20.04.2013 Views

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

“A Menina Branca, o Rapaz Preto”. Em to<strong>do</strong>s eles é particularmente notória a<br />

hiperbolização lúdica criada por comportamentos <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> corpos diferentes,<br />

comportamentos opostos ou cores diferentes, respectivamente.<br />

Mas as situações dicotómicas, ao invés <strong>de</strong> gerar incompatibilida<strong>de</strong>s, originam a<br />

união, sobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> se é o mais diferente possível. To<strong>do</strong> o texto <strong>de</strong> “O Hom<strong>em</strong><br />

Alto e a Mulher Baixinha” se irá construir com base numa estrutura paralelística<br />

antitética, enfatizan<strong>do</strong> a diferença e promoven<strong>do</strong> a sua aceitação:<br />

“Era uma vez um hom<strong>em</strong> tão alto, tão alto, tão alto, que batia com a cabeça nas<br />

nuvens (…) Era uma vez uma mulher tão baixa, tão baixa, tão baixa [ 3<br />

], que usava os<br />

malmequeres como chapéus-<strong>de</strong>-sol” (…) (Soares, 2002:1)<br />

“O hom<strong>em</strong> alto tinha <strong>de</strong> entrar <strong>de</strong> rastos no túnel on<strong>de</strong> <strong>do</strong>rmia. (…) A mulher<br />

baixinha tinha <strong>de</strong> usar um esca<strong>do</strong>te para subir o único <strong>de</strong>grau <strong>do</strong> rés-<strong>do</strong>-chão <strong>em</strong> que<br />

morava.” (I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m: 3)<br />

“O hom<strong>em</strong> alto era um gran<strong>de</strong> polícia sinaleiro. Mas só <strong>de</strong> aviões. A mulher<br />

baixinha era uma gran<strong>de</strong> médica, mas só tratava <strong>do</strong>enças <strong>do</strong>s pés.” (I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m: 5)<br />

Quan<strong>do</strong>, finalmente, estamos convenci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> que há um muro intransponível<br />

entre eles, eis que:<br />

“Um dia a mulher baixinha foi chamada para ver uns pés que pertenciam a um<br />

corpo que nunca mais acabava. O <strong>do</strong>ente ficou espanta<strong>do</strong> com aquela médica, que<br />

mal chegava à altura <strong>de</strong> um sapato. Pediu-lhe licença para a erguer no ar. Então,<br />

frente a frente, repararam como eram pareci<strong>do</strong>s - tinham ambos cabelos ruivos, olhos<br />

ver<strong>de</strong>s, três sardas na ponta <strong>do</strong> nariz” (I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m: 5).<br />

O sublinhar das diferenças feito pelo narra<strong>do</strong>r é ultrapassa<strong>do</strong> pelo olhar das<br />

personagens, que até se acham parecidas uma com a outra. Tão diferentes e, apesar<br />

disso, tão iguais naquilo que é essencial e irmana to<strong>do</strong>s os homens: o sorriso e o<br />

olhar. No caso <strong>de</strong> “O Rapaz Magro, A Rapariga Gorda”, também as diferenças entre<br />

os protagonistas são hiperbolizadas, <strong>de</strong>sta vez no que ao aspecto físico diz respeito 4<br />

:<br />

“Era uma vez um rapaz tão magro, tão magro, tão magro que passava s<strong>em</strong> se<br />

molhar entre as gotas <strong>de</strong> chuva. (…) Era uma vez uma rapariga tão gorda, tão gorda,<br />

tão gorda que, às vezes, lhe chovia sobre o braço direito, enquanto o esquer<strong>do</strong><br />

apanhava sol.” (Soares, 2002:8)<br />

3<br />

Atente-se na repetição, como recurso estilístico usa<strong>do</strong> para enfatizar a diferença abissal entre<br />

as personagens.<br />

4<br />

O texto, pelo seu exagero, quase nos faz l<strong>em</strong>brar uma ane<strong>do</strong>ta, tão ao gosto infantil.<br />

401

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!