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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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Junho <strong>de</strong> 1928, pp. 15 a 18. Esta breve informação é bastante importante por nos mostrar<br />

uma faceta menos conhecida <strong>de</strong> Lopes Vieira — a relação com a 7.ª arte — perfeitamente<br />

incluída no <strong>de</strong>sejo já manifesta<strong>do</strong> <strong>de</strong> instrução alargada que pu<strong>de</strong>sse chegar a um público<br />

cada vez maior, através <strong>de</strong> meios mais aliciantes e agradáveis. Esta experiência cinéfila<br />

para crianças, que não sab<strong>em</strong>os se foi a primeira ou o fruto <strong>de</strong> anteriores tentativas, ajudanos<br />

a perceber o seu <strong>em</strong>penhamento <strong>em</strong> filmes como Camões, estrea<strong>do</strong> apenas <strong>em</strong> 1947,<br />

um ano após a morte <strong>do</strong> escritor.<br />

Uma outra vertente da obra <strong>de</strong> Lopes Vieira diz respeito à adaptação <strong>de</strong> obras<br />

consi<strong>de</strong>radas funda<strong>do</strong>ras da nossa cultura literária e, por razões diversas, on<strong>de</strong> se inclui a<br />

publicação <strong>em</strong> línguas estrangeiras ou o tamanho exagera<strong>do</strong> da obra, inacessíveis ao<br />

público. O seu projecto consistiu <strong>em</strong> restaurar essas obras fundamentais, restituin<strong>do</strong>-as à<br />

língua da cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong> e r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lan<strong>do</strong>-as <strong>em</strong> função <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> <strong>leitura</strong>,<br />

como diz<strong>em</strong>os mo<strong>de</strong>rnamente. Desse projecto saíram as obras-primas como RA (1922),<br />

DJM (1924) e o PC (1929), a parte da obra que mais motivos <strong>de</strong> orgulho trouxe a Lopes<br />

Vieira. Por isso, não podia esquecer as crianças. Assim, no Natal <strong>de</strong> 1938, publica O Conto<br />

<strong>de</strong> Amadiz <strong>de</strong> Portugal para os rapazes portugueses [CAP], com <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> Lino António.<br />

É interessante continuarmos a notar uma predisposição <strong>do</strong> escritor para publicar obras para<br />

crianças na época festiva <strong>do</strong> Natal, mas um estu<strong>do</strong> sociológico e <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> mostrar-nos-ia<br />

como isso faz parte <strong>de</strong> um posicionamento estratégico <strong>do</strong> escritor, conhece<strong>do</strong>r da<br />

<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> público, <strong>em</strong> primeiro lugar, da hipótese <strong>de</strong> aquisição <strong>do</strong> livro facilitada pela<br />

época natalícia, como acontecia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> Eça. Mas é também um sinal claro <strong>de</strong><br />

que a abundância <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> livros para a infância e juventu<strong>de</strong> não era ainda gran<strong>de</strong><br />

(n<strong>em</strong> a qualida<strong>de</strong> a eles associada19), e daí que se aguardasse a altura mais propícia.<br />

A <strong>leitura</strong> <strong>de</strong> CAP não po<strong>de</strong> fazer-se s<strong>em</strong> uma comparação prévia com RA, e <strong>de</strong><br />

algumas das polémicas por ele suscitadas, para chegarmos à conclusão das evi<strong>de</strong>ntes<br />

preocupações didácticas e moralistas espelhadas na obra para crianças. CAP é, s<strong>em</strong><br />

dúvida, um belo conto para rapazes e para raparigas, <strong>em</strong>bora inicialmente Lopes Vieira<br />

sentisse algumas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> redacção. Mas o resulta<strong>do</strong> foi satisfatório e quase 40 anos<br />

<strong>de</strong>pois, <strong>em</strong> 1973, aparec<strong>em</strong> excertos <strong>de</strong> RA incluí<strong>do</strong>s num livro da editora Verbo claramente<br />

<strong>de</strong>stina<strong>do</strong> a um público juvenil — as 15 Epopeias <strong>de</strong> Cavalaria — o que <strong>de</strong>monstra a<br />

longevida<strong>de</strong> <strong>do</strong> t<strong>em</strong>a e o interesse arquetípico que continua a levantar.<br />

O programa <strong>de</strong> Lopes Vieira não <strong>de</strong>via acabar por aqui. Na sequência <strong>do</strong> êxito com os<br />

ANA, os autores chegam a anunciar um outro livro <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> à infância intitula<strong>do</strong> Cavaleiros<br />

19 Agostinho <strong>de</strong> Campos, <strong>em</strong> carta datada <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1938, refere-se a estas duas faces <strong>de</strong> uma<br />

mesma moeda — a qualida<strong>de</strong> gráfica e a qualida<strong>de</strong> literária — […] Acariciei primeiro, com olhos e <strong>de</strong><strong>do</strong>s, a<br />

edição perfeita <strong>do</strong> seu CAP; <strong>de</strong>pois saboreei-lhe o texto, admiran<strong>do</strong> por um la<strong>do</strong> a arte <strong>de</strong> transposição para as<br />

ida<strong>de</strong>s felizes, e por outro a da expressão, tão seriamente cuidada e escolhida, tão distante da miséria que por aí<br />

vai no que toca à escrita literária, ou pseu<strong>do</strong>-literária. […] [BML, Cartas […], vol. XI].<br />

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