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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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“- O que lhe parece? Aquilo são pessoas <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> educadas para fazer<strong>em</strong> uma<br />

afronta <strong>de</strong>ssas a Vossa Senhoria.<br />

cabeça.”<br />

- É pena! Essa afronta ter-me-ia da<strong>do</strong> muito prazer! – disse Pinóquio, coçan<strong>do</strong> a<br />

Por último, atent<strong>em</strong>os, ainda que sucintamente, na alternância da focalização por parte<br />

da voz narrativa, <strong>de</strong> interna, nomeadamente pela verbalização <strong>do</strong>s pretensos pensamentos<br />

<strong>do</strong> Pinóquio (2), ou externa, pelo relato <strong>de</strong> factos ou <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> personagens e ambientes<br />

(1), a qual é coadjuvada por coor<strong>de</strong>nadas textuais, nomeadamente pelo distal “aquele”, ora<br />

anafórico (1), ora catafórico:<br />

(1)<br />

“Gepeto, ven<strong>do</strong> que aqueles <strong>do</strong>is olhos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira o olhavam, quase levou a mal, e<br />

disse <strong>em</strong> tom melindra<strong>do</strong> (…) (Ibi<strong>de</strong>m, p. 16; negrito nosso.)<br />

(2)<br />

“S<strong>em</strong> que lho tivess<strong>em</strong> que repetir, o boneco começou a caminhar por aquele atalho<br />

que ia dar ao povoa<strong>do</strong>.<br />

Mas o pobre diabo já n<strong>em</strong> sabia <strong>em</strong> que mun<strong>do</strong> se encontrava.”<br />

(Ibi<strong>de</strong>m, p. 128; negrito nosso.)<br />

A interpretação <strong>do</strong>s <strong>de</strong>ícticos é facilitada no espaço enunciativo na interacção das<br />

personagens, no caso <strong>de</strong> se tratar <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> uma personag<strong>em</strong> a expressar<br />

directamente opiniões, sentimentos, por vezes imbuídas <strong>de</strong> ironia, sarcasmo ou humor,<br />

patente <strong>em</strong>:<br />

“Miú<strong>do</strong> malva<strong>do</strong>! E pensar que me esforcei tanto para fazer aquele boneco b<strong>em</strong>comporta<strong>do</strong>!”<br />

(Ibi<strong>de</strong>m, p. 18)<br />

“(…) essa afronta ter-me-ia da<strong>do</strong> muito prazer.” (Ibi<strong>de</strong>m, p. 56)<br />

Com efeito, Collodi apresenta-nos uma forma peculiar <strong>de</strong> ler, visualizar/percepcionar e<br />

perceber o mun<strong>do</strong> ao promover o pensamento simbólico, a compreensão abstracta e<br />

conceptual, muitas vezes coloca<strong>do</strong>s <strong>em</strong> segun<strong>do</strong> plano no mun<strong>do</strong> actual, <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pela<br />

imag<strong>em</strong>, televisão e pelos novos media. A propósito, explica Werth (1999: 207), a<br />

focalização envolve um participante, “(the producer) <strong>de</strong>fining a world for the benefit of<br />

another participant (recipients), and therefore have the egocentric bias common to <strong>de</strong>ictic<br />

syst<strong>em</strong>s, and typically display a <strong>de</strong>ictic zero-point”. Numa conclusão breve, e ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta<br />

os enuncia<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> ocorr<strong>em</strong> os <strong>de</strong>ícticos selecciona<strong>do</strong>s, verificamos que estes são<br />

imbuí<strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma carga s<strong>em</strong>ântica e sintáctica, que projecta mesmo os jovens leitores no<br />

processo dialógico <strong>de</strong> interacção com o conto, num crescen<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>oções. É, por este<br />

motivo, que são <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s por Paul Werth (1999: 184) <strong>de</strong> “stimuli ostensive <strong>de</strong>vices” ou<br />

“intentional attention-drawing <strong>de</strong>vices”.<br />

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