20.04.2013 Views

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Com efeito, a aceitação <strong>de</strong> si surgirá, no final da narrativa, quan<strong>do</strong> Afonso, o seu<br />

melhor amigo, fica <strong>do</strong>ente e é opera<strong>do</strong> <strong>de</strong> urgência a um tumor. A serenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Afonso ao<br />

falar da sua curta esperança <strong>de</strong> vida, um t<strong>em</strong>a também ele inova<strong>do</strong>r no quadro da literatura<br />

<strong>de</strong> potencial recepção juvenil no nosso país, impressiona <strong>de</strong>finitivamente Catarina, <strong>de</strong> tal<br />

forma que n<strong>em</strong> consegue enfrentá-lo, porque o outro se institui, neste contexto, como o<br />

Mesmo, ou o seu Duplo, e, assim sen<strong>do</strong>, olhar o Outro é, como diria Levinas (1988), olharse<br />

a si próprio:<br />

- Eu não te disse antes, porque estavas no hospital...<br />

Não me disseste antes o quê? – perguntou ela baixinho, s<strong>em</strong> ousar enfrentá-lo.<br />

Que estou a morrer, Catarina – respon<strong>de</strong>u ele, agora com uma clareza calma na voz.<br />

– A quimioterapia já não está a dar resulta<strong>do</strong>, percebes? Mas não quero que te preocupes,<br />

‘tás a ouvir? Eu também nunca gostei assim muito <strong>de</strong> viver, tu sabes... Só tenho pena é <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ver as pessoas <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> gosto. (DB, 116)<br />

Apesar <strong>de</strong> se antever um final trágico para Afonso, uma vez que os tratamentos, como<br />

é notório pelas suas palavras, não resultam no seu caso, há um tom optimista no final. Com<br />

efeito, os probl<strong>em</strong>as que os <strong>do</strong>is amigos durante tanto t<strong>em</strong>po criaram por não aceitar<strong>em</strong> a<br />

sua imag<strong>em</strong> corporal, total ou fragmentada, são resolvi<strong>do</strong>s no fecho da narrativa, quan<strong>do</strong><br />

assum<strong>em</strong> finalmente, e s<strong>em</strong> máscaras, as suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s:<br />

- Cada um é como é, e pronto. Que se lixe!<br />

(...) Afonso tirou o lenço, ergueu a mão b<strong>em</strong> alto e lançou-o no ar, exclaman<strong>do</strong>:<br />

- Que se lixe a careca! (...) Com uma cara <strong>de</strong>stas, qu<strong>em</strong> é que vai reparar que não<br />

tenho cabelo? (DB, 119)<br />

É claramente uma estratégia pedagógica direccionada para o provável leitor juvenil da<br />

obra, que assim compreen<strong>de</strong> a importância <strong>de</strong> encarar <strong>de</strong> frente as vicissitu<strong>de</strong>s encontradas<br />

ao longo da vida e aceitá-las com corag<strong>em</strong> e <strong>de</strong>terminação.<br />

É, pois, o confronto com o outro, nesta obra <strong>em</strong> particular, alia<strong>do</strong> à situação-limite<br />

vivida pelo sujeito na sequência da sua obsessão pela imag<strong>em</strong> corporal que favoreceu <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>finitivo o apaziguamento das perturbações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m existencial e afectiva que a entrada<br />

na a<strong>do</strong>lescência acarretou.<br />

Já <strong>em</strong> Diário Secreto <strong>de</strong> Camila, os esforços da protagonista para alcançar o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />

beleza f<strong>em</strong>inina que a cultura cont<strong>em</strong>porânea oci<strong>de</strong>ntal padronizou não têm consequências<br />

tão dramáticas como as que, no caso <strong>de</strong> Catarina, originaram o seu internamento hospitalar.<br />

Na realida<strong>de</strong>, Camila não passa por um processo tão violento, mas precisa contu<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>agrecer para apren<strong>de</strong>r a gostar <strong>de</strong> si e a aceitar a sua imag<strong>em</strong> corporal. Só então,<br />

quan<strong>do</strong> o seu corpo se aproxima <strong>do</strong>s padrões <strong>de</strong> beleza que julga i<strong>de</strong>ais, ousa finalmente<br />

enfrentar o espelho:<br />

220

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!