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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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2. Bartolomeu Marinheiro, Canto Infantil, 2 textos dramáticos para a infância, 1<br />

incursão pelo cin<strong>em</strong>a para a infância, mo<strong>de</strong>los para a juventu<strong>de</strong> e outros projectos<br />

para a infância<br />

Para o contexto <strong>de</strong> renovação nacionalista que se vivia, Bartolomeu Marinheiro [BM]<br />

vinha preencher um vazio educativo com um pedaço <strong>de</strong> historia e <strong>de</strong> lenda posto <strong>em</strong> verso,<br />

como dizia um crítico <strong>de</strong> então, que consi<strong>de</strong>rava: […] O BM é uma gran<strong>de</strong> obra social e o<br />

seu nacionalismo é tanto que a gente, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o lêr, parece que se sente um pouco mais<br />

apega<strong>do</strong> a este lin<strong>do</strong> torrão, que teve homens como o audaz navega<strong>do</strong>r da Flôr <strong>do</strong> Mar e<br />

que ainda t<strong>em</strong> poetas como ALV para ensinar ás crianças a amal-os e a conhecel-os. […]<br />

(AN, [1912rr]: R, I: f. 88r.).<br />

O BM é a epopeia dramática — <strong>em</strong> cinco partes — <strong>do</strong> nosso Bartolomeu Dias que<br />

venceu o "Gigante Adamastor" e que abriu o caminho à vastidão <strong>do</strong> pensamento<br />

experimental, como tão b<strong>em</strong> <strong>do</strong>cumenta esta fala <strong>de</strong> Bartolomeu: Po<strong>de</strong>m lá passar s<strong>em</strong><br />

me<strong>do</strong>, / que o Gigante Adamastor / não é mais <strong>do</strong> que um pene<strong>do</strong>! [BM: 40]. BM serviu os<br />

propósitos daqueles que achavam que a missão <strong>do</strong> poeta, através da obra, era dar: […] uma<br />

soberba lição <strong>de</strong> história e patriotismo […] aos que amanhã hão <strong>de</strong> ser os portuguezes<br />

dirigentes <strong>de</strong> Portugal. É a mais bela página <strong>de</strong> patriotismo que se t<strong>em</strong> escrito […] (AN,<br />

[1912rr]: R, I: f 88r.); <strong>de</strong>siludiu profundamente Pessoa, que pensava que as crianças que o<br />

less<strong>em</strong> seriam levadas […] ao antipatriotismo pelo inevitável <strong>de</strong>sdém que um livro como o<br />

Bartolomeu Marinheiro leva a ter pelo navega<strong>do</strong>r, que ali aparece vesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> bebé <strong>de</strong><br />

Carnaval, cheio <strong>de</strong> fobias, por lhe ter<strong>em</strong> si<strong>do</strong> metaforizadas na infância cousas como que<br />

um quarto escuro é logicamente terrível […] (Pessoa, [1913]: 193). Num artigo laudatório,<br />

publica<strong>do</strong> no periódico Vitória, um dia <strong>de</strong>pois da morte <strong>de</strong> Lopes Vieira, a 26 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong><br />

1946, ainda é esta polémica que se chama ao palco <strong>do</strong> ajuste <strong>de</strong> contas final, queren<strong>do</strong> dar<br />

a vitória da resistência t<strong>em</strong>poral a BM: […] A nossa mocida<strong>de</strong> não lerá nunca mais certos<br />

artigos <strong>de</strong> jornal, mas continuará a recitar o Bartolomeu Marinheiro. […] (AN, 1946b: 7).<br />

Cada uma <strong>de</strong>stas <strong>leitura</strong>s antagónicas só está a ler um la<strong>do</strong> da obra — o que t<strong>em</strong> alguma<br />

coisa a ver com a sua própria i<strong>de</strong>ologia, mas pouco com a estética da obra <strong>em</strong> si mesma.<br />

Significa isto que cada um <strong>de</strong> nós, <strong>em</strong> certos momentos, po<strong>de</strong> tornar-se sur<strong>do</strong> ao valor<br />

estético da palavra, para ouvir apenas a sua vertente i<strong>de</strong>ológica. Hoje, ao lermos este livro,<br />

fazêmo-lo com a mesma avi<strong>de</strong>z com que s<strong>em</strong>pre nos sentámos a ouvir histórias, e julgamos<br />

que é sobretu<strong>do</strong> por aí que o livro resulta e po<strong>de</strong> continuar a ocupar um lugar numa<br />

pedagogia que faça da narrativa um instrumento <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> sobre as próprias<br />

estratégias discursivas colocadas <strong>em</strong> funcionamento pela escrita.<br />

A acrescentar ao êxito <strong>de</strong> BM e ANA, e por razões idênticas, t<strong>em</strong>os o Canto Infantil<br />

[CI], ilustra<strong>do</strong> por Raul Lino e musica<strong>do</strong> por Tomás Borba, com uma 1.ª ed. <strong>em</strong> 1912, uma<br />

2.ª <strong>em</strong> 1916 e uma 3.ª <strong>em</strong> 1931. Este livro serviu uma série <strong>de</strong> gerações, como compêndio<br />

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