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Comentário de 1 Coríntios

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Capítulo 7 • 245<br />

Porque é melhor. Não há aqui uma comparação estrita, visto que,<br />

como matrimônio lícito, ele é honroso entre todos [Hb 13.4], ao passo que<br />

abrasar-se é algo excessivamente danoso. Entretanto, o apóstolo está seguindo<br />

a forma costumeira <strong>de</strong> expressar-se, ainda que não estritamente<br />

preciso, como costumamos dizer: “É melhor renunciarmos este mundo<br />

para que possamos obter a herança do reino do céu junto a Cristo, do<br />

que perecermos miseravelmente nos prazeres da carne.” Faço tal menção<br />

em razão <strong>de</strong> Jerônimo construir nesta passagem um sofisma pueril: 30<br />

o matrimônio é bom, porque é um mal menor do que viver abrasado.<br />

Diria que, se ele dissera isso com o intuito <strong>de</strong> provocar hilarida<strong>de</strong>, então<br />

não teria conseguido muito; visto, porém, que esta é uma questão muito<br />

séria e importante, ela é um motivo <strong>de</strong> escárnio, e não o que se esperaria<br />

<strong>de</strong> um homem <strong>de</strong> bom senso. Portanto, <strong>de</strong>ve ficar bem explícito que o<br />

matrimônio como antídoto é bom e produz bem-estar, já que abrasar-se<br />

é algo muito mais repugnante e <strong>de</strong>testável aos olhos <strong>de</strong> Deus.<br />

Todavia, abrasar-se precisa ser <strong>de</strong>finido, porquanto muitos são<br />

atingidos pelos <strong>de</strong>sejos da carne, dos quais, não obstante, não se po<strong>de</strong><br />

requerer que busquem imediatamente refúgio no matrimônio. E, conservando<br />

a metáfora <strong>de</strong> Paulo, uma coisa é abrasar-se; e outra, sentir<br />

calor. Conseqüentemente, o que Paulo aqui chama abrasar-se não é <strong>de</strong><br />

modo algum uma leve sensação, mas significa sentir-se tão inflamado<br />

pelo <strong>de</strong>sejo sexual que não se consegue resisti-lo. No entanto, há<br />

aqueles que se ilu<strong>de</strong>m em vão, acreditando que serão absolvidos <strong>de</strong><br />

toda culpa se não se entregarem à concupiscência; por isso <strong>de</strong>vemos<br />

atentar bem para três graus <strong>de</strong> tentação.<br />

(1) Às vezes os assaltos da luxúria são tão fortes, que a vonta<strong>de</strong> é<br />

subjugada; porque o pior tipo <strong>de</strong> excitamento é aquele que faz o coração<br />

queimar-se <strong>de</strong> paixão.<br />

(2) Às vezes somos tão molestados pelos aguilhões da carne, que<br />

relutamos vigorosamente, e não permitimos que o genuíno apreço pela<br />

castida<strong>de</strong> seja expulso <strong>de</strong> nós, senão que, ao contrário, repugnamos<br />

30 “Vn sophisme plus que puerile.” – “Algo pior que um sofisma pueril.”

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