia ele:
“E se eu pudesse dava-lhe asas ou então transformava-me em pássaro para a
levar para muito longe daquela prisão em que vivíamos amedrontados, daquele
caixote silencioso em que batiam vários corações ao mesmo tempo, com medo de
uma denúncia, de uma visita inesperada ou da chegada das ratazanas da Gestapo,
falando aos gritos e ameaçando tudo e todos com a tortura e com a morte.” (pp.26-27).
É uma obra preciosa, e não apenas quanto a estas situações de Medo.
“Comandante Hussi”, de Jorge Araújo, tal como Mouschi, o Gato de Anne
Frank, contempla situações de Medo num cenário de guerra. Em Comandante Hussi,
o Medo surge associado à Morte.
Uma das situações de Medo ocorre num dos momentos mais interessantes do
livro e que, em nosso entender, o adequa de forma tão pertinaz a um público jovem.
Hussi, quando tem de abandonar a sua aldeia, porque a guerra começou, não
pode levar a sua querida bicicleta e enterra-a no chão da cozinha. No entanto, a
bicicleta do menino tem medo de ficar sozinha:
“Tenho medo... Tenho medo (...) Tenho medo do escuro. (...) Por favor, não
deites mais terra. Tenho medo do escuro.” (p.24)
E Hussi, surpreso, acaba por responder-lhe, entrando no faz de conta:
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