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PARTE X· Novas Abordagens da Administração 565

de um sistema não é um ponto qualquer; certos percursos

parecem ter mais sentido do que outros ou

ocorrem com maior freqüência. Os chamados atratores

estranhos (strange attractors) permitem que os

cientistas prevejam o estado mais provável de um

sistema, embora não quando precisamente ele vai

ocorrer. É o que acontece com a previsão do tempo

ou de um maremoto, por exemplo.

A palavra caos tem sido tradicionalmente associada

à desordem. Nas mitologias e cosmogonias antigas,

caos era o vazio escuro e ilimitado que precede à

criação do mundo.* Desde tempos imemoriais, o ser

humano se defronta com o desconhecido e o percebe

como caótico e atemorizante. Desde os tempos de

Descartes, a lógica e a racionalidade da ciência constituíram

uma luta constante contra o caos: tornar o

mundo conhecido e reduzir a incerteza. >, >,

Contudo, na ciência moderna, caos significa uma

ordem mascarada de aleatoriedade. O que parece

caótico é, na verdade, o produto de uma ordem subliminar,

na qual pequenas perturbações podem causar

grandes efeitos devido à não-linearidade do

universo. >, *~. Para a ciência moderna, os fenômenos

deterministas - que obedecem ao princípio da linearidade

de causa e efeito - constituem uma pequena

minoria nos eventos naturais. Tudo na natureza

muda e evolui continuamente. Nada no universo é

passivo ou estável. A noção de equilíbrio - tão cara

à Teoria de Sistemas - constitui um caso particular e

* A herança da cultura grega é muito forte. Para os antigos

gregos, o estado primitivo do mundo era o caos, a matéria que

existia desde toda a eternidade sob uma forma vaga, indefinível,

indescritível, em que os princípios de todos os seres particulares

estavam confundidos. Para a mitologia grega, o caos

era uma divindade rudimentar, que só pode procriar pela intervenção

de uma força divina e eterna como os elementos do

próprio caos: Eros, ou o amor. Eros é o deus da união e da afinidade,

e nenhum ser pode escapar de sua influência. No entanto,

ele tem um oposto, ou adversário: Anteros, isto é, a apatia,

a aversão, que separa e desune. A tensão entre Eros e Anteros

era o que garantia a evolução do mundo e o impedia de

voltar aos caos. Desde o início dos tempos, o ser humano se

defronta com o desconhecido que, como tal, é percebido

como escuro, atemorizante, caótico. O medo do desconhecido

- como o medo da morte - tem movido a humanidade na

ciência, na arte e na filosofia. A busca tem sido sempre por tornar

o mundo cada vez mais amplo, embora convivamos sempre

com a noção de que o que conhecemos é infinitamente

menor do que o que desconhecemos do mundo e da vida.

pouco freqüente. Na verdade, não existem mudanças

no universo. O que existe é mudança. O estado

de equilíbrio, o determinismo e a causalidade linear

são casos muito singulares em um universo primordialmente

evolutivo, onde tudo é fluxo, transformação

e mudança. No decorrer do século XX, a

ciência passou da visão clássica de uma realidade em

permanente estado de equilíbrio para uma visão de

uma realidade sujeita a perturbações e ruídos, mas

que tendia naturalmente a retornar ao equilíbrio,

graças à abordagem sistêmica.

Para a teoria do caos, a desordem, a instabilidade

e o acaso no campo científico constituem a norma, a

regra, a lei. A influência dessas idéias na teoria administrativa

é marcante. Afinal, estamos ainda buscando

a ordem e a certeza em um mundo carregado

de incertezas e instabilidade. Os modelos de gestão

baseados na velha visão do equilíbrio e da ordem estão

caducos. Além do mais, quando se faz um esforço

para integrar a administração com outras ciências,

os resultados caminham em uma direção completamente

diferente. 10 A ciência moderna mostra

que o sistema vivo é, para si, o centro do universo e

sua finalidade é a produção de sua identidade. O sistema

procura interagir com o ambiente externo

sempre de acordo com uma lógica.

*'f A metodologia de Descartes consistia em princípios gerais

simples: aceitar somente aquilo que seja tão claro em nossa

mente que exclua qualquer dúvida, dividir os grandes problemas

em problemas menores, argumentar partindo do simples

para o complexo e verificar o resultado final. Ao longo dos

tempos, essa abordagem lógica e racional foi utilizada na ciência,

principalmente ciências exatas e experimentais, com enorme

êxito. Já nas ciências sociais e nos negócios, esse método

demonstrou sérias limitações. Na teoria administrativa, o método

cartesiano de análise foi intensamente utilizado. Esse tipo

de abordagem (do mais geral para o mais específico) levou às

estruturas hierarquizadas, modulares e departamentalizadas,

tão comuns nas organizações tradicionais. Todavia, tem-se

percebido a importância das relações entre os componentes da

empresa, as mútuas influências nos processos de trabalho, a

necessidade de visão integrada e a importância do lado emocionaI,

afetivo, e não somente racional, no processo decisório.

É a velha abordagem reducionista do passado.

<-»*0 que parece caótico à primeira vista é produto de uma

ordem subliminar, na qual pequenas perturbações podem causar

grandes efeitos devido à não-linearidade do universo. Uma

borboleta voando na Califórnia pode provocar um tufão na

Flórida. Para os defensores da Teoria do Caos, todos os resultados

têm uma causa. Essa precisa ser estudada pela Teoria das

Probabilidades e não pelo determinismo causal.

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