20.04.2013 Views

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Introdução<br />

Na busca incessante <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> si e da sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, o ser <strong>em</strong> construção<br />

<strong>de</strong>bate-se internamente com questões estruturantes como as da corporalida<strong>de</strong> e <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>spertar da sexualida<strong>de</strong>.<br />

Tais questões assum<strong>em</strong>, na literatura portuguesa <strong>de</strong> potencial recepção juvenil nas<br />

últimas décadas <strong>do</strong> século XX, particular relevância ao nível <strong>do</strong>s discursos plurais das<br />

personagens a<strong>do</strong>lescentes (na sua maioria raparigas), que, não se reven<strong>do</strong> arquétipos<br />

cont<strong>em</strong>porâneos <strong>de</strong> beleza f<strong>em</strong>inina, regra geral conviv<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma pouco pacífica com o<br />

corpo que têm. É o que suce<strong>de</strong> justamente <strong>em</strong> Dietas e Borbulhas, <strong>de</strong> Maria Teresa Maia<br />

Gonzalez, Diário <strong>de</strong> Sofia & Cª, <strong>de</strong> Luísa Ducla Soares, Diário Secreto <strong>de</strong> Camila, <strong>de</strong> Ana<br />

Maria Magalhães e Isabel Alçada, e Cinco T<strong>em</strong>pos, Quatro Intervalos, <strong>de</strong> Ana Saldanha,<br />

obras que colocam <strong>em</strong> cena a<strong>do</strong>lescentes com probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> auto-estima e que, por isso<br />

mesmo, serão objecto <strong>de</strong> análise na presente comunicação.<br />

1. A imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> eu: auto-percepção e (in)aceitação da imag<strong>em</strong> corporal<br />

Nas obras que constitu<strong>em</strong> o corpus selecciona<strong>do</strong> para a elaboração <strong>do</strong> presente<br />

estu<strong>do</strong>, as personagens a<strong>do</strong>lescentes f<strong>em</strong>ininas manifestam discursivamente a insatisfação<br />

e a revolta que a percepção <strong>de</strong> si e <strong>do</strong> seu corpo provoca no seu íntimo quase s<strong>em</strong>pre<br />

através <strong>de</strong> um registo hiperbólico, e por vezes coloquial, que sinaliza o paroxismo da sua<br />

perturbação interior.<br />

Neste contexto, e porque a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> si - frequentes vezes construída a partir <strong>de</strong> um<br />

exercício <strong>de</strong> auto-observação não isento <strong>de</strong> passionalida<strong>de</strong> ou a partir <strong>de</strong> comentários<br />

<strong>de</strong>preciativos vin<strong>do</strong>s <strong>do</strong> exterior - não se coaduna, na perspectiva <strong>do</strong> ser <strong>em</strong> formação, com<br />

um certo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> beleza f<strong>em</strong>inina, as personagens f<strong>em</strong>ininas a<strong>do</strong>lescentes a<strong>do</strong>ptam certos<br />

mecanismos auto-punitivos e compensatórios, como a anorexia e a bulimia nervosas,<br />

responsáveis <strong>em</strong> alguns casos pelo processo <strong>de</strong>strutivo que quase as conduz a um fim<br />

trágico e irr<strong>em</strong>ediável.<br />

Assim, <strong>em</strong> Dietas e Borbulhas, a protagonista sente-se feia e gorda (“tenho as pernas<br />

monstras” (...) “e um rabo monstro” (...) Eu sei perfeitamente que sou um pote” (DB, 25)),<br />

referin<strong>do</strong>-se a si própria como sen<strong>do</strong> uma rapariga com um “corpo <strong>de</strong> baleia” (DB, 29). As<br />

representações parciais <strong>do</strong> seu corpo dão conta <strong>de</strong> uma auto-percepção fragmentada e, por<br />

isso, necessariamente distorcida, adquirin<strong>do</strong> forte produtivida<strong>de</strong> s<strong>em</strong>ântica a adjectivação<br />

expressiva (e o substantivo pote, com valor adjectival) utilizada por Catarina neste contexto:<br />

pernas monstras, rabo monstro.<br />

216

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!