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COMPORTAMENTO em foco - ABPMC

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Comportamento <strong>em</strong> Foco 1 | 2011<br />

Castro . Mello . Bortoloti<br />

120<br />

Baixa auto-estima, perda da confiança, sérias dificuldades de aprendizag<strong>em</strong>, agressividade, agir<br />

desafiador, hiperatividade, distúrbios alimentares, sintomas depressivos, retraimento e <strong>em</strong>botamento,<br />

falta de habilidades sociais, são algumas das consequências <strong>em</strong> crianças <strong>em</strong> idade escolar, documentadas<br />

pela literatura (p.342).<br />

Uma possível interpretação do que tais efeitos geram são comportamentos de várias maneiras<br />

na comunidade: das pesquisas acadêmicas à indústria de r<strong>em</strong>édios psicotrópicos; da capacitação<br />

de profissionais a atendimentos primários, secundários e terciários às crianças. T<strong>em</strong>os um estado<br />

complexo de contingências ao ponto de se arriscar dizer o quanto as contingências envolvidas nos<br />

maus-tratos (incluindo o ASI) compõ<strong>em</strong> metacontingências que têm como produto agregado, de um<br />

lado, crianças vítimas comportando-se com os efeitos dos abusos e, de outro, crianças <strong>em</strong> meio às<br />

agruras da violência (Fergusson, Boden & Horwood, 2008; SUS, 2008).<br />

Em artigo que se propõe a analisar 50 anos de estudos sobre maus tratos físicos e sexuais, Teicher<br />

(2002) indica quanto é crítico para o desenvolvimento do cérebro e da pessoa tais modalidades de<br />

violência. Segundo o autor: “... como o abuso infantil ocorre durante o período formativo crítico <strong>em</strong><br />

que o cérebro está sendo esculpido pela experiência, o impacto do extr<strong>em</strong>o estresse pode deixar uma<br />

marca indelével <strong>em</strong> sua estrutura e função (p. 84).<br />

Um recado de Teicher fica também aqui como recado do quanto metacontingências de promoção<br />

e manutenção do ASI gera na sociedade como um todo:<br />

A sociedade colhe o que planta na medida como cuida de seus filhos. O estresse esculpe o cérebro<br />

para exibir variados comportamentos antissociais, <strong>em</strong>bora adaptativos. Se vêm <strong>em</strong> forma de trauma<br />

físico, <strong>em</strong>ocional ou sexual, ou por meio de exposição a guerras, fome ou pestilência, o estresse pode<br />

desencadear uma onda de mudanças hormonais que ligam permanent<strong>em</strong>ente o cérebro de uma criança<br />

para lidar com o mundo cruel. Por meio dessa cadeia de eventos, a violência e o abuso passam de<br />

geração <strong>em</strong> geração, tanto quanto de uma sociedade para a seguinte. A dura conclusão a que chegamos<br />

é que t<strong>em</strong>os a necessidade de fazer muito mais para assegurar que o abuso infantil n<strong>em</strong> venha a ocorrer,<br />

porque uma vez que essas alterações-chave ocorram no cérebro, pode não existir um caminho de volta<br />

(p. 89).<br />

Pod<strong>em</strong>os pensar que o fenômeno ASI para os que dele sobreviv<strong>em</strong> de modo resiliente pode ter<br />

uma função educativa, no sentido de que ensina o indivíduo a se proteger dos infortúnios da vida e<br />

enfrentar outros tipos de estresse, conforme indica Teicher na última passag<strong>em</strong>. Contudo, sozinha,<br />

a vítima do ASI dificilmente se esquivará das contingências que mantêm esse fenômeno. Uma<br />

comunidade sensível aos malefícios do ASI é tanto um indicador de proteção às vítimas <strong>em</strong> potencial<br />

e, portanto, pode evitar que o ASI ocorra, quanto uma ajuda no nível de prevenção secundária e<br />

terciária de modo a facilitar e otimizar caminhos e fluxos de atendimento. Ou seja, fazendo ocorrer<br />

de fato o que suger<strong>em</strong> propostas de atendimento de qualidade às vítimas (conforme orienta o<br />

documento da Associação Brasileira de Magistrados, Promotores e Defensores Públicos da Infância<br />

e da Juventude, 2010) e evitando os descaminhos da denúncia descritos por Faleiros (2003).<br />

Considerações Finais<br />

Um fator <strong>em</strong> comum indicado na análise das contingências envolvidas no controle populacional<br />

e de b<strong>em</strong>-estar animal, b<strong>em</strong> como nas contingências de promoção e combate ao ASI é a ação<br />

cooperativa. A esse respeito Skinner (1979/1990) diz:<br />

A despeito da dotação extraordinária genética da espécie humana, incluindo a capacidade de ser<br />

mudado muito rapidamente <strong>em</strong> contato com o meio, um indivíduo sozinho, s<strong>em</strong> a ajuda de<br />

outros, poderia, <strong>em</strong> uma vida adquirir apenas uma parte muito pequena do repertório exibido

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