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de Investigadores em leitura - Universidade do Minho

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conhecimento <strong>de</strong> novos horizontes. Cabe aqui a célebre personag<strong>em</strong> Patinho Feio, <strong>do</strong><br />

conto homónimo, sobre a qual Bruno Bettelheim formula uma opinião que não po<strong>de</strong>mos<br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> contestar. Afirma o autor que a narrativa O Patinho Feio não “ajuda” as crianças,<br />

orientan<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma errada a fantasia <strong>de</strong>stas 43<br />

.<br />

Tal <strong>leitura</strong> implica reduzir a personag<strong>em</strong> a um ser estático e inactivo – o que não<br />

correspon<strong>de</strong> aos factos diegéticos apresenta<strong>do</strong>s. O Patinho dá voz à revolta e a sua fuga<br />

é simultaneamente uma recusa perante uma existência sofrível e sofrida num mun<strong>do</strong><br />

opressor e uma corajosa tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir novos mun<strong>do</strong>s. Essa fuga dá início a uma<br />

viag<strong>em</strong> (metáfora tão significativa no universo da literatura infantil) que se traduz numa luta<br />

pela sobrevivência e se instaura como símbolo <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> crescimento <strong>em</strong> que o<br />

sujeito se <strong>de</strong>scobre e se afirma como ser social.<br />

A par <strong>de</strong>sta i<strong>de</strong>ologia mais personalista, caminha uma outra <strong>de</strong> cariz profundamente<br />

social – é a con<strong>de</strong>nação das injustiças <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> direitos iguais para to<strong>do</strong>s,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente da classe social <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>.<br />

Em vários contos se faz a con<strong>de</strong>nação da vaida<strong>de</strong>, da arrogância e <strong>do</strong> orgulho, b<strong>em</strong><br />

como da malda<strong>de</strong> contra os mais fracos, chaman<strong>do</strong>-se a atenção para os perigos da<br />

ambição <strong>de</strong>smedida pelas riquezas e pelo po<strong>de</strong>r.<br />

Noutras histórias, <strong>de</strong> carácter mais facecioso, ergue-se uma sátira às burlas e às<br />

mentiras que os homens usam para se enganar<strong>em</strong> uns aos outros.<br />

E, finalmente, envolven<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> num véu <strong>de</strong> misticismo, há a valorização das virtu<strong>de</strong>s<br />

cristãs, tais como a carida<strong>de</strong> e a fraternida<strong>de</strong>, a resignação e a paciência, a obediência e a<br />

pureza, a modéstia e a simplicida<strong>de</strong>... Até porque é quase omnipresente a consciência da<br />

precarieda<strong>de</strong> da vida, da contingência <strong>do</strong>s seres e da mutabilida<strong>de</strong> das situações<br />

existenciais.<br />

Como se disse, An<strong>de</strong>rsen foi coevo <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s escritores românticos. Viveu <strong>em</strong><br />

plena afirmação <strong>do</strong> Romantismo e é, naturalmente, um romântico, mesmo quan<strong>do</strong> a sua<br />

obra não cabe no s<strong>em</strong>pre estreito baú das escolas literárias, ou quan<strong>do</strong> não obe<strong>de</strong>ce às<br />

regras <strong>de</strong>ssas escolas – atitu<strong>de</strong>, aliás, profundamente romântica.<br />

Romântica é também a prefiguração <strong>do</strong> escritor dinamarquês como génio. O génio<br />

<strong>do</strong> cria<strong>do</strong>r é, para o Romantismo, o que po<strong>de</strong> conferir a uma obra <strong>de</strong> arte inegável e<br />

inigualável valor.<br />

“Il n’y a qu’un poids qui puisse faire pencher la balance <strong>de</strong> l’art: c’est le génie.” 44<br />

43<br />

BETTELHEIM, Bruno, Psicanálise <strong>do</strong>s contos <strong>de</strong> fadas, 8ª edição, Venda Nova, Bertrand Editora, 1999,<br />

p.135.<br />

44<br />

HUGO, Préface <strong>de</strong> Cromwell, p.60.<br />

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