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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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<strong>em</strong>ancipação para conseguir<strong>em</strong> a <strong>de</strong>sejada fusão com o mun<strong>do</strong>” (Silva, 2007:253-255). Só<br />

porque Nadia e Alex compreen<strong>de</strong>ram e respeitaram a existências das Bestas se pô<strong>de</strong><br />

cumprir o espaço/t<strong>em</strong>po míticos da verda<strong>de</strong>ira isotopia com esse lugar fora <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po.<br />

Ambos se sab<strong>em</strong> recompensa<strong>do</strong>s pela sua árdua aprendizag<strong>em</strong>, pois esta fez-se pelo<br />

contacto com a Natureza-mãe, com o <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>, com o perigo, o que fortaleceu as suas<br />

próprias vonta<strong>de</strong>s, mostran<strong>do</strong> estar<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre presentes (numa relação <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>ento) a<br />

<strong>de</strong>terminação, a maturida<strong>de</strong> e a corag<strong>em</strong>. As personagens estiveram atentas ao que as<br />

ro<strong>de</strong>ava, permitin<strong>do</strong> que as novas experiências se manifestass<strong>em</strong> como momentos únicos e<br />

iniciáticos, por isso obtiveram o “auxílio sobrenatural” e passaram pelo “primeiro limiar” <strong>de</strong><br />

que nos fala Joseph Campbell (2004:77-88), ace<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sta forma, à categoria <strong>de</strong> herói.<br />

Assim, e só porque são seres <strong>de</strong> alma pura, que aceitaram e correspon<strong>de</strong>ram<br />

fielmente ao que lhes era solicita<strong>do</strong>, a iniciação <strong>de</strong>stas personagens torna-se, para além <strong>de</strong><br />

uma contínua aprendizag<strong>em</strong> pessoal, numa manifestação antropológica <strong>de</strong> aculturação,<br />

evi<strong>de</strong>nciada no respeito pela Natureza e pelas outras culturas existentes. Sen<strong>do</strong> capazes <strong>de</strong><br />

enfrentar a fúria <strong>do</strong>s <strong>de</strong>uses na Cida<strong>de</strong> das Bestas e manifestar o seu crescimento face à<br />

atitu<strong>de</strong> a a<strong>do</strong>ptar, Alex e Nádia procuram cumprir as suas <strong>de</strong>mandas s<strong>em</strong> se <strong>de</strong>ixar enganar<br />

por falsos sentimentos ou razões contrárias ao que <strong>de</strong>sejavam: Nádia, os “Os três ovos <strong>do</strong><br />

ninho” para salvar o povo da neblina, e Alex “a água da saú<strong>de</strong>” para salvar a sua mãe 9<br />

.<br />

Em O Reino <strong>do</strong> Dragão <strong>de</strong> Ouro (Allen<strong>de</strong>, 2003), segunda parte da trilogia, as<br />

personagens principais são, <strong>de</strong>sta vez, transportadas para um outro ambiente natural e<br />

místico, situa<strong>do</strong> no coração <strong>do</strong>s Himalaias. Aí, no meio <strong>de</strong> uma esplen<strong>do</strong>rosa paisag<strong>em</strong>, o<br />

jov<strong>em</strong> herói (i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> como herói-duplo nas personagens <strong>de</strong> Alexan<strong>de</strong>r, Nadia e <strong>do</strong><br />

príncipe Dil Bahadur), muito mais <strong>do</strong> que confrontar-se com os inúmeros perigos da viag<strong>em</strong>,<br />

<strong>de</strong>ve apren<strong>de</strong>r o porquê <strong>de</strong> uma existência levada a cabo com a sabe<strong>do</strong>ria da sincerida<strong>de</strong> e<br />

da serenida<strong>de</strong>. O saber ancestral <strong>de</strong> uma outra cultura é-nos faculta<strong>do</strong>, tanto nos<br />

importantes ensinamentos <strong>do</strong> monge budista, que t<strong>em</strong> a seu cargo a educação <strong>do</strong> príncipe<br />

Dil Bahadur, como nas realizações pessoais levadas a cabo por Alex e Nadia, ambos<br />

sujeitos já inicia<strong>do</strong>s, mas ainda <strong>em</strong> aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Des<strong>de</strong> o primeiro capítulo, a extraordinária <strong>de</strong>scrição da relação <strong>de</strong> absoluta<br />

confiança, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> lealda<strong>de</strong> e amiza<strong>de</strong>, entre o monge budista – Tensing – e o príncipe<br />

Dil Bahadur, realiza no leitor uma interiorização <strong>de</strong> valores ético-morais, baliza<strong>do</strong>s entre a<br />

t<strong>em</strong>perança e um auto conhecimento cíclico, o que evi<strong>de</strong>ncia a revalidação <strong>do</strong> crescimento<br />

psicossocial <strong>do</strong> jov<strong>em</strong> discípulo. Mais tar<strong>de</strong>, sob os ensinamentos <strong>do</strong> monge, também<br />

Alexan<strong>de</strong>r e Nadia compreen<strong>de</strong>m como criar <strong>de</strong>fesas físicas e psíquicas, fortalecen<strong>do</strong> as<br />

suas personalida<strong>de</strong>s através <strong>do</strong> exercício da mente:<br />

9 Não nos é possível transcrever os <strong>de</strong>mais excertos relativos à permanência <strong>de</strong> ambos os heróis na “Cida<strong>de</strong> das<br />

Bestas”. Sugerimos, contu<strong>do</strong>, a <strong>leitura</strong> <strong>do</strong>s: 14º, 15º, 16º e 17º capítulos (Allen<strong>de</strong>, 2002:189-228).<br />

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