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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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ecuperação ao gosto pelo exótico. Ora, os valores acima referi<strong>do</strong>s vão ao encontro das<br />

eternas t<strong>em</strong>áticas da literatura infantil. Des<strong>de</strong> os seus primórdios, esta literatura apresenta<br />

uma cosmovisão que entra <strong>em</strong> conflito com uma concepção mecanicista e racionalista <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> e da vida. Efectivamente, “o mun<strong>do</strong> possível <strong>do</strong>s textos da literatura infantil t<strong>em</strong><br />

como características fundamentais as marcas s<strong>em</strong>ânticas da excepcionalida<strong>de</strong>, <strong>do</strong><br />

enigma, <strong>do</strong> insólito e <strong>do</strong> sortilégio e configura-se frequent<strong>em</strong>ente como um mun<strong>do</strong><br />

contrafactual, <strong>em</strong> que estão <strong>de</strong>rrogadas todas as leis, regras e convenções <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

<strong>em</strong>pírico e da vida humana.” 8<br />

Ora, e concluin<strong>do</strong> este aspecto, a nova literatura romântica, aproximan<strong>do</strong>-se da<br />

literatura para crianças, confere-lhe um novo estatuto e um novo alento. Naturalmente, a<br />

atenção <strong>de</strong>votada à literatura <strong>de</strong>stinada a um público mais jov<strong>em</strong> sofre uma significativa<br />

evolução. Realçamos o uso intencional <strong>do</strong> termo “evolução” visto que, com ele, quer<strong>em</strong>os<br />

vincar que este processo não é abrupto quer no que se refere à efectiva “escrita para<br />

9<br />

crianças” , quer à renovação das formas e <strong>do</strong>s estilos literários. Neste campo, diz<strong>em</strong>os,<br />

com Carmen Bravo-Villasante, que “o século XIX, s<strong>em</strong> se <strong>de</strong>sligar das correntes que<br />

herdara, criava uma nova literatura para crianças” 10<br />

.<br />

Acrescente-se que a vitalida<strong>de</strong> da literatura infantil durante o Romantismo não se<br />

<strong>de</strong>ve exclusivamente às referidas transformações <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a literário. Convém recordar<br />

que, como afirma Aguiar e Silva, “este sist<strong>em</strong>a, como qualquer sist<strong>em</strong>a s<strong>em</strong>iótico cultural,<br />

é um sist<strong>em</strong>a aberto” e, como tal, encontra-se “<strong>em</strong> contínua interacção sígnica com o seu<br />

11<br />

meio, <strong>do</strong> qual recebe e para o qual reenvia informação” . Deste mo<strong>do</strong>, para se<br />

compreen<strong>de</strong>r cabalmente as razões que levaram a literatura infantil a adquirir um novo<br />

estatuto no polissist<strong>em</strong>a literário é necessário ter presente as transformações políticas,<br />

sociais, culturais, i<strong>de</strong>ológicas e económicas verificadas na Europa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os finais <strong>do</strong><br />

século XVIII até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX 12<br />

. Acrescento que, no âmbito <strong>de</strong>sta reflexão,<br />

importa sobranceiramente consi<strong>de</strong>rar as transformações pedagógicas, claramente<br />

<strong>de</strong>ve<strong>do</strong>ras das transformações ocorridas nos planos filosófico-<strong>do</strong>utrinário e político-social<br />

e que se manifestam <strong>de</strong> forma clara por uma maior importância concedida aos probl<strong>em</strong>as<br />

8<br />

SILVA, “Nótula sobre o conceito <strong>de</strong> Literatura Infantil”, p.13.<br />

9<br />

Recor<strong>de</strong>-se que, antes <strong>do</strong> século XIX (e mesmo durante o referi<strong>do</strong> século), muitos <strong>do</strong>s livros <strong>de</strong> contos que<br />

hoje incluímos no cânone da literatura infantil não tiveram, na intenção autoral, como <strong>de</strong>stinatário previsto e/ou<br />

como leitor preferencial a(s) criança(s). Wilhelm Grimm, no Prólogo à primeira edição <strong>do</strong>s Kin<strong>de</strong>r und<br />

Hausmärchen, é b<strong>em</strong> claro quan<strong>do</strong> afirma: “O livro não foi escrito para as crianças, mas tanto melhor se lhes<br />

agrada.” [Cita<strong>do</strong> por BRAVO-VILLASANTE, Carmen, História da Literatura Infantil Universal, Vol. I, Lisboa,<br />

Editorial Vega, 1977, p. 29]. No que se refere ao Romanceiro <strong>de</strong> Almeida Garrett, para apresentar um ex<strong>em</strong>plo<br />

português, o caso é s<strong>em</strong>elhante.<br />

10<br />

BRAVO-VILLASANTE, História da Literatura Infantil Universal, p.86.<br />

11 SILVA, “Nótula sobre o conceito <strong>de</strong> Literatura Infantil”, p.13.<br />

12 Cf. Id., Ibi<strong>de</strong>m.<br />

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