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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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A filha que à flauta chamou ternura e com ela apren<strong>de</strong>u que aqueles <strong>de</strong> qu<strong>em</strong><br />

gostamos são únicos, mesmo no meio da multidão, e que a cumplicida<strong>de</strong> é um código<br />

para dizer ternura:<br />

“S<strong>em</strong>pre que podia a Vanessa ia assistir aos concertos. Entre tantos sons<br />

diferentes ela distinguia perfeitamente o som da sua flauta, essa ternura e suavida<strong>de</strong><br />

muito gran<strong>de</strong>s. (…) No final as pessoas aplaudiam até não po<strong>de</strong>r mais e ela ficava,<br />

naturalmente, muito orgulhosa. Então a flauta tocava uma nota que só a Vanessa<br />

percebia e piscava-lhe um olho, ou antes, um buraquinho.” (Magalhães, 1983: 29,30)<br />

A filha que inventa o mun<strong>do</strong> e <strong>de</strong>senha o futuro <strong>em</strong> cada manhã:<br />

A filha<br />

“Ela toma a minha mão, leva-me a ver/ esse pedacinho <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> que nos<br />

coube/ e eu vejo s<strong>em</strong>pre pela primeira vez/ porque tu<strong>do</strong> muda constant<strong>em</strong>ente.<br />

Cada manhã t<strong>em</strong> outra estrela-da-manhã/ e <strong>em</strong> todas elas me levanto/ para ir<br />

ver, pela mão <strong>de</strong>la, /o novo mun<strong>do</strong> que nesse dia há.<br />

À noite, vou espreitar/ essa pequena mão a<strong>do</strong>rmecida/ que aprisiona um grão <strong>de</strong><br />

vento/ e o tesouro ameaça<strong>do</strong> da alegria;/ as sombras <strong>de</strong>scansam no escuro/ e, a essa<br />

hora, / também <strong>do</strong>rme a mão <strong>de</strong> Deus,/ ninguém segura o fio/ que liga a minha a<br />

outras vidas.<br />

Nunca quis ter uma bola <strong>de</strong> cristal/ mas po<strong>de</strong>r ir, pela mão da filha, / ver o<br />

futuro.” (Magalhães, 1986)<br />

No verbo, no verso e no universo <strong>de</strong> Álvaro Magalhães, habitam seres leves,<br />

carrega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> espessura, como o hipopótamo que viaja <strong>de</strong> autocarro e quer entrar<br />

numa história sobre bichos pequenos, dispon<strong>do</strong>-se até a fazer dieta para ficar<br />

pequeno:<br />

- Desculpe incomodar – disse ele – mas ouvi dizer que anda a escrever uma<br />

história sobre bichos...<br />

- Pois, sim, mas são só histórias <strong>de</strong> bichos pequenos.<br />

- Eu sei, mas olhe que eu an<strong>do</strong> a fazer dieta. Já <strong>em</strong>agreci 2Kg. Espere mais uns<br />

dias e vai ver que n<strong>em</strong> me conhece. (Magalhães, 2008: 30)<br />

Um hipopótamo que merece ser acarinha<strong>do</strong> para lá <strong>do</strong> seu tamanho, quan<strong>do</strong><br />

ouvimos o narra<strong>do</strong>r dizer:<br />

“E façam-me um favor: se o encontrar<strong>em</strong> por aí, digam <strong>de</strong> maneira que ele ouça:<br />

“Olha que formiga tão gran<strong>de</strong>”. Ele merece, é tão simpático. Ainda ont<strong>em</strong> me ce<strong>de</strong>u o<br />

lugar <strong>de</strong>le no autocarro.” (Magalhães, 2008: 30)<br />

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