13.04.2013 Views

COMPORTAMENTO em foco - ABPMC

COMPORTAMENTO em foco - ABPMC

COMPORTAMENTO em foco - ABPMC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Comportamento <strong>em</strong> Foco 1 | 2011<br />

Castro . Mello . Bortoloti<br />

114<br />

terceiro tipo de seleção por consequências, a evolução dos ambientes sociais ou culturas” (Skinner,<br />

1981, p. 502).<br />

O modelo explicativo skinneriano se fundamenta nos três processos de variação e seleção. O autor<br />

supõe que a cultura também passa por esse processo e se refere à evolução da cultura como sendo o<br />

terceiro nível de variação e seleção. Da mesma forma como <strong>em</strong> relação à filogênese e à ontogênese, o<br />

termo evolução não pressupõe ir <strong>em</strong> direção a algo melhor, pois, conforme argumenta, os processos<br />

de evolução contêm falhas – partindo daí a sua proposta para o planejamento cultural. Skinner<br />

(1953) descreve como ocorre o processo de variação e seleção nos três níveis de análise:<br />

Vimos que, <strong>em</strong> certos aspectos, o reforçamento operante se ass<strong>em</strong>elha à seleção natural da teoria<br />

evolucionária. Assim como características genéticas provenientes de mutações são selecionadas ou<br />

descartadas por suas conseqüências, novas formas de comportamento são selecionadas ou descartadas<br />

por meio de reforçamento. Há ainda um terceiro tipo de seleção que se aplica a práticas culturais. O<br />

grupo adota uma prática (...). Como uma característica do ambiente social, esta prática modifica o<br />

comportamento dos m<strong>em</strong>bros do grupo. O comportamento resultante pode afetar o sucesso do grupo<br />

<strong>em</strong> competição com outros grupos ou com o ambiente não social. Práticas culturais que são vantajosas<br />

tenderão a ser características de grupos que sobreviv<strong>em</strong> e que perpetuam aquelas práticas. Pode-se<br />

dizer, portanto, que algumas práticas culturais têm valor de sobrevivência, enquanto outras são letais no<br />

sentido genético. (p. 430)<br />

Então, segundo Skinner (1981), diz<strong>em</strong>os que uma cultura evolui quando novas práticas contribu<strong>em</strong><br />

para que o grupo que a pratica consiga resolver seus probl<strong>em</strong>as. Desse modo, a cultura se fortalece<br />

e t<strong>em</strong> mais chances de sobreviver, ou seja, existe um efeito das práticas sobre o grupo. O fato de que<br />

uma cultura pode sobreviver ou desaparecer sugere um tipo de evolução e, consequent<strong>em</strong>ente, um<br />

paralelo com a evolução da espécie.<br />

Mas o que é uma prática cultural? E o que define uma cultura? Como forma de enriquecer a<br />

discussão a respeito da unidade de seleção do terceiro nível, isto é, a prática cultural, poderíamos<br />

utilizar o conceito de “metacontingências”, cunhado por Sigrid Glenn. Segundo Glenn (1988), está<br />

claro que práticas culturais pod<strong>em</strong> ser reduzidas a contingências de reforço que operam <strong>em</strong> cada<br />

indivíduo e que compõ<strong>em</strong> a prática cultural. Entretanto, tal redução não explica completamente a<br />

evolução e a manutenção da prática como tal.<br />

A autora argumenta que uma análise científica das culturas não pode ser reduzida ao comportamento<br />

dos indivíduos porque as práticas culturais, apesar de ser<strong>em</strong> compostas pelo comportamento dos<br />

indivíduos, têm resultados próprios, que afetam a sobrevivência da cultura. De acordo com Glenn,<br />

é preciso diferenciar entre as contingências que são a base da mudança comportamental e as<br />

contingências que são a base do desenvolvimento cultural, ou seja, entre as contingências do segundo<br />

nível de seleção e aquelas do terceiro nível de seleção.<br />

A prática cultural pode ser descrita como um conjunto de contingências entrelaçadas, ou seja,<br />

como uma metacontingência (Andery & Sério, 2005). É interessante notar que a metacontingência<br />

t<strong>em</strong> uma consequência, um produto agregado, que atua sobre o próprio entrelaçamento, mantendo<br />

ou não a prática cultural. Isso não impede que cada contingência dentro da metacontingência<br />

tenha sua própria consequência para o indivíduo que se comporta. A consequência individual<br />

mantém o comportamento do sujeito enquanto o produto agregado mantém a metacontingência,<br />

a prática cultural. Glenn (1988) afirma que: “Uma prática cultural é um conjunto de contingências<br />

de reforçamento entrelaçadas no qual o comportamento e os produtos comportamentais de cada<br />

participante funcionam como eventos ambientais com os quais interage o comportamento de outros<br />

indivíduos.” (p. 167)<br />

A metacontingência, segundo a autora, é a unidade de análise que inclui uma prática cultural <strong>em</strong><br />

todas as suas variações e o produto agregado de todas as variações atuais.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!