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COMPORTAMENTO em foco - ABPMC

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4 Análise e discussão dos recortes ilustrativos do filme<br />

O exercício de interpretação de uma obra ficcional, a partir dos pressupostos skinnerianos sobre<br />

o comportamento verbal, permite a decomposição de várias interações possíveis de ocorrência <strong>em</strong><br />

situações naturais e a compreensão de relações de controle estabelecidas nas interações humanas.<br />

4.1 A relevância da história de vida de cada personag<strong>em</strong> na construção da<br />

interação<br />

Logo no início do filme, é narrado que um hom<strong>em</strong> chamado David cresceu excluído, sofrendo<br />

gozações na escola e sonhando com o dia <strong>em</strong> que os extraterrestres viriam buscá-lo para uma viag<strong>em</strong><br />

no espaço. Sua imaginação o transformou <strong>em</strong> um escritor de livros de ficção b<strong>em</strong> sucedido. Antes da<br />

morte precoce de sua parceira, havia feito um cadastro para adoção. Assim, o viúvo solitário visita<br />

um abrigo de crianças a convite de uma assistente social e conhece o pequeno Dennis, um menino<br />

que vive só, s<strong>em</strong> amigos. Este fala que é de Marte e está numa jornada exploratória na Terra. “Ele foi<br />

abandonado. Sofreu abuso <strong>em</strong>ocional. Já passou por várias famílias”, descreve a assistente social a<br />

respeito do garoto.<br />

Uma hipótese que pode ser inferida sobre a decisão do viúvo pela adoção de um menino “esquisito”<br />

pode advir da <strong>em</strong>patia dele com a história de vida do garoto, visto ter sofrido exclusão <strong>em</strong> sua infância<br />

também. Esta <strong>em</strong>patia (evento encoberto na relação) estabelece o candidato a pai como um atento<br />

ouvinte ao “pequeno marciano“.<br />

A história de vida do pequeno Dennis não é contada aos espectadores do filme, porém, por<br />

tratar-se de uma criança abandonada num abrigo, pode-se inferir que ele tenha uma vida com<br />

poucos reforçadores e bastante controle aversivo. O comportamento verbal de fantasiar ou mentir,<br />

principalmente <strong>em</strong> crianças, pode <strong>em</strong>ergir como produto de ambientes coercitivos e associado a<br />

comportamentos respondentes – e operantes, abertos e encobertos, descritos como culpa, medo,<br />

confusão e dúvidas <strong>em</strong> relação a elas mesmas e/ou ao mundo que as cerca, onde a criança cria<br />

uma nova realidade mais aceitável (Chamati & Pergher, 2009; Oaklander, 1978/1980). Diante da<br />

aversividade de uma realidade (e da dificuldade <strong>em</strong> admiti-la), a fantasia parece <strong>em</strong>ergir como<br />

esquiva da própria contingência com consequências aversivas – uma reprovação (punição) ou<br />

perda de admiração (retirada de reforçadores generalizados), visto que situações com privação e<br />

estimulação aversivas favorec<strong>em</strong> a alteração da discriminação de estímulos. Para Benvenuti (2010),<br />

“a distorção da realidade não é algo necessariamente ruim, mas algo que contribui para que uma<br />

pessoa possa manter-se b<strong>em</strong> mesmo <strong>em</strong> condições desfavoráveis” (p. 36).<br />

4.2 Possíveis funções dos comportamentos verbais do menino “marciano”<br />

O comportamento verbal é suscetível à modelag<strong>em</strong>, tanto para relatos verbais correspondentes,<br />

quanto incoerentes com os fatos. A atenção social despendida pela comunidade verbal pode<br />

tornar e/ou manter comportamento verbal distorcido, tais como relatos exagerados, fantasiosos ou<br />

classificados como mentiras (Chamati & Pergher, 2009).<br />

Os comportamentos verbais do menino do filme traz<strong>em</strong> tatos (relatos) de que ele está numa jornada<br />

exploratória na Terra. Estes comportamentos parec<strong>em</strong> estar sob controle de reforço generalizado<br />

proporcionado pela audiência, que aumenta a probabilidade de <strong>em</strong>issão do comportamento<br />

verbal distorcido e controla o repertório comportamental a ser utilizado, pois o falante adapta<br />

seu comportamento para que estes exerçam um controle mais preciso sobre o comportamento do<br />

ouvinte (Medeiros, 2002b). Este controle parece nítido na seguinte ilustração disponível no filme e<br />

disposto a seguir:<br />

Comportamento <strong>em</strong> Foco 1 | 2011<br />

Rolim<br />

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