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Comentário de 1 Coríntios

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Capítulo 7 • 239<br />

lembrá-los que o matrimônio é um remédio para a ausência <strong>de</strong> castida<strong>de</strong>,<br />

para que não abusassem <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadamente da vantagem <strong>de</strong>la, <strong>de</strong><br />

modo a gratificar por todos os meios seus <strong>de</strong>sejos, sem medida ou sem<br />

mo<strong>de</strong>ração. Ele tem também em vista pôr a <strong>de</strong>scoberto as cavilações<br />

dos perversos, para que ninguém tivesse em seu po<strong>de</strong>r apresentar uma<br />

objeção <strong>de</strong>ste teor: “Ora, ora! Então ten<strong>de</strong>s medo <strong>de</strong> que os esposos e<br />

as esposas não tenham a mesma opinião <strong>de</strong> uma suficiente inclinação<br />

para o <strong>de</strong>leite carnal para o qual estais tão propensos?” Pois inclusive<br />

os papistas, aqueles poucos santos, 15 também se ofen<strong>de</strong>m com esta<br />

doutrina, e <strong>de</strong> bom grado terçam armas com Paulo, com base em sua<br />

<strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> que os casados <strong>de</strong>vem manter a coabitação mútua, e não<br />

lhes permite que se afastem precipitadamente para a vida <strong>de</strong> celibato.<br />

Ele, pois, apresenta a razão para ensinar tal doutrina, e assevera que<br />

não recomendava o ato sexual aos que já eram casados com o fim <strong>de</strong><br />

induzi-los a entregarem-se ao <strong>de</strong>leite, ou como se nutrisse o maior prazer<br />

em or<strong>de</strong>nar tal coisa, mas porque consi<strong>de</strong>rava o que se requeria da<br />

fraqueza daqueles a quem se dirigia.<br />

Os zelotes embrutecidos, 16 <strong>de</strong>fensores do celibato, erram ao fazer<br />

uso <strong>de</strong> ambas as partes <strong>de</strong>ste versículo porque, como Paulo dizia, ele<br />

fala “à guisa <strong>de</strong> permissão” (Secundum veniacos), por isso concluem que<br />

o ato sexual no casamento é pecaminoso; pois on<strong>de</strong> se requer o perdão<br />

17 [venia], o pecado se faz presente. Por outro lado, <strong>de</strong>duzem <strong>de</strong> sua<br />

expressão, “não por mandamento”, que o sinal mais proeminente <strong>de</strong><br />

santida<strong>de</strong> é a isenção do estado conjugal e a volta ao celibato.<br />

Ao primeiro, respondo: embora eu reconheça que todas as afeições<br />

humanas po<strong>de</strong>m escapar seriamente ao controle, não nego que<br />

possa haver também, nesta conexão, falta <strong>de</strong> disciplina (ἀταξία), 18 o<br />

15 “Les hypocrites qui veulent estre estimez <strong>de</strong> petis saincts.” – “Hipócritas, que <strong>de</strong>sejam<br />

ser consi<strong>de</strong>rados como os poucos santos.”<br />

16 “Les sots et indiscrets zelateurs.” – “Zelotes loucos e inconsi<strong>de</strong>rados.”<br />

17 “Où permission et pardon ha lieu.” – “On<strong>de</strong> a permissão e o perdão têm lugar.”<br />

18 O termo ἀταξία é usado por nosso autor na Harmonia (vol. i, p. 320) no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m,<br />

como contrastado com a condição or<strong>de</strong>ira do reino <strong>de</strong> Deus. Ele contém uma alusão<br />

à conduta <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada dos soldados que abandonam suas posições. É usado neste sentido<br />

por Tucídi<strong>de</strong>s (vii.43).

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