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COMPORTAMENTO em foco - ABPMC

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Comportamento <strong>em</strong> Foco 1 | 2011<br />

Emerich . Rocha . Silvares<br />

170<br />

Caso clínico e discussão<br />

F. tinha dez anos quando seus pais procuraram o Projeto Enurese, grupo de atendimento/pesquisa<br />

do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo voltado para a queixa de enurese. F. só<br />

apresentava descontrole urinário à noite, com frequência de episódios de molhadas de cinco vezes<br />

por s<strong>em</strong>ana. Um dos procedimentos rotineiros para a inscrição de uma criança ou adolescente no<br />

Projeto Enurese é o preenchimento, pelos pais, do “Inventário dos Comportamentos de Crianças<br />

e Adolescentes de 6 a 18 anos”, versão brasileira do Child Behavior Checklist (CBCL/6-18). Este<br />

instrumento foi elaborado para que pais ou cuidadores forneçam uma apreciação global dos<br />

comportamentos de seus filhos, com idade entre seis e 18 anos.<br />

Ambos os pais de F. responderam a este inventário, e alcançaram um índice de correlação de 0,72,<br />

superior à média apontada para dois adultos respondentes do mesmo instrumento a respeito de uma<br />

mesma criança (Índice de correlação = 0,59). De acordo com as respostas de seus pais ao CBCL/6-18,<br />

F. apresentava diversas competências no relacionamento social, escolar e <strong>em</strong> atividades, o que fazia<br />

os escores dessas escalas situar<strong>em</strong>-se na faixa normal para meninos da mesma idade. Já os escores<br />

computados pelas respostas dos pais de F. para os itens de probl<strong>em</strong>as de comportamento caíram na<br />

faixa clínica do instrumento para a escala de Internalização, ou seja, F. precisaria de atenção clínica<br />

para estas dificuldades. É interessante destacar o relato da mãe na questão qualitativa do instrumento,<br />

que aborda a maior preocupação existente <strong>em</strong> relação ao seu filho: “A dificuldade que ele t<strong>em</strong> de<br />

expressar seus sentimentos. Ele nunca ou quase nunca fala sobre suas insatisfações, espera que todos<br />

adivinh<strong>em</strong> o que se passa” (sic).<br />

No primeiro encontro para triag<strong>em</strong>, F. compareceu acompanhado de seus pais que, <strong>em</strong> entrevista,<br />

d<strong>em</strong>onstraram ter muito interesse pelo atendimento com alarme de urina. Os pais relataram que F.<br />

nunca obtivera controle dos esfíncteres, diferent<strong>em</strong>ente do irmão gêmeo. Sobre a relação entre F. e o<br />

irmão, a mãe descreveu muitas brigas entre os dois filhos e atribuía esses conflitos à competitividade<br />

e ao perfeccionismo de F., que tinha muito ciúme do irmão gêmeo.<br />

Sobre as reações parentais frente aos episódios de “molhada”, os pais relataram que “anteriormente<br />

[reagiam] com broncas e, hoje <strong>em</strong> dia, com naturalidade” (sic). Em resposta à Escala de Tolerância,<br />

desenvolvida por Morgan e Young (1975), cujo objetivo é avaliar a tolerância/intolerância dos pais a<br />

partir de afirmações positivas ou negativas a 20 itens, a mãe obteve um escore de 1,275, o que indica<br />

tolerância à enurese. Em estudo com uma amostra de mães brasileiras de crianças com enurese<br />

observou-se que o ponto de corte para discriminar pais intolerantes seria 2,301 .<br />

Quando questionados sobre outros atendimentos para solucionar o probl<strong>em</strong>a, relataram que<br />

anteriormente haviam realizado tratamento medicamentoso com imipramina (antidepressivo) e que<br />

a medicação levou a uma melhora, mas não ao controle dos esfíncteres.<br />

Enquanto os pais estavam com outro terapeuta na sala de adultos, F. e o psicólogo clínico (a primeira<br />

autora) dirigiram-se à sala de atendimento infantil, onde fariam a rotina de avaliação. Durante o<br />

início do atendimento, F. mostrou-se tímido e evitava contato visual. Inicialmente foram apresentadas<br />

algumas escalas que avaliam questões relacionadas com a enurese e faz<strong>em</strong> parte do processo de<br />

triag<strong>em</strong> do Projeto Enurese. Um desses instrumentos é a Escala de Impacto, desenvolvida por Butler<br />

(1994), que consiste de 17 afirmações, como “Minha mãe t<strong>em</strong> roupa d<strong>em</strong>ais para lavar”, “Sinto-me<br />

diferente dos meus amigos” e “Meu pai ou minha mãe fica bravo(a) comigo”, e t<strong>em</strong> como objetivo<br />

avaliar o impacto psicológico e não-psicológico da enurese. Nesta escala, F. atingiu um escore de<br />

16 (escore 8 para o impacto psicológico e não-psicológico), que indica um impacto moderado do<br />

transtorno.<br />

1 Sousa, C., Emerich, D., Daibs, Y. & Silvares, E.. Maternal tolerance and nocturnal enuresis in a Brazilian sample. ISRN Urology (no<br />

prelo)

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