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COMPORTAMENTO em foco - ABPMC

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Comportamento <strong>em</strong> Foco 1 | 2011<br />

Emerich . Rocha . Silvares<br />

172<br />

T: Entendo... Quando você não faz xixi na cama você fica feliz. E o que te deixa triste?<br />

F: Quando eu faço.<br />

T: O que te deixa bravo?<br />

F: Quando meu irmão fica falando disso.<br />

T: E como você se sente, quando seu irmão fala disso?<br />

F: Eu fico nervoso. Saio de perto.<br />

T: Com o que você se preocupa?<br />

F: Com alguém descobrir que eu faço xixi na cama. [F. abaixa a cabeça e chora].<br />

T: Eu entendo o seu choro, F. Mas este probl<strong>em</strong>a com o xixi na cama vai ser tratado e t<strong>em</strong> muita<br />

chance de ter sucesso. Outras crianças já superaram isto, sabia? O que você sentiria se os outros<br />

soubess<strong>em</strong>?<br />

F: Mal... Vergonha...<br />

T: Uhum. Deu para perceber que o xixi na cama te incomoda muito. Você chora s<strong>em</strong>pre, assim<br />

como chorou agora?<br />

F.: Choro. Toda vez que eu faço xixi [F. t<strong>em</strong> frequência de molhadas superior a cinco vezes<br />

s<strong>em</strong>anais].<br />

T: Entendi. E o que você acha que os outros iriam pensar de você?<br />

F.: Que é coisa de criancinha.<br />

T: E como você se sente na maior parte do t<strong>em</strong>po?<br />

F: Feliz. Tirando o xixi na cama.<br />

T: Mas você molha a cama com bastante frequência, você me falou. Daí você fica triste, é isto?<br />

F: É. Eu me sinto triste, com vontade de chorar.<br />

T: Uhum. E me fale uma coisa que você acha que você mais precisa?<br />

F: De parar de fazer xixi.<br />

Após o término da entrevista, a primeira autora pontuou os comportamentos <strong>em</strong>itidos e os<br />

autorrelatados de F. nos Formulários de Observação e de Autorrelato da SCICA e confirmou a<br />

presença de dificuldades de ord<strong>em</strong> internalizante, o que é coerente com a literatura que aponta a<br />

associação desses probl<strong>em</strong>as com a enurese (HiraSing, van Leerdam, Bolk-Bennink, & Koot, 2002).<br />

O perfil quantitativo do cliente convergiu com o que seus pais identificaram pelo CBCL/6-18 e<br />

sugeriu como <strong>foco</strong> da intervenção as queixas internalizantes, como ansiedade, ansiedade/depressão,<br />

retraimento/depressão, paralelamente ao tratamento da enurese com alarme de urina.<br />

No presente caso houve uma grande concordância entre o relato dos pais e da criança, por meio<br />

de entrevista clínica. Yeh e Weisz (2001) ao avaliar<strong>em</strong> 381 pares de pais-crianças, com o objetivo de<br />

identificar os níveis de concordância <strong>em</strong> relação à queixa que deveria ser alvo de tratamento, não<br />

identificaram estes altos níveis de concordância. Os autores identificaram que 63% dos pares pais-filhos<br />

não concordam <strong>em</strong> relação ao probl<strong>em</strong>a alvo de tratamento, e, quando as dificuldades foram agrupadas<br />

<strong>em</strong> categorias, mais de um terço dos pares ainda não chegaram a um acordo (Yeh & Weisz, 2001).<br />

As análises destes dados levaram Yeh & Weisz (2001) a concluir que a consulta direta às<br />

crianças pode dar melhor direcionamento sobre quais serão os objetivos da intervenção, do que<br />

questionar unicamente os pais, e que é interessante integrar as dificuldades apontadas como alvo de<br />

tratamento, de modo a garantir a adesão de ambas as partes, quais sejam, pais e filhos.<br />

No presente caso, apesar de ter havido consenso <strong>em</strong> relação aos probl<strong>em</strong>as alvo de intervenção –<br />

enurese e dificuldades internalizantes –, a entrevista com a criança contribuiu com informações úteis<br />

para o planejamento da intervenção, como, por ex<strong>em</strong>plo, a reação maternal frente aos episódios de<br />

“molhadas” e as dificuldades no relacionamento com irmão.<br />

Neste sentido, identificou-se a necessidade de uma intervenção junto à família, focada nos<br />

comportamentos dos pais, especialmente os da mãe, a fim de orientá-los <strong>em</strong> relação a dois aspectos

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