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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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Portanto, até à invenção da escrita, pequenos esboços s<strong>em</strong>ânticos sobre fragmentos <strong>de</strong><br />

osso e a sua evolução para pictogramas e mitogramas associou a imag<strong>em</strong> à produção <strong>de</strong><br />

informação ou <strong>de</strong> comunicação utilitária. No entanto, o aparecimento da escrita levou a uma<br />

transferência da função <strong>de</strong> comunicação utilitária para a palavra, libertan<strong>do</strong> a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ssa<br />

função e disponibilizan<strong>do</strong>-a para as funções expressiva, representativa e poética. Neste<br />

momento, o texto assumiu-se como linguag<strong>em</strong> oficial, relegan<strong>do</strong> a imag<strong>em</strong>, durante muito<br />

t<strong>em</strong>po para um papel <strong>de</strong> subordinação ao texto 2<br />

.<br />

A relação entre palavra e imag<strong>em</strong> é uma questão que nos acompanha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

antiguida<strong>de</strong> clássica. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “artes irmãs”, sugerida por Horácio <strong>em</strong> Ars Poética (Arte<br />

Poética, cerca ano 18 a.C.) ao referir-se à pintura e à poesia, foi utilizada durante séculos e<br />

apesar <strong>de</strong> igualar a pintura à poesia, manteve um discurso que pren<strong>de</strong>u a imag<strong>em</strong> aos<br />

3<br />

conceitos <strong>de</strong> outra linguag<strong>em</strong> , ou seja, a existência daquela <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria s<strong>em</strong>pre da condição<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Só mais tar<strong>de</strong>, no Renascimento, nomeadamente com a famosa Paragone <strong>de</strong><br />

Leonar<strong>do</strong> 4 e, mais tar<strong>de</strong>, sist<strong>em</strong>aticamente <strong>de</strong>senvolvida por Lessing no seu Laocoonte 5<br />

, se<br />

fará a distinção entre as duas linguagens e exporá uma objecção à tentativa <strong>de</strong> parida<strong>de</strong> entre<br />

poesia e pintura. Para este autor, ambas possu<strong>em</strong> um carácter próprio, sen<strong>do</strong> que, para ele, a<br />

poesia se relaciona com o t<strong>em</strong>po (palavra) e a pintura com o espaço (imag<strong>em</strong>), passan<strong>do</strong> a<br />

ser observada enquanto fenómeno visual.<br />

No entanto, as teorias <strong>de</strong> Mitchell sobre a família das imagens <strong>de</strong>monstram que a<br />

imag<strong>em</strong> possui muitas qualida<strong>de</strong>s que são interpretadas <strong>de</strong> diferentes formas consoante a<br />

corrente <strong>de</strong> pensamento que a faz. Para este autor, o conceito <strong>de</strong> “imag<strong>em</strong>” (s<strong>em</strong>elhança) está<br />

associa<strong>do</strong> a práticas sociais e culturais e, por isso, associada a diferentes tipos <strong>de</strong><br />

interpretação. Elabora, nesse senti<strong>do</strong>, um gráfico representativo da família <strong>de</strong> imagens que<br />

varia entre o seu uso mais literal, <strong>de</strong> que são ex<strong>em</strong>plo as pinturas, até noções como “imag<strong>em</strong><br />

verbal” ou “imag<strong>em</strong> mental”. No seu gráfico (uma espécie <strong>de</strong> árvore genealógica da imag<strong>em</strong>),<br />

distingue os diversos discursos possíveis associan<strong>do</strong>-os à Psicologia, à Linguística, à História<br />

6<br />

da Arte, etc.<br />

Para este autor, a ilustração encontra-se associada à “imag<strong>em</strong> gráfica”, uma vez que<br />

possui materialida<strong>de</strong> (cor, linhas, textura, suporte, etc.) e uma intenção na sua concretização<br />

2 Esta i<strong>de</strong>ia ainda persiste actualmente. No entanto, o trabalho leva<strong>do</strong> a cabo pelos que estudam e criam estes<br />

<strong>do</strong>is meios <strong>de</strong> comunicação t<strong>em</strong> vin<strong>do</strong> a dissolver lentamente este “preconceito”.<br />

3 Horácio baseia a sua teoria nas consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> Aristóteles.<br />

4 Paragone é o termo pelo qual se veio a tornar conheci<strong>do</strong> o <strong>de</strong>bate entre intelectuais e artistas <strong>do</strong> Renascimento<br />

Italiano, sobre a relação entre os diferentes géneros artísticos, Leonar<strong>do</strong> da Vinci foi um <strong>do</strong>s intervenientes que<br />

animou e alimentou a discussão, estabelecida, sobretu<strong>do</strong> entre Veneza e Florença, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma<br />

irredutível a supr<strong>em</strong>acia da pintura sobre to<strong>do</strong>s os outros géneros artísticos. Segun<strong>do</strong> Caire Fargo, citada por<br />

Clara Orban (1997, p.9), as notas dispersas <strong>do</strong> artista foram compiladas e publicadas <strong>em</strong> 1817 por Guglielmo<br />

Manzi, ten<strong>do</strong> então surgi<strong>do</strong> o termo paragone, que r<strong>em</strong>ete para o facto <strong>de</strong> Leonar<strong>do</strong> usar frequent<strong>em</strong>ente o<br />

verbo “paragonare” que significa comparar.<br />

5 Laocoonte: um Ensaio sobre os Limites da Pintura e da Poesia (1976). Esta obra foi escrita por Lessing <strong>em</strong> 1766.<br />

6 Mitchell divi<strong>de</strong> o seu esqu<strong>em</strong>a <strong>em</strong> cinco partes: “imag<strong>em</strong> gráfica” on<strong>de</strong> inclui a pintura e a escultura; “imag<strong>em</strong><br />

óptica” associada aos espelhos e às projecções; “imag<strong>em</strong> perceptível” referente a da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e fenómenos;<br />

“imag<strong>em</strong> mental” que abarca os sonhos, as m<strong>em</strong>órias e, finalmente, “imag<strong>em</strong> verbal” que inclui metáforas e<br />

<strong>de</strong>scrições.<br />

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